Folha 8

À PROCURA DE SOLUÇÕES

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Um estudo da Universida­de Católica de Angola sugere o diferiment­o de impostos e pagamentos à Segurança Social para gerar liquidez para as empresas angolanas afectadas pela pandemia, calculando que as medidas poderiam libertar até mil milhões de dólares. O impacto seria dez vezes superior ao pacote financeiro do Governo angolano, indica o estudo “Covid- 19: Impactos económicos e sociais em Angola”, do Centro de Estudos e Investigaç­ão Científica ( CEIC) da Universida­de Católica de Angola, que propõe uma moratória até 2021 do pagamento do Imposto Industrial ( II), do Imposto sobre o Rendimento do Trabalho ( IRT) e da Segurança Social.

As medidas alternativ­as sugeridas pelo CEIC equivalem a um pacote financeiro 10 vezes superior ( 1,7% do Produto Interno Bruto) ao do Governo, que ronda os 100 milhões de dólares ( 92 milhões de euros). No limite, “deveria haver uma complement­aridade entre o pacote definido por este último e o proposto pelo CEIC, o que correspond­eria a um estímulo de 1,85% do PIB no total”, sublinha- se no documento. Segundo o estudo, deve ser dada prioridade às empresas intensivas em mão- de- obra e cuja actividade tenha sofrido grande baixa devido à declaração do estado de emergência, que vigora em Angola desde 27 de Março e foi prorrogado três vezes. Sectores como os da hotelaria, restauraçã­o, comércio no geral, construção e educação poderão em breve começar a registar despedimen­tos em massa e as pequenas e médias empresas que não falirem terão grandes dificuldad­es de cumprir os seus compromiss­os fiscais, colocando o tesouro nacional em dificuldad­es prementes, adianta o CEIC.

“É verdade que uma medida destas deixaria o tesouro nacional numa situação muito complicada, sendo que já se prevê um rácio dívida/ PIB para o próximo ano acima dos 130% do PIB. Mas não podemos perder de vista que não é altura para se pensar em restrições orçamentai­s. O choque de liquidez é enorme. E pode escalar rapidament­e para insolvabil­idade”, alertam os peritos do CEIC Alves da Rocha, Francisco Paulo, Carlos Vaz, Precioso Domingos, Regina Santos e Teúrio Marcelo.

O estudo refere que o pacote financeiro aprovado pelo Governo para ser disponibil­izado às empresas “é inócuo”, pela sua dimensão, e avisa que, se as empresas começarem a declarar falência, a retoma do cresciment­o poderá ser adiada para o final desta década. Segundo os investigad­ores, se for concedida uma moratória até ao final do ano para o pagamento do II permitirá que cerca de mil milhões de dólares ( 924 milhões de euros) circulem na economia através das empresas. “Que tal permitir que as empresas paguem apenas o II no final do ano dando assim a possibilid­ade de estas usarem tais fundos para o pagamento de salários e para o reinvestim­ento nas suas operações quando retomarem plenamente as suas actividade­s”, sugere o CEIC, estimando que o Diferiment­o do Pagamento do Imposto Industrial de 2019 para 2021 teria um impacto de 561 milhões de dólares ( 518 milhões de euros).

“É verdade que tal decisão poderá provocar dificuldad­es ao nível das finanças públicas, mas a estabilida­de das empresas deveria estar acima, pois estas é que muito contribuem para as receitas fiscais e para a geração e manutenção de empregos”, contrapõem os autores do documento. Quanto à Segurança Social, o diferiment­o do pagamento das contribuiç­ões entre Abril e Dezembro, teria um impacto de 193 milhões de dólares ( 178 milhões de euros). Os critérios de elegibilid­ade para esta medida podiam ser: empresas intensivas em mãode- obra, com dificuldad­es sérias de tesouraria ( comprováve­l) e com bom histórico de cumpriment­o das suas obrigações perante a Segurança Social.

Já o diferiment­o do pagamento do IRT representa­ria 319 milhões de dólares ( 295 milhões de euros) nos cálculos do CEIC. No total, o impacto das medidas propostas pelo CEIC seria de 1.073 milhões de dólares ( 992 milhões de euros). Quanto à dívida externa, o centro recomenda que o Governo aproveite esta oportunida­de para renegociar com os seus principais credores no sentido de obter um período de carência de pelo menos até ao final do ano.

A diminuição de importaçõe­s devido à Covid- 19 pode beneficiar a agricultur­a e o comércio de bens alimentare­s em Angola, sectores a que o Governo deve dar prioridade para garantir segurança alimentar, segundo o mesmo estudo que, aliás, considera que a crise pode trazer grandes oportunida­des de negócio para a agricultur­a (a familiar em particular) e do comércio de bens alimentare­s.

“Com a diminuição das importaçõe­s estes sectores poderão beneficiar de uma procura adicional pelo que achamos o foco da protecção do Governo às empresas deve priorizar estes dois sectores como formas de garantir a segurança alimentar e impedir a agudização da pobreza extrema que poderá facilmente resvalar para episódios de fome, principalm­ente nos centros urbanos”, defendem os investigad­ores do CEIC.

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