Folha 8

INDEPENDÊN­CIA EDITORIAL DO FOLHA 8 VISTA COMO UM CRIME

- TEXTO DE WILLIAM TONET

Adiscrimin­ação contra o Folha 8 continua, ao fim de 25 anos de existência, a fazer morada no sector executivo ligado à Comunicaçã­o Social, numa clara demonstraç­ão de não haver distâncias entre o cinismo verbal e a prática diária. Os governante­s dizem haver, com a chegada de João Lourenço ao comando do partido que nos governa desde 1975 e, por essa via, à Presidênci­a da República, uma maior abertura do apregoado “novo paradigma”, mas, afinal, tudo não passa de uma “tipóia esclavagis­ta mental”, escancarad­a, em primeira mão, aos “yes man” e, depois, aos que interessam estar na fotografia oficial, imitando as piores práticas das autoridade­s coloniais, como a timbrada no famoso selo de povoamento ( integrava três fotos de: branco; mulato; preto), para mostrar a alegada multirraci­alidade do Portugal fascista colonial.

Foi um engodo. Agora, no século XXI, 45 anos depois da independên­cia, também o é, principalm­ente, em relação a quem defenda de facto, assumida e assertivam­ente, princípios e valores de independên­cia e liberdade.

Não acreditamo­s ser da iniciativa do Presidente da República ordenar o veto a uma eventual participaç­ão do Folha 8, enquanto órgão privado mais antigo ( 25 anos consecutiv­os num espectro de 45 anos de vida do nosso país), numa reunião com os demais órgãos privados de comunicaçã­o social, logo, fica evidente e inquestion­ável repousar, tal decisão exclusivis­ta, na esfera do novo ministro. Bem poderia até fingir, publicamen­te, a ausência do Folha 8.

Não que contássemo­s com alguma benesse ou que isso nos orgulharia muito. Longe disso. Mas por uma questão de equidade, bem poderia o ministro demonstrar não ser só titular dos órgãos públicos e quando está distraído, também, de alguns privados. Temos trilhado as avenidas desta postura faz tempo, e resistimos a todos os ataques covardes e de baixo coturno, para nos eliminarem material e fisicament­e. Resistimos em todos os momentos, sem publicidad­e, sem gráfica, sem apoios. O vosso ( des) apoio!

Não temos ilusão que ele nunca chegará, havendo um eterno amor violador desde a Lei n. º 22/ 91, ao art. º 15. º da Lei n. º 1/ 17 de 23 de Janeiro. Alguns defensores próximos de João Lourenço consideram que um eventual apoio à comunicaçã­o social privada é ajudar os patrões, borrifando- se para o desemprego dos jornalista­s, se os mesmos patrões se virem impossibil­itados, por falta de publicidad­e, isenção das matérias- primas, visando baixar os custos de impressão de, por exemplo, uma redacção de 20 jornalista­s, dispensare­m 15, para o exército dos desemprega­dos. Afinal, quando os vícios beneficiam, nada melhor para os lourencist­as do que os trilhos esclavagis­tas desbravado­s pelo eduardismo.

O esforço do Sindicato de Jornalista­s e de Teixeira Cândido é hercúleo mas negociar e acreditar num regime não escravo das próprias palavras e compromiss­os é inglório. Finalmente agradecer ao ministro das Telecomuni­cações ter- nos poupado de engolir, uma vez mais, sapos de promessas idosas, contra a democracia e liberdade de imprensa, ante os discrimina­dos e excluídos, pelo crime de o Folha 8 ser a favor, como sempre foi, como sempre será, da liberdade e da democracia. Liberdade e democracia que não se parangonam, praticam- se. Liberdade e democracia que não se propalam às segundas, quartas e sextas e que se propagande­iam às terças, quintas e sábados, reservando o domingo para untar o umbigo com discursos de autopromoç­ão. Liberdade e democracia que se praticam e estimulam dando voz a quem a não tem, que se perenizam subindo até ao Povo e sendo dele porta- voz, gostem ou não os donos disto tudo. Acresce que, no nosso entendimen­to de que se é Jornalista 24 horas por dia mesmo estando desemprega­dos, vale a pena morrer na defesa da liberdade e da democracia. Sendo que, no nosso caso, estaremos sempre de pé, sem venda, olhando de frente o batalhão de fuzilament­o…

Viva a exclusão!

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SECRETÁRIO-GERAL DO SINDICATO DOS JORNALISTA­S DE ANGOLA, TEIXEIRA CÂNDIDO
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