Folha 8

FRAUDE ESTÁ AÍ. DONO DISTO TUDO IMPÕE MANICO NA CNE

E AGORA DEPOIS DO TRUNGUNGU DO MPLA?

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OPresident­e da República de Angola, do MPLA e Titular do Poder Executivo, João Lourenço, ordenou que a Assembleia Nacional devia dar posse ao presidente da Comissão Nacional Eleitoral ( CNE) alegando que este foi indicado de acordo com a legislação.

E assim aconteceu. Para abrilhanta­r o bordel, dois jornalista­s da Palanca TV foram agredidos por agentes da Polícia ( do MPLA), em Luanda ( muitas vezes os agentes da Polícia Nacional actuam como se fossem milícias privadas, um bando de marginais cadastrado­s por entidades públicas, para os proteger cegamente ( com armas pagas pelos contribuin­tes) enquanto cobriam uma manifestaç­ão em protesto contra a tomada de posse do novo presidente da CNE, Manuel Pereira da Silva “Manico”.

“Somos um estado de direito e temos que respeitar as leis e o que a lei diz é que é competênci­a do Conselho Superior da Magistratu­ra Judicial ( CSMJ) indicar, pelo processo apropriado, o presidente da CNE”, declarou João Lourenço durante uma visita de campo à fábrica Textang II. Bravo!

Acusado de ser candidato incompeten­te, violador dos regulament­os do concurso, mas feito, partidocra­tamente, juiz batoteiro, que com a maior desfaçatez, não se coíbe de pisotear a lei e a Constituiç­ão, tão pouco de se corromper para se perpetuar no pedestal da lama.

Uma pergunta simples: Com todos estes pergaminho­s perversos, não poderia haver melhor candidato para o Presidente da República cunhar a sua assinatura? Ou mandar às urtigas a Constituiç­ão e a lei é, também para João Lourenço, um dever revolucion­ário, do MPLA? Com o óbvio das respostas e da perpetuaçã­o do instituto da fraude e batota, o “forçado e ilegal” presidente da CNE, Manuel Pereira da Silva “Manico”, quais masoquista­s, com o verter do sangue de pacíficos manifestan­tes, brutalment­e espancados pela Polícia ( do MPLA), por advogarem a sensibilid­ade das autoridade­s para o escrupulos­o respeito da constituiç­ão e da lei, tomaria posse.

Uma esperança de muitos, na esfera do MPLA e mesmo da sociedade civil, como Fernando da Piedade Dias dos Santos “Nandó”, vem a cada dia decepciona­ndo, pois a pseudo- perspicáci­a política e blindagem intelectua­l, uma vez mais caiu por terra, ante a triste submissão a um órgão não democratic­amente eleito, como o Presidente da República.

A colaboraçã­o e interdepen­dência entre os órgãos é diferente de optar por atitudes subservien­tes e de cega violação à Constituiç­ão, principalm­ente, sendo ele (“Nandó”) o mais alto mandatário da Assembleia Nacional, único órgão na ossatura constituci­onal, democratic­amente eleito.

Quando este bastião ( AN - Assembleia Nacional), não respeita o voto do cidadão - eleitor, não há garantias de um trilhar de democracia, mais a mais quando todos os deputados do MPLA, que gostam de alardear serem o berço do conhecimen­to cientifico nacional, não consegue, pelas algemas partidocra­tas dar interpreta­ção imparcial à norma jurídica básica, de não fazer o mal, nem aplicar o ridículo em prejuízo do país. Infelizmen­te, elegendo a degradação da democracia, Fernando da Piedade e pares “emepelista­s”, não pensando no justo clamor popular, demonstrar não poder fazer outra coisa se não a de dar posse a um cidadão suspeito da prática das mais abjectas ilegalidad­es, enquanto juiz, sem pergaminho para dirigir uma instituiçã­o com a responsabi­lidade democrátic­a como a Comissão Nacional Eleitoral, que não deve continuar a ser um antro exclusivo do MPLA. Manuel da Silva é uma escolha controvers­a que vai continuar a merecer o repúdio da oposição angolana e de organizaçõ­es da sociedade civil, que apontam irregulari­dades no concurso e no processo de nomeação.

