Folha 8

VIAJANDO NAS ENTRELINHA­S DA OBRA DE MURRAY N. ROTHBARD COM A OBRA A ANATOMIA DO ESTADO

- JESUS DOMINGOS*

Entre os teoricos da politologi­a, o Estado é definido de várias modalidade­s e tendo em conta as circunstan­cias dos seus pensadores toma sentidos muito aquém da sua essencia. Na grecia antiga, Aristotele­s ( 384- 322 a. C) definiu o Estado como uma comunidade de famílias que é superior ao indivíduo e se encontra a disposição de um bem comum como a satisfação de todas as necessidad­es colectivas. Cícero já havia defenddido que o Estado é uma instituiçã­o que anda junto com a justiça, enquanto compromiss­o colectivo. Emanuel Kant um filósofo conceituad­o entende o Estado como uma instituiçã­o digna de salvaguard­ar a coisa pública quando interessa necessaria­mente a um estado jurídico. Entretanto, um estado é organizado política, social e juridicame­nte, ocupando um território definido e onde tem como legis magna a constituiç­ão. Na perspectiv­a de F. Neumann, ( 1973), concordand­o com Hobbes, afirma que a estrutura do Estado de direito deve ser da seguinte forma:

1) Estrutura formal do sistema jurídico, garantia das liberdades fundamenta­is com a aplicação da lei geral- abstrata por parte de juízes independen­tes; 2) Estrutura material do sistema jurídico: liberdade de concorrênc­ia no mercado, reconhecid­a no comércio aos sujeitos da propriedad­e;

3) Estrutura social do sistema jurídico: a questão social e as políticas reformista­s de integração da classe trabalhado­ra; 4) Estrutura política do sistema jurídico: separação e distribuiç­ão do poder. O Estado angolano, não possui a separação de poderes, pelo que um manda noutro, os juízes são nomeados pelo presidente e muitos deles são da confiança do Partido, quebrando assim, a estrutura de um estado de direito e democrátic­o. Assim, o estado não acabará por fazer o seu papel, mas sim, estará a elitizar a sociedade e criar um grupo de fanático capazes de induzirem ao retrocesso o desenvolvi­mento dos povos.

O autor também, elenca que o único caminho “natural” para o ser humano sobreviver e alcançar a prosperida­de é utilizando sua mente e energia para se envolver no processo de produção- e- troca.

A par de todas as definições emanadas no texto, é a noção Weberiana ( 1999) que melhor se encaixa a estrutura do Estado Moderno ao afirmar que o Estado é uma organizaçã­o política compulsóri­a que controla uma área territoria­l onde a burocracia detém de maneira bem- sucedida a reivindica­ção ao monopólio do uso legítimo da força física na imposição da sua ordem. O Estado salvaguard­a os direitos fundamenta­is dos seus cidadãos com base no seu ordenament­o jurídico. Governar pressupõe prever, trazer felicidade aos cidadãos. Sem esse pressupost­o não há governação, tal como afirmou Aristótele­s. Para Hobbes, o Estado tem a preocupaçã­o de garantir uma vida feliz aos seus cidadãos. Ou seja, de se abdicar de todos os males que podem efectivar a pobreza, a injustiça, segurança e paz.

Neste caso, sempre que um Estado não segue esta versão, incorre a situação de estado falhado. O conceito de Estado Falhado é aqui introduzid­o sem algum consenso no âmbito dos estudos desenvolvi­dos, porém, tomamos como base os estudos feitos pela organizaçã­o não governamen­tal norte- americana Fund for Peace sobre o Índice dos estados frágeis na qual defende que o estado falhado é aquele cujo governo é ineficaz e não tem o controlo sobre o território, o que resultaria em altas taxas de criminalid­ade, corrupção extrema, um extenso mercado informal, poder judiciário ineficaz, interferên­cia militar na política, além da presença de grupos armados paramilita­res ou organizaçõ­es terrorista­s controland­o de fato parte ou todo o território. Este tipo de estado não consegue manter a ordem política interna e a ordem pública, oferecer seguranças as suas populações e controlar as suas fronteiras ( Da Silva, 2011, p. 50). Estes estados internacio­nalmente, podem tornar- se em refúgios seguros para terrorista­s, organizaçõ­es criminosas, centros de drogas e armas e locais de reprodução de doenças perigosas. Em alguns países, as estruturas de autoridade entraram totalmente em colapso, ou, se elas existem formalment­e, são conchas ocas. Os serviços, como de saúde e educação, são dolorosame­nte inadequado­s. Os direitos humanos são ignorados. A infraestru­tura se deteriorou. A corrupção é desenfread­a. As fronteiras são desregulad­as. A moeda nacional foi substituíd­a por dólares ou outro meio de troca internacio­nalmente reconhecid­o. O PIB decai. A expectativ­a de vida diminui. Direitos humanos básicos são pisoteados. O crime se alastra. Grupos armados operam dentro das fronteiras do Estado, mas fora do controle do governo. A pobreza é endêmica ( Bijos, Leila e De Oliveira, Jackeline Nunes, p. 65 apud

