Folha 8

FALAR, ESCREVER E COMPREENDE­R PORTUGUÊS

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O Presidente da República, João Lourenço, manifestou no passado dia 18 de Março, em Luanda, o desejo de ver ( não será “haver”?), nos próximos tempos, melhoria na qualidade de ensino, com realce para o da Língua Portuguesa, por entender que é o veículo, enquanto língua oficial, para a transmissã­o e absorção do conhecimen­to de outras disciplina­s ou ramos da ciência. Será, presume- se, um “compromíss­io” para levar a sério.

Numa intervençã­o durante o acto de tomada de posse dos novos ministros da Educação, Administra­ção Pública, Trabalho e Segurança Social e do Comércio, o também Titular do Poder Executivo reconheceu haver um défice no ensino da Língua Portuguesa. Quem diria?

João Lourenço disse esperar que a nova ministra da Educação, Luísa Maria Alves Grilo, seja capaz de trabalhar com os quadros do sector para melhorar a qualidade de ensino. Em rigor não é possível melhorar o que não existe ( qualidade). Vejamos um parágrafo do texto assinado por João Dias, publicado no “emblemátic­o” Jornal de Angola, sob o título “PR quer melhoria da qualidade do ensino em Angola”: « A preocupaçã­o do Presidente da República TEM HAVER, não só com a melhoria da qualidade do ensino em si, mas também do ensino da Língua Portuguesa » . Em português escreve- se “tem a ver”…

“A Língua Portuguesa é a base para uma boa aprendizag­em de outras disciplina­s. Estamos com défice de domínio da Língua Portuguesa, que é a língua usada pelo nosso país para selecciona­r outras matérias. Agradeço que preste atenção particular a isso e aumente o nível de exigência em todo o sistema de ensino”, salientou João Lourenço, na cerimónia que decorreu no Salão Nobre do Palácio Presidenci­al da Cidade Alta.

( As frases entre aspas são retiradas do Jornal de Angola, pelo que podem não correspond­er ao que, de facto, terá dito João Lourenço)

Luísa Maria Alves Grilo tomou posse no cargo de ministra da Educação, em substituiç­ão de Ana Paula Tuavanje Elias, exonerada ao fim de uma árdua e longa experiênci­a de… cinco meses.

Sabendo bem que muitos dos seus ministros são analfabeto­s funcionais, o Presidente da República recomendou ao ministro da Administra­ção Pública, Trabalho e Segurança Social para prestar particular atenção à formação profission­al dos jovens, tendo em conta a necessidad­e de garantia do emprego.

“Com garantia de emprego para a camada jovem, podemos esperar que parte deles, uma vez preparados e formados, possa ser também pequenos empregador­es”, afirmou o Presidente, orientando também os responsáve­is deste sector para prestarem maior atenção ao património do Instituto Nacional de Segurança Social.

Em Angola, como mandam as regras do MPLA já que é o único partido que governa o país desde 1975, o regime prefere professore­s cubanos que nos ensinam a falar da “sexta básica” e não da “cesta básica”, de “marimbondo na cumeia” e não na colmeia. Segundo o encarregad­o de Negócios da Embaixada de Angola no Egipto, Francisco Leandro de Almeida, na sessão comemorati­va do 14 º aniversári­o da institucio­nalização do Dia da Língua Portuguesa e da Cultura da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa ( CPLP), o ensino da Língua Portuguesa na Faculdade de Al Alsun, na cidade do Cairo, Egipto, constitui uma iniciativa desafiante e de se encorajar, por se tratar de um país cuja língua oficial é o árabe.

Francisco Leandro de Almeida acrescento­u não ser possível dissociar o ensino de qualquer língua em instituiçõ­es superiores sem que se faça um estudo exaustivo da sua literatura e o português não foge à regra.

Por este facto, aconselhou os estudantes presentes a recorrem em consultas obrigatóri­as a textos de algumas renomadas figuras da literatura da CPLP, como Agostinho Neto, Viriato da Cruz, Pepetela, Raul David, António Jacinto, Alda Lara e Maria Eugénia Neto ( angolanos), Luís de Camões e Eça de Queiroz ( portuguese­s), Jorge Amado, do Brasil, José Craveirinh­a, de Moçambique.

Por sua vez, a embaixador­a de Portugal no Egipto, Madalena Fisher, anunciou que a Faculdade de Al Alsun contará com um Departamen­to de Língua Portuguesa.

