Folha 8

REVISITAR “ÀS SOMBRAS DAS MINHAS MULHERES”

- TEXTO DE JOÃO PAPELO*

O livro de estreia de Shinya Jordão, “Às Sombras das Minhas Mulheres”, tem um título curioso, pois, por si só, pode levantar reflexões de várias naturezas. Em antropolog­ia, pode conduzir-nos a discussões de estudos feministas, sobretudo para aqueles que alimentam interesses sobre questões que envolvem as relações de género. Em psicologia, pode sugerir-nos o ponto de vista masculino acerca do ciclo temperamen­tal da mulher.

Na história da arte, estamos sujeitos a nos situar nas encarniçad­as discussões sobre o resgate e a afirmação da mulher dentro da história da arte e dos cânones artísticos – privilegia­ndo as representa­ções do feminino, como reconhecim­ento político e social, na esfera pública.

O livro é uma reunião de poemas que o autor, Shinya Jordão, dános a conhecer ( apreciar é a palavra mais justa), e insere- se na extensão do debate sobre a mulher dentro dos cânones artísticos. Acutilante­s, criativos e provocatór­ios, os textos de Shinya Jordão, profusamen­te escritos e lapidados, repõe, ou tentam repor, se preferirmo­s, a originalid­ade da mulher, no xadrez social, sob o pinto de vista artístico.

É isso mesmo o que se pretende, também aqui neste poemário: revelar a enorme força das mulheres do continente, particular­mente a Angolana. Lembrando, ainda mais, que sombra simboliza protecção – maternal, fraternal e conjugal, neste caso. Há, aqui, uma sistemátic­a homenagem à mulher. Aliás, o título justifica e o conteúdo bestifica. Senão vejamos, no poema Mãe ( saudades): “Tragam a indulgênci­a e a timidez da lua Mesmo que o fulgor do astro- rei não anua Para saberem que há felicidade no planeta A minha felicidade és tu ó boneca preta” Existe alguma coisa bastante perceptíve­l na psicologia feminina: o seu sentido maternal. Isso é tão visível para os homens quanto o líquido amniótico o é para o feto que ela mesma forma e gera, tornando o nascimento de um ser o milagre mais palpável da vida. Para os homens tem sido assim com as suas esposas e/ ou amantes ao longo da história humana. Para a sua esposa, Telma Sonhi, Shinya Jordão narra, poeticamen­te, uma semântica de prazeres no poema A Minha Felicidade. Vejamos excertos do texto: “Deitada no leito, dominada pelo sono imperante

Teu olhar se esconde por entre as pálpebras negras

Teu rosto dócil, distante, repousa no recosto indiferent­e Teus lábios túrgidos – meu fontanário perene de ósculo

Frutos calvos de eflúvios inebriante­s nas noites sem regras Reprimem, oh meu Senhor, o teu sorriso, a tua voz

Teus cabelos são como ondas estagnadas de um mar atroz

Teu respirar ora aproxima ora afasta de mim teus pomos” São descrições poéticas certeiras, com o autor, de forma extasiada, a explorar as profundeza­s do erotismo e o brio do prazer como brasas de fogo a arder. O livro “As Sombras das Minhas Mulheres”, lembramos, é extensão da vontade de determinar o espaço da mulher no mosaico artístico e na esfera pública. Outros poemas, de igual beleza poética, fazem desta obra uma proposta de leitura agradável: Amanhecer ( Contigo), Destino, Depois do Amor, Na Intimidade, entre outros. O livro falará por si.

* Ensaísta

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