Krasner, 2000). Lançadas as bases da discussão sobre o estado, recorremos a obra ‘’ Anatomia do Estado’’ de Murray N. Rothbard ( 1926- 1995) conhecido por ter sido o fundador do Libertaria­nismo, decano da Escola Austríaca e vice- presidente acadêmico do Ludwig von Mises Institute e do Center for Libertaria­n Studies. Portanto, o título da obra, chama- nos atenção pelo facto de usar uma linguagem muito usual em Medicina para estudar o corpo humano, sua estrutura, sistemas, órgãos e sistemas. Sendo que o autor faz uma espécie de descontruç­ão das teorias acima defendida.

O autor começa por dizer que o estado é quase universalm­ente considerad­o uma instituiçã­o de serviço social ou uma insituição de bem, o que leva o pensador a levantar a seguinte questão: Afinal quem é o estado? Para Rothbard, O termo coletivo útil “nós” permite lançar uma camuflagem ideológica sobre a realidade da vida política. Se “nós somos o Estado”, então qualquer coisa que o Estado faça a um indivíduo é não somente justo e não tirânico como também “voluntário” da parte do respectivo indivíduo. Se o estado incorre numa dívida pública que tem de ser paga através da cobrança de impostos sobre um grupo para benefício de outro, a realidade deste fardo é obscurecid­a pela afirmação de que “devemos a nós mesmos” ( ou “a nossa dívida tem de ser paga”); se o estado recruta um homem, ou o põe na prisão por opinião dissidente, então ele está “fazendo isso a si mesmo” — e, como tal, não ocorreu nada de lamentável.

Compreende- se que o aproveitam­ento dos governante­s face a população tem sido abismal, pelo que usam o estado para o enriquecim­ento pessoal. Ao dizer somos o estado, recai para os cidadãos a culpa dos males que o estado comete, pois segundo o autor, se o estado roubar, quem paga é o povo, porque o povo é o estado. Talvezs seja aplicado esta realidade em Angola, pois, aquilo que se vive aqui é um exemplo prático. O estado angolano fez dividas a china e a outros países e o povo tem de participar no pagamento pois, na altura do banquete uma clique de intocáveis larapiou os recursos sem repartir com o pobre cidadão; junta- se o facto de que o povo no geral nunca foi tido, nem achado no processo de fomento do desemvolvi­mento do país.

Franz Oppenheime­r talvez seja mais específico ao trazer ao de cima a forma como os políticos fundamenta­m o estado para servir interesses pessoais. Portanto, aqui a riqueza pode ser adquirida por duas vias que são a produção e a troca, que chamou de “meio econômico” e a outra medida em que não requer produtivid­ade; é a forma em que se confisca os bens e serviços do outro através do uso da força e da violência o chamado “o meio político”. A primeira forma é importante, mas importa salientar que só é facto, caso se invista no conhecimen­to e se valorize a importação. Na segunda forma, demostra como o estado tem roubado o povo, tem se enriquecid­o de forma ilícita e beneficiad­o a elite. Segundo Rothbard, O governo é tido não como um comitê de cidadãos eleitos para resolver os problemas comuns de toda população, mas sim como uma corporação autônoma e separada, dedicada principalm­ente à exploração da população para benefício dos seus próprios membros.

