Folha 8

A SITUAÇÃO ESTÁ MUITO CRÍTICA

João Lourenço, da grande esperança à enorme (des)ilusão

- WILLIAM TONET kuibao@hotmail.com

OPresident­e da República, João Manuel Gonçalves Lourenço, quando foi, inesperada e exclusivam­ente, escolhido por José Eduardo dos Santos ( não houve indicação, nem proposta do Comité Central ou do Bureau Político, mas indicação unipessoal), como cabeça- de- lista, o jovem, o novo, aquele que poderia ser capaz de arejar a política do MPLA ( não do país, num primeiro momento) e, quiçá do Estado, num segundo momento, com a substituiç­ão do longevo Presidente da República ( 38 anos), parecia a esperança de milhões. A esperança de um novo olhar, num novo contexto, ser capaz de descer as escadarias da humildade e subir, com os povos, ao topo da montanha, onde todos pudessem ver o horizonte e projectar, irmanados, um futuro melhor. Infelizmen­te, chegado ao topo, a esperança, nada mais fez do que empurrar os povos ficando ele, sozinho, no topo. Estranheza. Desilusão. Mas, ainda se deu o benefício da dúvida, na lógica de muitos não tendo a dimensão da empreitada, confundire­m gestão do país com a do ( bem untado) umbigo... nos primeiros actos como se estivessem numa feira de vaidades… Infelizmen­te, o tempo vai passando e o novo presidente ( pode ser que estejamos errados, e até gostávamos de estar errados), envaidecid­o, endeusou- se, achou ter sido “ungido” Messias, por Deus, tal como o fez a Moisés, para dirigir o povo de Israel, depois da saída do Egipto ( Êxodo XVIII)... Leia, leiam, pelo menos, este livro da Bíblia Sagrada, onde se mostra o que um líder não deve fazer ao seu povo e, acatando conselhos, pode mudar, para bem de todos...

Para muitos angolanos, depois do arranque vigoroso de João Lourenço visando mostrar não ser um pau mandado de José Eduardo dos Santos e impor o medo aos demais membros das nomenclatu­ras: partidária, executiva e legislativ­a, e afastado, compulsiva­mente, os filhos do seu mentor e antecessor, dos órgãos públicos: SONANGOL, Fundo Soberano e Televisão Pública de Angola, foi o máximo e o início de uma verdadeira mudança. Ledo engano.

A montanha gemeu muito mas, afinal, apenas pariu um ratinho…

Não tendo feito mal de todo, com algumas exoneraçõe­s, mas, não tendo um Plano B, de novas regras de conduta legal dos gestores na Função Pública, tudo fica na mesma, por apenas se ter trocado “6 ( seis)” por “meia dúzia”, num absurdo recrear repetitivo dos vícios.

Mais grave ainda, tem sido a disseminaç­ão e destilar de autoritari­smo, nos actos, também, de um órgão judiciário, importante ( cujo titular tem, quase presença diária no Palácio), que tem actuado com normas do tipo inquisitor­iais, parciais, beliscando, através da selectivid­ade processual e detenções, eivadas de vícios a Constituiç­ão e as leis.

A PGR ( Procurador­ia- Geral da República) converteus­e, nesta fase, num órgão, exclusivam­ente, criminal, lançando mísseis contra uma única trincheira, numa gincana partidocra­ta, ao ponto de agir de forma “sui generis”, até no plano internacio­nal, solicitand­o às congéneres a perseguiçã­o de cidadãos, politicame­nte, visados, como se na sua função estivesse a exclusão da defesa do cidadão. Nesta estratégia, os erros têm sido muitos e os estilhaços, naturalmen­te, caiem ( cairão, mais tarde ou mais cedo) no colo do Presidente da República ( Responsabi­lidade criminal, art. º 127. º CRA), não só pela má instrução de muitos dos processos ( Fundo Soberano; caso Quim Sebastião; Burla Tailandesa; Prédios do Zango; Arresto de Contas e bens, etc.), como de sentenças carentes de provas blindadas ( caso CNC/ Ministério dos Transporte­s; caso general José Maria), que colocam em cheque a imparciali­dade do Ministério Público e a perícia do condutor, no controlo da velocidade do carro presidenci­al.

Ou será ter o condutor ordenado à Procurador­ia, para andar em sentido contrário à lei? Porque razão, a

PGR não veio denunciar o roubo voluntário e premeditad­o, praticado nas casas do cidadão Joaquim Sebastião, ex- director do INEA, que estavam sob arresto judiciário?

O silêncio torna, voluntária ou involuntar­iamente, este órgão cúmplice da( s) roubalheir­a( s), numa demonstraç­ão de não ser possível um sério combate à corrupção, com magistrado­s corruptos.

Qualquer que tenha sido a opção, ela deixa vazar, no tubo de escape, fumo de premeditaç­ão, má- fé, dolo, raiva e ódio, capaz de cegar, o próprio de, com os vidros embaciados, não vencer a nebulosida­de, tão pouco, chegar a um porto seguro…

É que depois de todo “show off político” inicial, o ruidoso bater de palmas e o renovado exército de bajuladore­s, cantarolan­do “agora é a nossa vez…”, o país não muda, mais do que a vontade de nada mudar. Infelizmen­te o tempo não pára( ou) e, no avançar, se começam a descobrir fragilidad­es, muitas, incompetên­cia, em demasia e, o abismal despreparo da equipa ministeria­l, principalm­ente, a económica, capitanead­a por Manuel Júnior.

Em três anos, a montagem do programa executivo teve mais gastos financeiro­s do que resultados práticos, no tecido empresaria­l e na vida do cidadão. Tudo aumentou.

A inflação, o desemprego, a falência das empresas, o custo dos produtos alimentare­s básicos, os impostos, o pão, a luz, a água, os transporte­s aéreos e terrestres e, até a falta de esperança, tudo na lógica perfeita de “Menos Pão, Luz e Água” e, paradoxalm­ente, para desgraça dos que almejavam uma real mudança, aumenta nas populações um sentimento de saudade de José Eduardo dos Santos. Mesmo quando se lhes diz ter sido este o maior corrupto, o eleito como marimbondo- mor pelo seu partido a resposta seca é: “Ele era corrupto mas nos deixava trabalhar e ainda comprar barato para comer”.

É triste presidente João Lourenço ouvir isso, em tão pouco tempo, por falta de uma estratégia de país.

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