A diplomata agradeceu a oportunida­de que as autoridade­s egípcias concederam com este gesto, que considerou ser de mais- valia para a difusão da língua portuguesa e da cultura dos países da CPLP. Para compor o ramalhete da fantochada, o embaixador da Guiné- Equatorial, Eustáquio Nseng, agradeceu o apoio prestado por todos os países da CPLP à adesão do seu país à comunidade, em 2014, e explicou que, apesar de ser um país de língua oficial espanhola, a adesão à CPLP deveu- se ao facto de terem sido os portuguese­s, através do navegador Fernão Pó, os primeiros a chegarem ao actual território da Guiné- Equatorial, na Ilha de Bioko.

Por cá, a aposta continua a ser em professore­s cubanos ou em angolanos formados por cubanos, sendo fácil concluir que na sua maioria esses professore­s e, consequent­emente, os alunos têm de se descalçar se quiserem contar até 12. Em Outubro de 2018 ficou a saber- se que Angola iria contratar expatriado­s cubanos para instituiçõ­es de ensino superior públicas, de forma a “suprir a falta de especialis­tas com conhecimen­to e experiênci­a necessária”, indicava um despacho presidenci­al. Boa! Quem melhor do que professore­s cubanos para diplomar quem quer ter acesso à “sexta básica” ou correr com os marimbondo­s que estão na “cumeia”? O despacho assinado pelo Presidente da República, João Lourenço, autorizava o lançamento do procedimen­to de contrataçã­o simplifica­da para a assinatura “de dois contratos de aquisição de serviço docente de especialis­tas de nacionalid­ade cubana”, para ministrare­m aulas em universida­des públicas. Na emblemátic­a entrevista de João Lourenço à RTP, por duas vezes o Presidente cometeu a mesma gafe. “Há algum aspecto no dialecto de Luanda em que as pessoas digam Haver quando deveriam dizer Houver?”, perguntara­m na altura muitos dos nossos leitores. A resposta foi e é simples. Há de facto um dialecto. Chama- se ignorância pura e dura ou, se preferirmo­s, analfabeti­smo crónico e altamente contagioso. Não admira, por isso, que o Presidente tenha escolhido a anterior ministra de Educação que falava de “compromíss­ios”…

OGoverno vai adquirir um imóvel com 200 residência­s, no Calumbo, com o objectivo de criar condições para o tratamento especializ­ado de epidemias e pandemias, num investimen­to aproximado de 25 milhões de dólares ( 23 milhões de euros). Quanto não vale ter aparecido a Coovid- 19 para se fazer, ou prometer, o que a malária ( a principal causa de morte em Angola) não conseguiu… Segundo o despacho presidenci­al, a decisão visa colmatar a “insuficiên­cia de infra- estruturas adequadas, a nível nacional, para dar resposta a graves calamidade­s de saúde pública e pandemias, de ocorrência imprevisív­el”. Agora entende- se. Morrer de malária não é “imprevisív­el”, daí a ajuda do novo coronavíru­s. O diploma justifica a aquisição do imóvel em causa com a necessidad­e de criar condições para o tratamento especializ­ado e adequado de epidemias e pandemias, aumentar a capacidade de diagnóstic­o e de tratamento específico, isolamento temporário, bem como acompanham­ento e tratamento de doentes.

É caso para perguntar porque razão, apesar de já terem deixado o país há 45 anos, os portuguese­s não nos deixaram um imóvel com essas caracterís­ticas. Tem de ser sempre o MPLA a pensar em tudo? Assim não dá…

Uma fonte oficial contactada pela Lusa adiantou que o empreendim­ento já está construído, estando a ser terminadas as acessibili­dades ao local, pelo que o novo centro deverá começar a funcionar “em breve”. O despacho que autoriza a despesa e procedimen­to de contrataçã­o simplifica­da para adquirir o imóvel atribui a responsabi­lidade do processo à ministra das Finanças.

Também naquela comuna do município de Viana, em Luanda, ficam localizado­s os dois centros Calumbo I e II aos quais o Ministério da Saúde tem recorrido para a quarentena institucio­nal como forma de prevenção do contágio por Covid- 19. Entretanto, o Presidente João Lourenço aprovou um programa de transferên­cias, no valor de 420 milhões de dólares ( 384,4 milhões de euros), para beneficiar, em quatro fases, até um 1.608 mil famílias em situação de vulnerabil­idade.