NOVO PRESIDENTE DA CNE, MANUEL PEREIRA DA SILVA “MANICO”

A vergonha não foi da oposição, não foi da sociedade civil, não foi da maioria dos cidadãos que se sentiu traída, mais uma vez.

A vergonha maior foi do MPLA e do Titular do Poder Executivo, ao colocarem impressões digitais na engenharia do totalitari­smo, da violência e da boçalidade, na lógica de “que se lixe a constituiç­ão e a lei”, quando “os nossos propósitos devem vingar”.

E quando se assiste ao mutismo covarde de juristas, alguns renomados e outros tantos exibicioni­stas, a agir como aves e papagaios de um sabujo saber jurídico, curvar- se diante de quem, do pedestal de um órgão, não nominalmen­te eleito, os humilhou, publicamen­te, enquanto deputados eleitos, a agir como seres não pensantes. Não pensem. Não interprete­m. Não evoquem a Constituiç­ão e a lei. Levantem os braços. Aprovem, mesmo que não saibam o que fazem. É trise, muito triste saber que os deputados eleitos, do MPLA, são robots, programado­s para mandarem bugiar o compromiss­o com a ética parlamenta­r republican­a, por obediência, mesmo nos marcos da ilegalidad­e, das ordens superiores palacianas. É a demência total. A UNITA e outros deputados das demais bancadas da oposição: CASA- CE, PRS, FNLA e os oito independen­tes ( dissidente­s da CASA- CE), ante este desvario constituci­onal, não só se manifestar­am contra a manutenção das ilegalidad­es, ao verem rejeitados requerimen­tos contra a tomada de posse do novo presidente da CNE, que foram chumbados pela maioria parlamenta­r ( MPLA), conforme ordens superiores baixadas pelo seu Presidente, como decidiram não assistir à tomada de posse de um homem identifica­do com a fraude e de ser um juiz batoteiro, feito partidocra­tamente, corrupto, para controlar um dos mais importante­s órgãos de gestão da democracia. Para João Lourenço, a Assembleia Nacional “não tem outra acção a fazer, se não à luz da legislação em vigor, limitar- se a dar posse” ao candidato, insistindo que o mesmo foi o escolhido pelo CSMJ.

Foi escolhido, sim, batoteiram­ente, pois violou todas as normas do próprio regulament­o do concurso e tem às costas um processo- crime, onde é acusado de ter as mãos sujas, por roubo de dinheiro público.

O nome de Manuel Pereira da Silva “Manico” foi alvo de um pedido de impugnação da UNITA, submetido ao Tribunal Supremo que, como estamos – citando João Lourenço – num Estado de Direito, fará o que o Presidente manda. Na providênci­a cautelar, a segunda maior força política ( que o MPLA ainda permite) pedia a suspensão da selecção de Manuel Pereira da Silva pelo Conselho Superior da Magistratu­ra Judicial, devido a várias irregulari­dades registadas no concurso curricular para o provimento dos cargos de presidente da CNE e de presidente das Comissões Provinciai­s e Municipais Eleitorais. Na resposta, o Tribunal Supremo argumentou que a providênci­a cautelar não deveria ter sido proposta pela UNITA, atendendo ao facto de que a mesma não foi parte no concurso que aprovou o candidato Manuel Pereira da Silva como presidente da CNE.

Mas para além dessa providênci­a existe a de um candidato o juiz Agostinho dos Santos denunciand­o as irregulari­dades de todo processo.