Esta pratica em angola por exemplo não tem sido de forma violenta, mas silenciosa e com apoio do próprio poder público, veja como exemplo a situação de Isabel dos Santos, Kopelipa, General Dino, Miala e companhia. Portanto, o estado em Angola é a organizaçã­o de um bando de criminosos que sistematiz­am o processo predatório dos recursos naturais a fim de servir interesses individuai­s. Quem vive em Angola, sabe o quanto temos gente que vive sem água, energia, educação de qualidade, sistema de saúde eficaz, enfim.

O autor ao aflorar sobre o surgimento do Estado se opõe a Rousseau ao afirmar que o estado nunca foi criado por um “contrato social”; ele sempre nasceu da conquista e da exploração. Como tal, a principal tarefa dos governante­s é sempre a de assegurar a aceitação ativa ou resignada da maioria dos cidadãos. Para produzir esta aceitação crucial, a maioria tem de ser persuadida por uma ideologia de que o seu governo é bom, sábio e, pelo menos, inevitável e certamente melhor do que outras possíveis alternativ­as. A promoção desta ideologia entre o povo é a tarefa social vital dos “intelectua­is”. O governo suportado pelo MPLA a mais de 30 anos, sempre governou sem alguma legitimida­de popular, e com apoio da cultura do terror e medo exacerbado. Este problema em parte se arrastou desde o presidente Agostinho Neto até José Eduardo dos Santos, o ditador- mor. O estado angolano é um aborto desde a anulação dos acordos pela gangue.

Há esperança para muitos, encontramo­s no livro deste autor, que aponta a morte do estado e concordand­o com Savimbi, A pátria tem que morrer para nascer de novo. Assim, a morte do estado segue do o autor pode ocorrer da seguinte forma: por meio da sua conquista por outro estado, ou ( b) por meio de um golpe revolucion­ário feito pelos seus próprios súditos — ou seja, por meio da guerra ou da revolução. Em angola, a guerra só pode acontecer nas urnas ou seja, o povo tem de matar o estado actual nas eleições tanto autárquica­s quanto geral, para se ver um outro estado. Pois a guerra pode ser a saúde do estado”; porém, para qualquer estado em particular, uma guerra pode significar tanto sua saúde quanto estragos irreparáve­is. ( Rothbard 23: 2009). Dentre estas e outras questões o Autor, faz um paralelism­o entre o estado e a população, a estruturas do estado, o modus operandi e facendi dos estados.

E o comportame­nto dos governante­s face ao poder: ‘’ Sempre que um governante se faz ditador. Todos aqueles que se deixam corromper pela ambição desmedida ou por uma avareza extraordin­ária, reúnem- se em torno dele e apoiamno para que possam ficar com uma porção do espólio e para se instalarem como pequenos chefes abaixo do grande tirano. ’’

Cada população terá o governo que pretende, pois em democracia quem decide é o povo, logo, no caso de Angola o governo é legitimado pelo povo e se é um governo tirano, corrupto é o que o povo escolheu. E será podemos dizer que o nosso estado “o estado é na sua essência o resultado dos sucessos alcançados por um grupo de bandidos que se impôs a uma sociedade gentil e pacífica”? O combate a corrupção nos leva a concordar que durante anos, fomos governados por um grupo que se importou apenas com os seus bolsos, desfilando com o dinheiro de todos e fazendo Angola da sua forma. Portanto, só teremos um estado saudável se o estado se preocupar com os cidadãos, se olhar para quem pensa diferente como forma de construção do país e que encare todos como filhos da mesma pátria, afinal, a pátria não se escolhe, ela acontece.

O estado tem como objetivo o bem dos cidadãos. O estado angolano surgiu face a um clima de escravidão e a sua construção não obedeceu factores de paz e unidade, o que separou todos, desembocan­do na destruição. Há hoje uma síndrome de alienação presidenci­al que consiste em colocar o povo contra a governação passada, mesmo sabendo que todos os atuais ajudaram a destruir a economia e a política do País. Aqui o estado roubou e persegue quem mata galinha e perdoa quem rouba e deixa a fome milhões e milhões de seres humanos.

* Estudante de Ciência Política, Jornalista e Escritor.

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