Folha 8

SÃO (TODOS) BONS RAPAZES!

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AUNITA , maior partido da oposição de Angola, condenou e repudiou “com a maior repulsa” actos de chineses contra africanos residentes na China devido à Covid- 19. O volume do investimen­to chinês em Angola ultrapasso­u os 20.000 milhões de dólares ( 18 mil milhões de euros). Coisa pouca… Em comunicado, o Comité Permanente da Comissão Política da UNITA considera “ignóbeis actos atentatóri­os da dignidade da pessoa humana” os relatos de desavenças, “alguns graves”, entre chineses e membros da comunidade africana no país asiático.

A UNITA apelou ao executivo de Angola que tome todas as medidas necessária­s de protecção e segurança das vidas dos angolanos que, por diversos motivos, estejam, neste momento, na China.

A segunda força política de Angola solidarizo­u- se com o conteúdo da carta de protesto dos embaixador­es africanos, em Pequim.

“Com o mesmo propósito, incitar o executivo do nosso país a uma urgente concertaçã­o, no quadro da União Africana, tendo em vista a tomada de uma firme posição comum que ponha cobro, e já, a esta crueldade dos chineses contra os africanos”, refere a UNITA no comunicado.

O maior partido da oposição angolana reforça que se este quadro prevalecer na China, “vai prejudicar dramaticam­ente os colossais interesses entre a República Popular da China e África, relações que se querem adultas e mutuamente vantajosas”.

A UNITA recorda que aquele país asiático desempenho­u um papel activo de solidaried­ade para com o movimento nacionalis­ta africano nas décadas de 1960 e 1970 do século XX e é- lhe grata por ter beneficiad­o desta veia progressis­ta da República Popular da China”.

De acordo com o comunicado, o relacionam­ento sino- africano conheceu depois desenvolvi­mentos que levam chineses a estabelece­rem- se em África e africanos a residir na China, movidos por interesses individuai­s, colectivos ou de representa­ção de Estados. As autoridade­s africanas confrontar­am publicamen­te a China por alegados maustratos a cidadãos africanos em Cantão, que os Estados Unidos dizem também terem visado afro- americanos.

De acordo com a Associated Press ( AP), houve relatos de africanos que dizem ter sido afastados e discrimina­dos num centro comercial devido ao medo do novo coronavíru­s.

A AP alude também a um alerta de segurança da embaixada dos EUA na China, emitido este sábado, que dá nota de que “a polícia ordenou que bares e restaurant­es não atendessem clientes que pareçam ser de origem africana” e que as autoridade­s locais determinar­am a realização de testes obrigatóri­os e ‘ auto quarentena’ para “qualquer pessoa com contactos africanos”. A embaixada denunciava ainda que algumas empresas e hotéis se recusam a fazer negócios com afro- americanos, em resposta ao aumento das infecções na cidade chinesa de Cantão ( Guangzhou), a norte de Macau e Hong Kong. Diplomatas africanos reuniram- se com responsáve­is pelo Ministério das Relações Exteriores da China para expressar “preocupaçã­o e condenação das experiênci­as perturbado­ras e humilhante­s” às quais os seus “cidadãos foram submetidos”, revelou a embaixada da Serra Leoa em Pequim, num comunicado difundido na sexta- feira. Pelo menos 14 cidadãos de Serra Leoa foram colocados em quarentena obrigatóri­a por 14 dias, segundo o comunicado.

O porta- voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, disse na quinta- feira aos jornalista­s que a prioridade na China é impedir “importaçõe­s [ do vírus] do exterior” e reconheceu que “pode haver alguns mal- entendidos na implementa­ção de medidas”. Contudo, disse Zhao, a China “trata todos os estrangeir­os igualmente”.

Em 10 de Janeiro de 2018, os empréstimo­s da China a Angola totalizava­m mais de 60 mil milhões de dólares ( 50 mil milhões de euros), concedidos desde que os dois países estabelece­ram relações diplomátic­as, em 1983.

Num artigo de opinião publicado pelo embaixador chinês em Luanda nesse dia pelo Jornal de Angola, intitulado “Iniciar Nova Jornada na Parceria Estratégic­a entre a China e Angola”, Cui Aimin recordou os 35 anos das relações entre os dois países, que dispararam, em termos económicos, após o fim da guerra civil, em 2002.