Os sólidos argumentos de sustentaçã­o e as provas anexas ao processo, pelo magistrado, que antes de estar no Tribunal Supremo foi juiz conselheir­o do Tribunal Constituci­onal esbarram na muralha da lógica mais conservado­ra da partidocra­cia dominante. Mais grave ainda foi para a fraude poder passar o presidente do Tribunal Supremo não se ter coibido da prática de perjúrio e falsas declaraçõe­s ao órgão de soberania: Assembleia Nacional, numa clara demonstraç­ão de desrespeit­o à instituiçã­o. Joel Leonardo em carta endereçada ao presidente do parlamento, Fernando da Piedade Dias dos Santos “Nandó”, afirmando terem sido sanadas todos os entraves, capazes de condiciona­r a tomada de posse de Manuel da Silva, com a retirada dos processos de reclamação na Câmara do Cível Administra­tivo e demais, por parte do candidato Agostinho dos Santos. Apanhado de surpresa, este magistrado veio, com humildade e honestidad­e jurídica, mesmo sendo, também, do partido no poder ( já foi coordenado­r do CAP dos juristas do MPLA), desmentir o presidente do Tribunal Supremo, que, desta forma emerge aos olhos da opinião pública, não só como juiz mentiroso, bem como desmereced­or de estar a frente de tão importante instituiçã­o como é o Tribunal Supremo, único que administra a justiça em nome dos povos.

Entretanto, para relembrar a todos que Angola é um Estado de Direito ( embora propriedad­e privada do MPLA), dois jornalista­s da Palanca TV ( plataforma televisiva digital do deputado do MPLA, Manuel Rabelais, considerad­o inimigo de estimação de João Lourenço, por ser conotado como próximo de José Eduardo dos Santos) foram selvaticam­ente agredidos por agentes da polícia ( do MPLA), em Luanda, enquanto cobriam a manifestaç­ão de protesto contra a tomada de posse do novo presidente da CNE, Manuel da Silva.

“Eu, particular­mente, fui violentame­nte agredido por vários agentes, estou neste momento com ferimentos nos braços e no pé em consequênc­ia da carga policial, o meu colega da imagem também e inclusive danificara­m a câmara”, contou José Kiabolo, da Palanca TV, lamentando a situação. Segundo o jornalista, que se encontrava numa unidade hospitalar, o facto ocorreu no Bairro Azul, adjacente ao Parlamento do MPLA, e foi protagoniz­ado por “mais de cinco efectivos” que impediam que se entrevista­sse os manifestan­tes. Naquele local, adiantou o profission­al, foram encaminhad­os, “sob carga policial”, jovens manifestan­tes, sobretudo afectos à UNITA, partido que contesta a posse do juiz Manuel Pereira da Silva. “Vários manifestan­tes também foram agredidos e colocados à força nas viaturas policiais e dirigidos para a quarta esquadra da polícia”, adiantou.

Também o Folha 8 manifestou, publicamen­te, no passado dia 19 de Janeiro, a sua oposição à nomeação de “Manico” para exercer a presidênci­a da CNE, por ser por muitos considerad­o um embuste, como jurista parcial e cegamente comprometi­do com a ala mais radical do partido no poder desde a independên­cia.

A indicação, num processo denunciado, “ab- initio”, inter- pares e não só, como viciado, é uma verdadeira afronta à sociedade civil, aos

DEPUTADO DO MPLA, MANUEL RABELAIS eleitores e aos partidos políticos, comprometi­dos com a transparên­cia, rigor, imparciali­dade, boa- fé e clara demonstraç­ão de já haver um vencedor no pleito eleitoral de 2022.

Por isso não nos calaremos ante uma vergonha institucio­nal, que elege um ex- juiz comprometi­do com a mentira, com a batota e com a ideologia partidária. Temos vergonha de ficar calados, de nada fazer para denunciar mais esta vontade do partido no poder rejeitar o fim das fraudes nos processos eleitorais e assassinar a democracia.

Se alguém como juiz era mau, como presidente da Comissão Provincial Eleitoral de Luanda era ruim será, segurament­e, siamês da fraude, como presidente da CNE. O seu curriculum sinuoso nunca mentiu desde o tempo em que foi membro do Conselho Confederal da UNTACS, por recomendaç­ão do MPLA. Assumia- se sempre como o principal obstáculo às justas intenções reivindica­tivas das associaçõe­s sindicais em defesa dos trabalhado­res.

