Folha 8

MPLA DE CÓCORAS E À ESPERA DE FIADO

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Um empresário norte- americano que financiou e apostou fortemente na campanha de Donald Trump para a Presidênci­a dos EUA usou a sua aproximaçã­o com o novo inquilino da Casa Branca para fazer negócios com Angola em troca de vantagens para o país e seus dirigentes. João Lourenço foi citado em investigaç­ão, segundo o jornal The New York Times. O jornal The New York Times, na sua edição de 25 de Março de 2018, relata como Elliot Broidy tenta “caçar” negócios usando a sua aproximaçã­o a Trump.

Além de outros casos citados, o jornal escreveu que, “numa carta datada de 3 de Janeiro de 2017 e enviada por email a oficiais de topo do Governo angolano, Elliot Broidy indicava que procedia ao envio de um convite para as celebraçõe­s da posse do Presidente Trump, bem como uma proposta para a Circinus ( empresa de que é dono) prestar serviços de segurança em Angola”.

João Lourenço, na altura ministro da Defesa mas já candidato presidenci­al do MPLA, terá recebido uma carta mais tarde de Elliot Broidy a pedir uma resposta até 9 de Janeiro daquele ano, já com o documento assinado de um acordo de 64 milhões de dólares e válido por cinco anos.

O jornal acrescenta­va que três dias antes da posse de Donald Trump, a 17 de Janeiro, “os angolanos efectuaram um pagamento de seis milhões de dólares à Circinus”, mas, ainda segundo o The New York Times, citando fontes próximas de Elliot Broidy, o pagamento terá ficado aquém do combinado. Ainda de acordo com o jornal norte- americano, João Lourenço terá sido inclusivam­ente convidado para o resort de Donald Trump em Mar- a- Lago ( ou Casa Branca de Inverno, um dos locais de eleição de Trump desde que tomou posse), na Flórida, mas o agora Presidente angolano nunca respondeu. Depois da posse de Donald Trump, o empresário de Los Angeles, que apoiou o précandida­to republican­o Ted Cruz até que este desistiu da corrida à Casa Branca, ofereceu- se na altura para conseguir encontros entre João Lourenço, ainda ministro da Defesa, com autoridade­s americanas.

“Vários preparativ­os foram feitos para receber a sua visita, incluindo reuniões adicionais no Capitólio ( Congresso) e no Departamen­to de Tesouro”, escreveu Elliot Broidy num dos emails, enquanto noutro pedia “por favor, processem o pagamento imediatame­nte”.

Mais tarde, depois da posse de João Lourenço como Presidente de Angola, o apoiante de Donald Trump voltou a disponibil­izar- se para promover uma maior aproximaçã­o entre os dois países, prometendo, inclusive, encontros com o Presidente e o vice- presidente­s americanos. João Lourenço, ainda de acordo com o jornal, não respondeu às propostas nem o Governo de Angola fez qualquer pagamento adicional.

O The New York Times descreveu Elliot Broidy como um empresário que tem usado a sua aproximaçã­o ao Presidente americano para atrair políticos, na sua maioria de países com um elevado nível de corrupção e de falta de transparên­cia, que depois usam fotos e pequenos apertos de mãos com Donald Trump para ganhos políticos nos seus países.

Os jornais norte- americanos The New York Times e The Wall Street Journal publicaram no dia 22 de Agosto de 2017, véspera das eleições angolanas, reportagen­s que abordam a corrupção em Angola, que “coloniza” Portugal para lavar dinheiro.

“O colonizado­r passou a colonizado”, lê- se na reportagem do The New York Times, intitulada “Portugal dominou Angola durante anos. Agora os papéis inverteram- se”. A extensa peça começa em Cascais, no Estoril Sol Residence, luxuoso bloco de apartament­os na marginal que atraiu a elite angolana – segundo o jornal, o prédio já é conhecido como “o prédio dos angolanos”.

Um dos proprietár­ios da luxuosa Estoril Sol Residence mencionado­s pelo The New York Times é o ex- vice- presidente de Angola, Manuel Vicente, que terá pago cerca de 2,8 milhões de dólares pelo 9 º andar com vista para o mar. Lembre- se que Manuel Vicente é suspeito de ter corrompido o procurador Orlando Figueira para que arquivasse dois inquéritos, um deles o caso Portmill, relacionad­o com a alegada aquisição deste imóvel de luxo no Estoril. De caso em caso, o jornal norte- americano vai sustentand­o a existência de uma elite angolana, que acumulou fortunas e que está a lavar dinheiro em Portugal. Entre os exemplos dados pelo The New York Times, também constava o de Isabel dos Santos, filha do ex- presidente de Angola e ( ainda) presidente do MPLA, que foca a sua actividade num escritório discreto de localizado ao lado da Louis Vuitton da Avenida da Liberdade, em Portugal. “Isabel dos Santos tornou- se uma das figuras mais poderosas de Portugal, ao comprar posições importante­s na banca, nos media e no sector da energia”, escreveu o diário. Já o The Wall Street Journal, que focou o seu artigo na Operação Fizz, considerav­a que se criaram condições perfeitas em Portugal para a lavagem de dinheiro angolano. Ao ficar rica em petróleo, Angola beneficiou do boom do ouro negro, enriquecen­do a liderança de José Eduardo dos Santos. Os angolanos passaram a poder comprar o que os portuguese­s, que sofriam de uma crise financeira, não eram capazes de adquirir. O “poderio” da elite angolana e a “permissivi­dade” portuguesa foram a tempestade perfeita para a corrupção em Angola: “Os portuguese­s sabem como os angolanos são proeminent­es a alegadamen­te afunilarem milhões de dólares em imóveis de luxo, apesar dos cidadãos angolanos serem dos mais pobres do mundo”. “Angola está frequentem­ente no topo dos países mais corruptos do mundo e Portugal destacado pela sua permissivi­dade no combate ao branqueame­nto de capitais e à corrupção, particular­mente em relação aos angolanos, de acordo com a Organizaçã­o para a Cooperação e Desenvolvi­mento Económico”, escreveu o diário norte- americano.

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