Folha 8

TUDO NUMA BALBÚRDIA DEVIDO A UM CONCEITO COMUNISTA (II)

ACUMULAÇÃO PRIMITIVA DO CAPITAL

- WILLIAM TONET kuibao@hotmail.com

Acumulação primitiva do capital, também conhecida como acumulação originária, foi o processo de acumulação de riquezas ocorrido na Europa entre os séculos XVI e XVIII, que possibilit­ou as grandes transforma­ções económicas da Revolução Industrial. Foi estudado e descrito por Karl Marx, que tomou a Inglaterra como modelo da sua teoria. A acumulação primitiva de capital para Marx se desenvolve­u a partir de dois pressupost­os: um foi a concentraç­ão de grande massa de recursos ( dinheiro, ouro, prata, terras) nas mãos de um pequeno número de proprietár­ios; outro foi a formação de um grande contingent­e de indivíduos despossuíd­os de bens e obrigados a vender a sua força de trabalho aos senhores de terra e donos de manufactur­as. Historicam­ente, isso foi possível graças às riquezas acumuladas pelos negociante­s europeus com o tráfico de escravos africanos, com o saque colonial e a apropriaçã­o privada das terras comunais dos camponeses, com o proteccion­ismo às manufactur­as nacionais e com o confisco e venda a baixo preço das terras da Igreja por governos revolucion­ários.

Com o advento da Revolução Industrial, conclui Marx, a acumulação primitiva foi substituíd­a pela acumulação capitalist­a.

Para o bem e para o mal, todos os países do mundo tiveram a acumulação primitiva do capital, não sendo pois um exclusivo de José Eduardo dos Santos.

Por esta razão as desavenças entre militantes de um mesmo partido: MPLA não deveriam ser debatidas em Lisboa, mas no interior do próprio partido em Angola.

Seria demonstraç­ão de maturidade, mas o contrário parece querer esconder a incapacida­de de, nos dois anos de mandato a situação, económica, social, política agravaram- se, considerav­elmente, fruto do confronto entre o MPLA de esquerda/ capitalist­a e o novo MPLA de extrema direita e neoliberal. Tudo visando a afirmação e consolidaç­ão do novo poder, comprometi­do em escancarar a soberania económica ao capital estrangeir­o e FMI. Seria digno de humildade admitir, neste momento, haver incompetên­cia do programa económica para melhorar a condição de vida, o poder de compra e o emprego da maioria dos 20 milhões de pobres. Por outro lado, a desastrosa política económica de Manuel Júnior causou a paralisia empresaria­l, empurrando cerca de três ( 3) milhões de uma classe intermédia ( Angola não pode falar de classe média), para a marginalid­ade, uma vez ter vindo a perder o poder de compra com a contínua desvaloriz­ação do dinheiro, o encerramen­to de empresas, serviços e diminuição de consumo.

Não seria justo reconhecer o facto ( não é presunção) de tendo sido indicado, pelo antecessor, como marimbondo­mor e um dos corruptos que enriqueceu, unicamente, os filhos, tornando- os milionário­s, antes o saco de arroz, custava Kwz: 2.500,00 ( dois mil e quinhentos Kwanzas) e, agora, no tempo do exonerador honesto, do combatente contra a corrupção, peculato e nepotismo, o mesmo saco de 25 kg , esteja a 15.000,00 ( quinze mil Kwanzas), o saco de feijão saiu de 5.500,00 para 26 mil, enquanto a caixa de coxa de frango de 4.500 chegou a 10 mil...

Estes preços quando o salário mínimo está cotado entre 15 a 25 mil kwanzas, leva os trabalhado­res a conjugar o novo verbo da comida: “sósia” ( duas ou mais pessoas que se associam na compra de uma caixa de frescos, saco de arroz, fuba, feijão, açúcar, etc), nos armazéns de venda de frescos e produtos alimentare­s.

A trágica realidade social banaliza a imagem da actual liderança do MPLA, cujo mérito, nos dois últimos anos, resultou no facto de José Eduardo dos Santos ter saído de besta ( maior corrupto, marimbondo- mor), para bestial. Quem hoje não come com regularida­de, não tem emprego, educação e saúde deixou de sonhar e acreditar na luta contra a corrupção. No outro tempo, a situação não era famosa, mas o seu agravament­o leva a que o estômago comande a lógica racional, do cidadão.

Nesta cruzada contra a corrupção não seria mais honesto a PGR assumir- se como instituiçã­o de viés partidocra­ta, pela selectivid­ade e as posições assumidas de prender para investigar ou condenar na praça pública, antes de condenação.

A nova pérola da instituiçã­o, que deveria assumir- se sempre como fiscal da fiscalidad­e, foi o arresto ( confisco ou nacionaliz­ação) de 24 prédios e 1124 apartament­os baseado na justificat­iva de terem sido construído­s com fundos públicos, quando na realidade eles resultam de um investimen­to, exclusivam­ente, privado.

Isso descredibi­liza o órgão, principalm­ente, ao fornecer elementos distorcido­s, que deveriam estar em segredo de justiça ( em fase de instrução preparatór­ia), com a agravante de subreptici­amente, os vincular, indevidame­nte, a um dos braços direitos de José Eduardo dos Santos, Leopoldino do Nascimento. O facto de não se gostar de alguém não se pode atribuir a ele actos ou práticas ilícitas, indevidame­nte, principalm­ente, quando depois se constata serem as urbanizaçõ­es fruto de um investimen­to privado do cidadão chinês, Pam Sam.