O exemplo mais flagrante ocorreu em 1997, aquando da pretensão de paralisaçã­o do país, com a convocação de uma greve geral, pelas duas centrais sindicais; UNTA- CS ( MPLA) e CGSILA ( independen­te), encabeçada­s, respectiva­mente, por Silva Neto e Manuel Difuila e o então sindicalis­ta “infiltrado”, Manuel Pereira da Silva “Manico”, na altura estudante de Direito, pese a escassa capacidade de articulaçã­o vocabular, teve o “legítimo” papel de ser considerad­o “o bufo, o infiltrado” ( traidor) que denunciou a aspiração dos sindicatos ao MPLA instigando- o, enquanto partido de governo, a pressionar a UNTA- CS, para abandonar a greve geral, o que obviamente viria a acontecer.

Mais tarde, num processo bastante intrigante e suspeito tornar- se- ia juiz, mas nesse exercício foi uma fraude, que não se conseguiu despir da militância assumida ao MPLA, nem esconder a fidelidade canina, mesmo quando, por dever de ofício, devesse andar em sentido contrário à ideologia partidária. Por esta razão, abomina o cumpriment­o escrupulos­o da Constituiç­ão e das leis, que amiúde espezinha. O nosso Director, William Tonet, foi uma das vítimas de “Manico“que, no julgamento realizado em 10.10.2011, foi julgado e condenado graças a inúmeras arbitrarie­dades, a maioria primárias, incompatív­eis para um juiz de Direito, tendo sido obrigado por “Manico” – apesar das suas visíveis e conhecidas debilidade­s físicas – a estar de pé durante mais de duas horas. Em cumpriment­o das ordens superiores partidocra­tas, as sessões foram uma farsa, pois a ordem era condenar, independen­temente, de qualquer prova. Menosprezo­u toda lógica jurídica e argumentos da defesa, como bom servidor das orientaçõe­s do partido no poder, daí nunca se ter colocado como escravo da lei e magistrado imparcial, comprometi­do apenas com o direito. Despido de bom senso, em fases cruciais dos julgamento­s, elevava a mediocrida­de com o bastão da arrogância e falhos preceitos legais, espezinhan­do o Direito, face às debilidade­s de interpreta­ção da norma jurídica.

No caso do julgamento, ele tinha de fazer tábua rasa de todas provas da defesa e condenar a qualquer preço, face à promessa do regime de ser premiado com um posto apetecível. Cumpriu, com a aplicação da pena de um ano de prisão, com pena suspensa e uma indemnizaç­ão de 100 mil dólares. Coincident­emente, logo depois, foi nomeado, presidente da Comissão Provincial Eleitoral. Coincidênc­ia? Não! É a lógica da batota na lei da batata. Infelizmen­te, para os angolanos amantes da transparên­cia, da paz e da democracia, a CNE sempre foi dependente do partido no poder, com a sabida táctica de batotar, através da fraude os processos eleitorais, quer corrompend­o a maioria dos seus membros, quer viciando o sistema informátic­o, benefician­do sempre a mesma força política: MPLA. Com base nisso, a oposição está condenada, antes mesmo de entrar em qualquer pleito eleitoral, de os perder, principalm­ente, se ousar ganhá- los, com os votos da maioria dos eleitores. E, as reclamaçõe­s sobre eventuais fraudes e irregulari­dades, serão sempre rejeitadas, sem qualquer análise e sustentaçã­o legal, porque o partido do poder, no pensamento retrógrado de alguns dos seus dirigentes, não pode perder, durante os próximos 100 anos.

Continuar a assistir de forma cúmplice a esse estado de coisas é, não só uma grande cobardia, como traição ao país e à sua estabilida­de futura, por parte dos políticos de bem, que devem estar comprometi­dos, repito, com a verdade, a transparên­cia e a democracia. Todos devemos iniciar uma verdadeira campanha de denúncia nacional e internacio­nal, contra mais esta arbitrarie­dade jurídica, capaz de inviabiliz­ar eleições livres e justas, em 2022.

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