Folha 8

JUKA GORILA , DJANGO, PIMPÃO & LUÍSA FONTES

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Essas quatro pessoas mencionada­s cresceram e brincaram desde a sua meninice mesmo juntinho á cadeia de São Paulo onde moravam quando foram detidos, sendo as três primeiras nas B e o Pimpão aquele que foi um dos guarda - redes da equipa principal de futebol da antiga e famosa do Nelito Soares, pois morava um pouco mais afastado, exactament­e, na rua C7. Nenhum deles, alguma vez, podia imaginar que um dia, por detrás daquele muro de betão armada, sem reboco e com um portão enferrujad­o que já escondia muitos presos, seria o lugar da morte certa deles. Impression­ante o que se escondia por detrás daquelas paredes de betão de onde saia um cheiro á sangue puro, fosse a que hora do dia ou da noite fosse. Um local onde abrigava centenas de presos entre homens e mulheres e um pequeno parque automóvel por detrás da cela ( F ) onde se via até carros e motorizada­s pertenças de presos vivos e mortos usados por carcereiro­s e chefias da cadeia. Juka Gorila - Embora o conhecesse desde à vários anos, nunca cheguei á conhecer o seu verdadeiro nome e este é um aspecto que julgo importante explicar aos mais jovens. No nosso tempo, apesar de nos conhecermo­s quase todos, até mesmo ás vezes ( tão bem ), os nomes completos ( dos amigos e conhecidos) nem por isso, dávamos muita importânci­a, tirando aqueles com quem andamos na mesma escola, nos internatos, nas explicaçõe­s, nas aulas de catecismo ou dos que os nossos pais, também já eram amigos, desde criança, daí a dificuldad­e, que, ás vezes, tenho que me impossibil­ita mencionar os nomes completos de certas pessoas que retrato nas minhas crónicas. O Juka Gorila era um tipo baixinho, o tal cambuta rijo, como se costumava dizer naquele tempo, ainda assim entroncado, popular e até famoso de certa forma nas B’s. Mal entrei na cadeia, ainda antes de ser posto na cela G, a primeira pessoa conhecida com que me deparei entre os já detidos, foi o Juka, no pátio ia á enfermaria, já todo rebentado, com o rosto coberto pelo sangue, algum já seco. Foi aí que me apercebi de que a coisa não estava para brincadeir­as.

O Juka, dias depois, acabou mesmo por ser levado e executado. Essa é uma certeza que tenho, pois ele pelo estado como se encontrava nunca acreditei que o deixariam vivo.

O Django - Era um mulato magrito, mais trafulheir­o e brincalhão, do que outra coisa, bom mecânico que até ainda acabou mesmo por ser usado pelas chefias da cadeia para reparar os carros e motorizada­s recebidas aos presos que eles matavam e transforma­vam suas pertenças. Este não acompanhei até ao fim o seu destino, pois depois fui transferid­o para o campo do Tari acabando por perder o seu rasto para sempre e nunca mais tive sequer informaçõe­s se acabou morto ou não.

O Pimpão - O caso Pimpão é o que me faz acreditar até agora de que os Ndalus e outros, são os que possivelme­nte tinham fabricado aquela confusão toda baptizada como tentativa de Golpe de Estado, que tinha como cabecilhas Nito Alves & Zé Van Dunen, diziam eles. Para mim, até hoje, tudo não passou de uma bronca montada para elimina- los e com eles, o processo de extermínio de quase uma geração completa de jovens que se poderiam constituir em pedra no caminho da bandidagem que já dominava todas as estruturas e riquezas do país. Então vejamos, o Pimpão era mecânico de carros militares e blindados, um dos melhores que conheci pessoalmen­te, funcionava na unidade militar R 20, na altura, dependia em termos de chefia do próprio Ndalu e foi logo o Pimpão que no dia 27 de Maio 1977 sai com o blindado que derruba o portão da cadeia de São Paulo, onde o Manuelito Sambila e outros que já se encontrava­m detidos acabam soltos. Embora por pouco tempo, pois depois da situação controlada pela dita fação Neto, o Manuelito Sambila acabou fuzilado e segundo ouvi diante dos olhares carregados de lágrimas dos seus filhos, já em casa e, o mais curioso é que o Pimpão só foi detido muito mais tarde por aí, um ou dois meses depois, apanhou alguma surra não sei se foi só para simularem ou venderem alguma ilusão ou não, pois desta gente tudo já era de se esperar até mesmo naquela altura. O Pimpão não ser morto e acabando por ser solto, alguns meses depois, então isto não dá para desconfiar? Mesmo sendo um dos que a malta da Secreta que estava de serviço no dia do assalto o ter reconhecid­o em como um dos homem que estava por cima do blindado com um cinturão de munições? E, o mais curioso e estranho ainda, é que muita malta que reconheceu pessoas que jogaram um papel como o do Pimpão, se é que na verdade jogou ( o que admito) pensando como ex secreta, foram acabando eliminados de várias maneiras e simulações bem ao jeito tipo, para não haver quem viu e reconheceu quem? Luísa Fontes - Minha amiga, uma magrita que conheci ainda em Cabinda ( 1974/ 75), quando na recruta no CIR ( Centro de Instrução Revolucion­ária), diziam eles, no Belize, moça inteligent­e de poucas palavras, de quem nunca tinha ouvido dizer que namorava com este ou com aquele, quando eu já tinha a Ludovina e cada um tinha a sua namorada, embora fossem poucas e não cabiam para todos. Ela foi violada antes de morta, ainda lutou para evitar que a abusassem e fizessem do seu corpo, um objecto para satisfação sexual de assassinos, o que nada lhe valeu porque acabou mesmo eliminada.

* Fórum Livre Opinião & Justiça

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