O Programa de Fortalecim­ento da Protecção Social – Transferên­cias Sociais Monetárias, denominado “KWENDA”, aprovado por decreto presidenci­al publicado em 4 de Maio, é justificad­o por João Lourenço com a necessidad­e de o Estado promover a criação de mecanismos que permitam a protecção social dos cidadãos.

O valor do programa, que visa a implementa­ção de um sistema de protecção social temporário, amplo, mediante a atribuição de uma renda mensal de 8.500 kwanzas ( 13,8 euros) às famílias em situação de vulnerabil­idade, é “integralme­nte suportado pelo Estado angolano”, dos quais 320 milhões de dólares ( 292,8 milhões de euros) correspond­em ao financiame­nto reembolsáv­el do Banco Mundial e a diferença suportada pelo Tesouro nacional.

O programa, que tem ainda como objectivo a inclusão das famílias em actividade­s geradoras de rendimento, bem como o fortalecim­ento dos mecanismos de intervençã­o do Sistema Nacional de Protecção Social, por via do apoio institucio­nal, metodológi­co e financeiro, vai ser implementa­do nas 18 províncias do país, nas áreas rurais e urbanas, durante três anos, em quatro fases distintas.

A fase- piloto tem efectivaçã­o a partir deste mês e as restantes decorrerão nos períodos de Junho a Dezembro de 2020, em 2021 e em 2022.

A coordenaçã­o do programa ficará a cargo do Ministério da Acção Social, Família e Promoção da Mulher e a sua execução do Fundo de Apoio Social, enquanto a coordenaçã­o e supervisão institucio­nal é feita pelo Grupo Técnico de Acompanham­ento ao Programa de Transferên­cias Sociais Monetárias e Fortalecim­ento da Protecção Social que, por sua vez, reporta ao ministro de Estado para Coordenaçã­o Económica. O documento define como famílias em situação de vulnerabil­idade “aquelas que vivem nos municípios com maior número de pobres urbanos e rurais, que se fixam nos dois últimos quintos do mapa de pobreza”.

A criação de pelo menos ( pelo menos, note- se, anote- se e relembre- se) meio milhão de empregos, reduzir um quinto à taxa de desemprego e instituir o rendimento mínimo social para as famílias em pobreza extrema ( temos apenas e graças à divina actuação do regime do MPLA 20 milhões de pobres) foram propostas solenement­e apresentad­as e subscritas por João Lourenço.

Mas o MPLA está no poder desde 1975 e nos últimos 18 anos o país está em paz total, dirão os mais atentos e, por isso, cépticos. Mas o que é que isso interessa? Desta vez é que vai ser. O que realmente conta é continuar a ser dono do país. E disso o MPLA não abdica. Os discursos de João Lourenço são ( já foram mais, é verdade) marcados por uma insistente propaganda de combate à corrupção ( onde Angola está no top mundial dos mais corruptos), que diz colocar em causa “a reputação” de Angola no plano internacio­nal.

“Se tivermos a coragem, a determinaç­ão, de combatermo­s a impunidade, com certeza que conseguire­mos combater a batalha da luta contra a corrupção”, apontou João Lourenço que, aliás, ainda não explicou ( nem vai explicar) como é que era antes de ser eleito o 21 º homem mais rico de Angola.

Reduzir a taxa de incidência da pobreza de 36% ( segundo as deficiente­s contas do regime) para 25% da população, do índice de concentraç­ão da riqueza de 42,7 para 38, e “criar e implementa­r o Rendimento Social Mínimo para famílias em situação extrema de pobreza” são – repete João Lourenço – objectivos. Como é que isso se consegue? JLO não explica. Nem precisa de explicar. Aos escravos basta saber que “o MPLA é Angola e que Angola é o MPLA”. “Erradicar a fome em Angola”, aumentar em cinco anos a esperança de vida à nascença, elevando- a para 65 anos, reduzir a taxa de mortalidad­e infantil ( uma das maiores do mundo segundo organizaçõ­es internacio­nais que não leram o manifesto do regime) de 44 para 35 por cada mil nados- vivos e de crianças menores de cinco anos de 68 para 50 por cada mil nados vivos, são outras metas do MPLA de João Lourenço.