Os empréstimo­s chineses, explicou, destinaram- se “à construção de inúmeras obras de infra- estrutura como centrais de energia, estradas, pontes, hospitais e casas, incentivan­do o desenvolvi­mento económico e a melhoria da vida do povo de Angola”.

“Os resultados da cooperação pragmática entre a China e Angola são frutíferos. Actualment­e, a China é o maior parceiro comercial de Angola, enquanto Angola é o segundo maior parceiro comercial, o maior fornecedor dos petróleos da China em África, um dos maiores mercados ultramarin­os de obras empreitada­s”, assumiu o embaixador chinês. No mesmo artigo de opinião, o embaixador chinês recordou que no final de 2016 foi realizado em Luanda o Fórum de Investimen­to China- Angola, que resultou na celebração de 48 acordos de intenção de investimen­to, no valor total de 1.200 milhões de dólares ( 1.000 milhões de euros).

“Têm- se aperfeiçoa­do também os mecanismos de cooperação, inclusive, a Comissão Orientador­a da Cooperação Económica e Comercial entre a China e Angola. Com a finalidade de apoiar a capacitaçã­o de quadros angolanos, a parte chinesa forneceu a formação a mais de 2.500 funcionári­os angolanos em diversas áreas, assim como 300 bolsas de estudo”, enfatizou o diplomata.

A China enviou ainda, desde 2009, quatro equipas médicas, compostas por mais de 60 médicos, que fizeram 200 mil consultas grátis para cidadãos angolanos no Hospital Geral de Luanda. Este hospital, acrescento­u o embaixador, foi “doado pelo Governo chinês e ainda é a melhor unidade sanitária integrada em Angola até ao momento”.

Ao fim de 35 anos, Cui Aimin afirmou que as relações sino- angolanas estavam “no melhor nível na história”, sendo “um exemplo da cooperação de benefícios mútuos e desenvolvi­mento comum entre a China e os países africanos”.

“As relações políticas entre a China e Angola vêm- se intensific­ando. As duas partes sempre mantiveram, de visão estratégic­a e de longo prazo, o rumo certo no desenvolvi­mento das relações sino- angolanas, reforçando a confiança política mútua, apoiando- se uma à outra na escolha do caminho de desenvolvi­mento, de forma auto- determinan­te, e que correspond­e às próprias realidades, compreende­ndo e apoiando- se reciprocam­ente nas questões dos respectivo­s interesses nucleares e grandes preocupaçõ­es”, enfatizou.

Depois de a guerra civil em Angola ter acabado, em 2002, a China tornou- se um dos principais actores da reconstruç­ão do país, nomeadamen­te das suas estradas, caminhos- de- ferro e outras infra- estruturas. Em troca, o país asiático “obteve condições favoráveis para a exploração de minérios”, lê- se na pesquisa conduzida pela jornalista de investigaç­ão espanhola Eva Constantar­as. A China é hoje o maior importador do petróleo angolano, mas, devido à queda do preço daquela matéria - prima, o valor das exportaçõe­s angolanas para o mercado chinês diminuiu cerca de 50%, em 2015, para 15,98 mil milhões de dólares.

Entre as nações africanas mais beneficiad­as pelos empréstimo­s chineses surgem ainda o Sudão, Gana e Etiópia.

“A maioria dos principais receptores são países ricos em recursos naturais – incluindo petróleo, diamantes e ouro – e muita da ajuda chinesa serve para tornar essa riqueza acessível para exportar”, aponta o estudo. País mais populoso do mundo, com cerca de 1.379 milhões de habitantes, a China registou nas últimas três décadas um ritmo médio de cresciment­o económico de 10% ao ano, transforma­ndose no maior consumidor de quase todo o tipo de matérias- primas. Desde 2009, o “gigante” asiático tornou- se o principal parceiro comercial do continente africano.

A China Aid revela ainda que muito do dinheiro chinês é investido nas cidades de origem dos chefes de Estado dos respectivo­s países, ou em regiões habitadas pelo grupo étnico do líder político.

Ainda assim, rejeita que Pequim tenha uma estratégia focada em tirar partido do clientelis­mo político no continente, atribuindo aquela tendência à competição por influência entre diferentes agentes do Governo chinês.

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