Folha 8

O QUE É O GABINETE DE ACÇÃO PSICOLÓGIC­A DO PRESIDENTE?

- TEXTO DE JOÃO KANDA BERNARDO*

O Presidente da República de Angola, João Lourenço, no uso das suas prerrogati­vas constituci­onais e por (suposta) conveniênc­ia de serviço, num passado muito recente nomeou por decreto várias individual­idades, dentre eles, um Director do Gabinete de Acção Psicológic­a e Informação da Casa de Segurança do Presidente da República. Aliás este Gabinete não é novo

OPresident­e João Lourenço tem manifestad­o um grande esforço para ser visto como um inovador. Isso é bom, apesar das suas iniciativa­s não produzirem resultados frutíferos notáveis aos olhos dum indivíduo lúcido.

Em política é fatal falar de acção psicológic­a em algumas circunstân­cias, pois o seu conceito e a sua interpreta­ção pode- se relacionar equivocada­mente com as práticas da história da ditadura militar.

Por isso é muito importante que o Governo de Angola esclareça as tarefas fundamenta­is do Director do Gabinete de Acção Psicológic­a da Casa de Segurança do Presidente da República.

Na ditadura militar a acção psicológic­a é feita em forma de uma tortura mental que deixa marcas emocionais que podem durar a vida inteira. Porém, esta tortura tem como objectivos específico­s provocar o medo, ameaças e perseguiçõ­es que geram um duplo efeito: fazer a vítima calar ou delatar conhecidos. Na guerra subversiva, a acção psicológic­a destina- se a influencia­r as atitudes e o comportame­nto dos indivíduos. Ela é utilizada para obter o apoio da população, desmoraliz­ar e captar o adversário e fortalecer o moral das próprias forças, assumindo três aspectos diferentes, embora relacionad­os: acção psicológic­a, acção social, acção de presença. Ela também facilita o Governo a simular o papel da oposição no próprio país.

Não é admissível que depois de 18 anos do calar das armas em Angola, ainda haja angolanos vítimas de perseguiçõ­es por parte daquele( s) que devia( m) garantir a protecção da integridad­e física e psicológic­a de todos os cidadãos. Hoje o país regista vários conflitos de carácter social e político que infelizmen­te em algumas circunstân­cias acabam por causar a fuga de vários compatriot­as para o exterior do país, enquanto estes estariam ali presentes para contribuír­em com as suas experiênci­as em distintos sectores para o desenvolvi­mento sustentáve­l do país. Pode este fenómeno ser um resultado das acções deste gabinete de acção psicológic­a do Presidente João Lourenço?

Se sim, então podemos afirmar que estamos diante duma ditadura militar ou duma guerra subversiva? Entende- se que muitas dificuldad­es que o país está a atravessar hoje são consequênc­ias de uma governação ( de 1975 a 2017), dotada de várias decisões unilaterai­s, que ignoravam as opiniões da oposição e de outros actores da sociedade civil angolana, onde o próprio Presidente João Lourenço exerceu várias funções de destaque. Porém, é chegado o momento em que o actual chefe de Estado angolano devia focalizar- se mais no processo de reconcilia­ção nacional, de modo a congregar todos os angolanos independen­temente das suas cores partidária­s, religião, orientação sexual, classe social e etc., ao invés de priorizar as práticas que podem dificultar os angolanos a edificarem uma nação em conjunto. Finalmente, não podemos afirmar que o país está reconcilia­do, quando até o antigo Presidente da República, José Eduardo dos Santos, não consegue regressar ao país, por razões de intrigas. Engana- se quem pensa que Dos Santos encontra- se no exterior apenas por razões de saúde, e espero que ele não esteja a ser um vítima deste gabinete de acção psicológic­a cuja agenda é desconheci­da.

O Presidente João Lourenço devia reunir condições para que o seu antecessor venha a regressar ao país depois da crise da Covid- 19, assim como todos outros cidadãos que se sentem injustamen­te ameaçados pelo seu Governo. E enquanto esperamos pelo este momento, há necessidad­e de se justificar formalment­e a ausência do camarada Dos Santos do país, porque os angolanos olham- no como um antigo Presidente da República com ainda algumas responsabi­lidades, como reza a Constituiç­ão de Angola e muito menos interessa a sua vida pessoal.

* Embaixador da Paz

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