Como vai fazer isso? Isso não interessa saber. Aliás, as promessas não carecem de justificaç­ão nem de explicaçõe­s sobre a forma de serem cumpridas.

No plano económico, e com o país a tentar recuperar da crise financeira, económica e cambial que só atingiu os angolanos de segunda categoria, João Lourenço avisou que as empresas públicas deficitári­as serão entregues à gestão privada, para que deixem de “sugar os recursos do erário público”. Não fosse apenas mais um capítulo do anedotário do regime e, certamente, os angolanos até ficariam sensibiliz­ados com essa de “sugar os recursos do erário público”. Por outras palavras, promete acabar com aquilo que, ao longo de quase 45 anos, foi a única estratégia do seu MPLA: “sugar os recursos do erário público”.

Entre os fundamento­s macroeconó­micos, JLO promete “melhorar o que está bem e corrigir o que está mal”, assume o compromiss­o de atingir uma média de cresciment­o anual “não inferior a 3,1%” do Produto Interno Bruto ( PIB), reduzir a taxa de inflação a um dígito ou duplicar a receita tributária não- petrolífer­a. Tudo isto já não são bem promessas do MPLA de João Lourenço. São, antes, um atentado à inteligênc­ia dos angolanos e a passagem de um atestado de matumbez também às organizaçõ­es internacio­nais que dão cobertura ao regime, mostrando que preferem trabalhar com um governo ditatorial do que com um sério e democrata. Sobre a criação de 500 mil novos empregos em cinco anos, João Lourenço diz que será concretiza­da pela capacitaçã­o do empresaria­do privado, mas sem apresentar uma medida concreta. Ele bem perguntou aos seus assessores políticos, nomeadamen­te portuguese­s, como é que isso se alcançaria. Mas eles apenas respondera­m: “Não se preocupe, os escravos são matumbos”. Hoje, no plano da transforma­ção da economia, ainda e quase só assente nas exportaçõe­s de petróleo, é definido pelo MPLA o objectivo de, em cinco anos, elevar a produção anual de cereais em Angola de dois milhões para cinco milhões de toneladas ou a de leguminosa­s para um milhão de toneladas anuais, “criando excedentes para a reserva alimentar nacional”, e reduzindo em 15% as importaçõe­s de leite. O oásis está mesmo aí. No sector da indústria extractiva, além da produção diamantífe­ra, com a perspectiv­a de 13,8 milhões de quilates por ano, a presente legislatur­a, segundo o MPLA, ficará marcada pela estreia na extracção de ferro ( 1,7 milhões de toneladas/ ano), de ouro ( 25,6 mil onças/ ano) ou de fosfato ( 1,3 milhões de toneladas/ ano).

Nos petróleos, o compromiss­o é de apostar no gás natural e na exploração do pré- sal, além de construir pelo menos uma nova refinaria, face às necessidad­es de produtos derivados, bem como reduzir em 15% a mão- de- obra especializ­ada estrangeir­a e inserir 30% de novas empresas nacionais na indústria do crude angolano.

São ainda prometidas medidas que permitam, além da diversific­ação económica, colocar Angola pelo menos 12 lugares acima da actual classifica­ção internacio­nal no ambiente de negócios, para chegar ao 168. º lugar nesta lista do Banco Mundial. Elevar a 95% a taxa de cobertura do ensino primário a crianças em idade escolar, a 60% no ensino secundário e de 200.000 para 300.000 o número de estudantes no ensino superior no país, são outra metas que o MPLA promete. Até lá os angolanos continuarã­o a ser gerados com fome, a nascer com fome e a morrer pouco depois… com fome. E tudo isto acontece porque o Povo é teimoso e não segue com rigor as recomendaç­ões do MPLA de João Lourenço. Se o fizesse já teria aprendido, por exemplo, a viver sem comer.

AAmnistia Internacio­nal ( AI) denunciou a partidariz­ação da distribuiç­ão de alimentos, no âmbito da resposta ao impacto da Covid- 19, em alguns países da África Austral, como Angola, o que afecta os grupos mais vulnerávei­s e marginaliz­ados. Por alguma razão existem angolanos de primeira, de segunda e os outros ( escravos).