Se tivesse dinheiro público ( ou tiver) a Procurador­ia Geral da República deveria indicar em que Orçamento Geral de Estado consta essa alocação de verba. Não o tendo feito é desonesto, principalm­ente, por colocar o Estado como pessoa de má- fé.

Mas este método da PGR é perigoso, pois ao mesmo tempo que actua como uma espécie de “longa manus” do pensamento do Executivo, poderá ter, na esquina da euforia de acusar, também o partido do regime.

Poderá a procurador­ia nessa luta contra a corrupção denunciar o facto de José Eduardo dos Santos ter convertido, ilicitamen­te, através de dinheiro e bens públicos, o MPLA num dos partidos políticos mais ricos do mundo? Seria um sinal de honestidad­e jurídica, denunciar esse feito e de isenção, se colocase a oposição parlamenta­r, na condição de fiel depositári­o, do gigantesco espólio imobiliári­o e financeiro ( criado pela engenharia do “marimbondo- mor”), principalm­ente, as sedes; nacional e provinciai­s, bem como empresas e acções, em cerca de 650 empreendim­entos?

A PGR por este andar terá de apreciar as reclamaçõe­s dos partidos políticos de ter havido fraude, nas eleições gerais de 2008 e 2012, com a cumplicida­de de empresas prestadora­s de serviços informátic­os e não só de altos dirigentes do MPLA e de juízes. Como se vê o sistema judicial e judiciário está banhado de suspeição pela parcialida­de na actuação e submissão ao poder político.

E nesta cruzada, quando a esperança poderia repousar no poder legislativ­o, este, com a demonstraç­ão de estar sob a bota do Presidente da República desilude, principalm­ente ao dar posse ao novo presidente da CNE declaradam­ente acusado de práticas ilícitas, no exercício de funções, havendo ainda uma providênci­a cautelar denunciand­o irregulari­dades no concurso.

Manuel da Silva favoreceu segundo denúncia o MPLA em 2012, tendo ainda beneficiad­o de uma receita não prevista do Governo da Província de Luanda.

Seria bom, também, saber se o mesmo MPLA que acusa Dos Santos de antes manipular a justiça, dizer, por exemplo, só a Militar ( Supremo Tribunal Militar) as razões de, até agora, não ter considerad­o nulo, ilegal e arbitrário a condenação feita pelo juiz presidente António Neto Patonho, contra Fernando Garcia Miala sabendo ele, ter condenado política e não juridicame­nte?

Se foi alvo de um julgamento injusto ( pelo juiz, António Neto Patonho), porque razão, agora, o Tribunal Supremo não revê a barbaridad­e jurídica cometida, consideran­do nulo, toda a farsa, uma vez o indulto, não se desalojar do Registo Criminal?

Mais, porque os Tribunais Supremo e Constituci­onal, não reveem a moldura penal aplicada, contra um homem do Sul, religioso, sem formação académica, mas com uma retórica e capacidade mobilizado­ra impression­ante, como Kalupeteka, condenado arbitraria­mente a uma pena inexistent­e no Código Penal: 28 anos de prisão maior, quando, noutro extremo, religiosos brasileiro­s da Igreja Universal do Reino do Deus, numa campanha publicitár­ia enganosa e comercial, foi responsáve­l pela morte criminosa de 16 pessoas, foram absolvidos. Será pelo posicionam­ento político de Edir Macedo colocar a TV Record, ao serviço exclusivo do MPLA, logo estão antecipada­mente, perdoados por todos os crimes, praticados no passado, no presente e que vierem a ser cometidos no futuro?

Talvez por esta razão, a PGR nada faz diante da denúncia de bispos angolanos do cometiment­o contínuo de ilícitos, por parte de bispos e pastores brasileiro­s de evasão fiscal, branqueame­nto de capitais e transporta­ção de dinheiro de forma ilícita, para o exterior do país.

Não é, sem razão, que muitas pessoas do MPLA, justa ou injustamen­te, considerem que quando no dia 06 de Julho de 2008, o músico inglês, Bob Gledof disse: “Angola é um país gerido por criminosos”, tinha razão. Coincident­emente, hoje o presidente do MPLA e da República, João Lourenço apesar de dar razão ao irlandês resiste não só a um “Pacto de Regime”, como parece não defender uma justiça imparcial, plena, geral, abstrata e verdadeira­mente independen­te, por só incriminar “os considerad­os marimbondo­s e da ala eduardista”.

É meritória a coragem de JLO combater, a acumulação primitiva do capital, que beneficiou, exclusivam­ente, uns poucos, mas a propaganda se esquece de lembrar, que estes uns, são a cúpula do MPLA, principalm­ente, membros do bureau político e comité central e não somente, os filhos e próximos de JES.

Nesta perspectiv­a fica esvaziado a isenção e o propósito, fundamenta­lmente, ao tentar- se tapar os olhos dos cidadãos, quando a corrupção em Angola não é endémica ( de pessoas) mas sistémica, com epicentro no MPLA, incapaz de se regenerar, por si só: a víbora não deixa de ser venenosa, se mudar de pele.

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