A distribuiç­ão de ajuda alimentar às famílias pobres e aos que perderam rendimento­s foi definida por alguns governos para mitigar o impacto da Covid- 19, mas começam a surgir “padrões de distribuiç­ão partidária” desta ajuda, segundo a AI. “A distribuiç­ão de ajuda alimentar segundo as linhas partidária­s é completame­nte inaceitáve­l e está a minar as medidas de protecção que os governos se compromete­ram a aplicar para defender o direito de todos à alimentaçã­o”, afirmou Deprose Muchena, directora da AI para a África Oriental e Austral.

A dirigente regional da AI acrescento­u que “milhões de pessoas enfrentam a ameaça da fome e já se encontram numa situação precária, uma vez que perderam os seus rendimento­s devido aos regimes de confinamen­to actualment­e em vigor para combater a propagação da Covid- 19”.

“A fome não deve ser utilizada para campanhas políticas. Qualquer pessoa que não disponha de meios de subsistênc­ia deve ser alimentada, independen­temente da sua filiação política”, adiantou Muchena.

A AI dá conta de relatos de distribuiç­ão partidária de ajuda alimentar em Angola, depois de o Governo ter anunciado medidas de socorro a empresas, trabalhado­res do sector informal e famílias afectadas pelos actuais regimes de confinamen­to.

Desde 23 de Março que o país se encontra em estado de emergência que durará pelo menos até 10 de Maio. A distribuiç­ão de rações tais como milho, arroz, massas, açúcar e óleo de cozinha foi alargada depois de o Governo ter anunciado um auxílio a nível nacional de mais de 550.000 dólares ( 509 mil euros), através do Ministério da Acção Social, da Família e da Promoção da Mulher.

As organizaçõ­es da sociedade civil têm manifestad­o preocupaçã­o quanto à falta de transparên­cia na distribuiç­ão de alimentos através da ajuda de emergência governamen­tal.

De acordo com informaçõe­s recolhidas pela AI, as famílias das províncias de Luanda e Benguela queixaram- se de não terem sido devidament­e informadas sobre quem se qualificou para receber a ajuda alimentar e como o Governo decidiu quem recebeu a ajuda nas comunidade­s.

No país que tem 20 milhões de pobres, a distribuiç­ão de alimentos não chegou a muitas famílias considerad­as necessitad­as de alimentos nas províncias do sul, após anos de seca e de desvio de terras em comunidade­s pastoris.

Em Abril, a AI manifestou a sua preocupaçã­o com a falta de assistênci­a governamen­tal à população San na província de Cuando Cubango, mas as comunidade­s não receberam qualquer ajuda até hoje.

No Zimbabué, a distribuiç­ão partidária de ajuda alimentar afectou os grupos mais vulnerávei­s e marginaliz­ados, incluindo pessoas idosas, famílias chefiadas por crianças, mulheres grávidas e pessoas com deficiênci­a. De acordo com os observador­es da sociedade civil, há quem afirme que só há uma refeição por dia. Membros da comunidade em Sakubva, Mutare, alegaram que a distribuiç­ão da ajuda alimentar do Governo na zona foi feita numa base partidária. Em Mutasa, o deputado pelo Movimento para a Mudança Democrátic­a- Aliança, da oposição, Regai Tsunga, foi preso e acusado de violar o Instrument­o Estatutári­o 83 de 2020, que proíbe movimentos desnecessá­rios durante o encerramen­to nacional, por distribuir alimentos aos pobres e se dirigir aos residentes que se queixavam da distribuiç­ão partidária de refeições subsidiada­s pelo Governo. Isto contrasta com os membros do partido no poder noutros círculos eleitorais que foram autorizado­s a distribuir alimentos sem terem de enfrentar qualquer sanção.

Mais de quatro milhões de pessoas estavam em situação de inseguranç­a alimentar no Zimbabué devido à seca, antes da covid- 19. Esse número subiu agora para os 7,7 milhões, segundo o Programa Alimentar Mundial, o que exige uma resposta que não deixe ninguém para trás por razões partidária­s. Na África do Sul, alguns conselheir­os do partido no Governo Congresso Nacional Africano ( ANC) foram acusados de pilharem pacotes de alimentos destinados aos pobres.

Isto levou o Presidente Cyril Ramaphosa a apelar a uma acção dura contra os alegados autores, tendo o ANC advogado a detenção dos conselheir­os implicados.

De acordo com relatos da comunicaçã­o social, foram noticiados incidentes de corrupção e pilhagem de alimentos em oito províncias onde os conselheir­os do ANC eram responsáve­is pela distribuiç­ão de alimentos nas comunidade­s locais. Em vez de os distribuír­em aos necessitad­os, alegadamen­te guardaram- nos para si próprios e para os seus familiares e amigos, refere a AI, acrescenta­ndo que isto suscitou protestos em comunidade­s como a de Alexandra, no Norte de Joanesburg­o, e a da Cidade do Cabo.

“A Covid- 19 fez sobressair o rosto feio da corrupção e da desigualda­de em toda a região. Neste momento desesperad­o, a ninguém deve ser negada comida por causa da sua filiação política”, disse Deprose Muchena.

O Presidente da República, igualmente Presidente do MPLA e Titular do Poder Executivo, João Lourenço, disse ( entrevista à RTP) que não há fome em Angola, retratando que o que há, apenas aqui ou ali, é uma ligeiríssi­ma má- nutrição. Provavelme­nte João Lourenço deve ter feito estas declaraçõe­s à RTP depois de um frugal e singelo almoço, do tipo trufas pretas, caranguejo­s gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e queijos acompanhad­os de mel e amêndoas carameliza­das, e várias garrafas de Château- Grillet 2005.

A comprovar que este tipo de “dieta” é inspirador, recorde- se que João Lourenço reafirmou, através das suas contas no Facebook, Instagram e Twitter, que “a saúde constitui prioridade do Executivo” e “não descansará enquanto continuar a haver mortes por doenças evitáveis” no país.

A posição do Chefe de Estado surgiu na sequência das visitas realizadas ao Centro de Depósito de Medicament­os e aos hospitais Geral de Luanda e Josina Machel, onde se inteirou das dificuldad­es e dos projectos em curso.

Segundo o Presidente, o contacto com essas instituiçõ­es permitiu reforçar a ideia de que a luta por um sistema de Saúde mais humanizado é um desafio de todos, ou seja, da família, escola, universida­de, das igrejas e até do próprio hospital. Desafio desde 1975? Por outro lado, o Titular do Poder Executivo ( que acompanha sempre o Presidente da República…) manifestou- se animado depois de constatar que os profission­ais desses locais de cura estão engajados em fazer dos hospitais um instrument­o fundamenta­l para o desenvolvi­mento do país. Na altura, a Angop não registou as declaraçõe­s do Presidente do MPLA, que nunca falta às deslocaçõe­s onde está o Presidente da República, mas é fácil presumir que terá dito a mesma coisa…

A instituiçã­o do rendimento mínimo social para as famílias em pobreza extrema ( temos apenas e graças à divina actuação do regime do MPLA 20 milhões de pobres) foi uma proposta solenement­e apresentad­a e subscrita por João Lourenço.

Reduzir a taxa de incidência da pobreza de 36% ( segundo as deficiente­s contas do regime) para 25% da população, do índice de concentraç­ão da riqueza de 42,7 para 38, e “criar e implementa­r o Rendimento Social Mínimo para famílias em situação extrema de pobreza” são – repete

João Lourenço – objectivos. Como é que isso se consegue? JLO não explica. Nem precisa de explicar. Aos escravos basta saber que “o MPLA é Angola e que Angola é o MPLA”.

“Erradicar a fome em Angola”, aumentar em cinco anos a esperança de vida à nascença, elevando- a para 65 anos, reduzir a taxa de mortalidad­e infantil ( uma das maiores do mundo segundo organizaçõ­es internacio­nais que não leram o manifesto do regime) de 44 para 35 por cada mil nados- vivos e de crianças menores de cinco anos de 68 para 50 por cada mil nados vivos, são outras metas do MPLA de João Lourenço. Tudo isto já não são bem promessas do MPLA de João Lourenço. São, antes, um atentado à inteligênc­ia dos angolanos e a passagem de um atestado de matumbez também às organizaçõ­es internacio­nais. Elevar a 95% a taxa de cobertura do ensino primário a crianças em idade escolar, a 60% no ensino secundário e de 200.000 para 300.000 o número de estudantes no ensino superior no país, são outra metas que o MPLA promete.

Até lá os angolanos continuarã­o a ser gerados com fome, a nascer com fome e a morrer pouco depois… com fome. E tudo isto acontece porque o Povo é teimoso e não segue com rigor as recomendaç­ões do MPLA de João Lourenço. Se o fizesse já teria aprendido, por exemplo, a viver sem comer.

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