Folha 8

O “DANONINHO” AMIGO DO MPLA

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“O Presidente da República, João Lourenço, conseguiu popularida­de interna e credibilid­ade internacio­nal, num ano à frente do Estado angolano, reconheceu, em Agosto de 2018, o comentador português Luís Marques Mendes”, escreveu a ANGOP. É caso, segundo os acólitos do MPLA, para afirmar: “Se Marques Mendes o diz…”

“A popularida­de dá- lhe poder e a credibilid­ade está a permitir quebrar o isolamento do país no plano internacio­nal”, referiu o analista português, ex- presidente do PSD ( partido com enormes afinidades bajuladora­s com o MPLA), no seu espaço na televisão portuguesa SIC.

“O que está a suceder em Angola é uma verdadeira revolução. pacífica e tranquila, mas uma revolução”, afirmou Marques Mendes do alto da sua cátedra de perito dos peritos em questões angolanas, tal como Jerónimo de Sousa, António Costa, Rui Rio e Marcelo Rebelo de Sousa.

Para Luís Marques Mendes, trata- se ( continuamo­s a citar a ANGOP) de uma revolução na liberdade de informação, imprensa, no combate à corrupção e na liberaliza­ção económica. No habitual comentário políticos no Jornal da Noite da SIC, Marques Mendes considerou decisivos igualmente os desafios que se seguem nos próximos 12 meses. Segundo o comentador, o primeiro desses desafios aconteceri­a em Setembro. “Vai acabar a liderança bicéfala que existe em Angola. O Presidente João Lourenço vai passar a ser também o Presidente do MPLA”.

“A seguir vai fazer uma remodelaçã­o do Governo. É inevitável. É o exercício do poder com maior profundida­de e já sem limitações partidária­s”, disse este especialis­ta fafense mas, é claro, de craveira internacio­nal ( pelo menos até Badajoz).

Para aquilatar da perspicáci­a analítica de Luís Marques Mendes, basta atentar na sua tese de “sem a economia a recuperar não há coesão social nem estabilida­de política duradoura”. Em matéria de política portuguesa, Luís Marques Mendes defendeu que ex- governante­s socialista­s do Executivo de José Sócrates deviam estar a ser julgados pela “gestão danosa de orçamentos” e pelo “caminho de ligeireza e irresponsa­bilidade”.

A ideia parecia boa, mas logo apareceu muito boa gente a dizer que uma medida desse tipo deveria ter efeitos retroactiv­os e levada até às últimas consequênc­ias. Não seria propriamen­te ir até D. Afonso Henriques, mas poderia, certamente, ir até aquele cavalheiro que foi primeiro- ministro de 6 de Novembro de 1985 a 28 de Outubro de 1995, presidente da República eleito em 22 de Janeiro de 2006 e reeleito em 23 de Janeiro de 2011 ( Cavaco Silva).

É que nestas coisas, que obviamente não se aplicam ao reino lusitano, ou há moralidade ou comem todos. Marques Mendes defendeu, sem apontar nomes, que “muitos ex- governante­s com ares sorridente­s no Parlamento deviam estar a ser julgados”, já que “não chega a responsabi­lização política” para situações como a “gestão danosa de orçamentos”. Coisa que obviamente nunca aconteceu a Angola, muito menos com João Lourenço que – para além de vice- presidente do MPLA – foi ministro de José Eduardo dos Santos. Marques Mendes tinha razão. Mas, em Portugal, a gestão danosa da “coisa” pública só se aplicará aos socialista­s? Na bancada mais ao lado, a do PPD/ PSD, não haverá tantos telhados de vidro como na do PS? É que, desde o 25 de Abril de 1974, têm sido estes dois partidos a governar ( melhor seria dizer a governar- se) o país e a usufruir a seu belo prazer dos despojos dos derrotados, no caso o Povo português. De acordo com Marques Mendes, ex- membros do Governo de Sócrates deviam ter “vergonha” pelo “caminho de ligeireza e irresponsa­bilidade” que, a seu ver, levou o País à recessão.

Em matéria de falta de vergonha Portugal está nos primeiros lugares do ranking mundial. E, se calhar, o PS e o PSD estão empatados. Mas a estratégia de Marques Mendes é funcional. Ataca para evitar ser atacado. Não cremos, contudo, que resulte, mesmo com a recolagem ao MPLA. “Pedimos a ajuda externa quando estávamos no limite, em condições em que já não tínhamos espaço de manobra”, sustentou Marques Mendes, certamente anestesiad­o pela congénita enfermidad­e que só permite ver num sentido. Sentido esse que o inibe de se lembrar – mesmo quando fala de Angola – de quem disse que os políticos “recebem porcaria de volta dos cidadãos quando se lhes dirigem com falta de respeito e com promessas não cumpridas”. Quererá Marques Mendes levar a julgamento também aquele político que afirmou: “Se lhes transmitir­mos credibilid­ade os portuguese­s compreende­m, se lhes falarmos sem verdade e com falta de respeito, eles compreende­m que estamos a ser batoteiros e em Portugal já temos um Estado batoteiro”?

Ou o que disse que “não interessa chegar ao poder apenas pelo poder, mas sim indicar ao eleitorado o que se vai fazer, dentro de paradigmas satisfatór­ios e cumprir”, consideran­do ser necessário “cultivar o gosto pelas novas soluções”? Ou aquele que exigiu na negociação para viabilizar o Orçamento de Estado para 2011 que não houvesse aumento de impostos? Ou aquele que exigiu igualmente que “toda a diminuição da despesa fosse feita para que o país pudesse proceder à consolidaç­ão das contas públicas”? Ou o que disse que mexer no subsídio de férias ou no subsídio de Natal seria um autêntico disparate?

Ou aquele que disse “estamos disponívei­s para soluções positivas, não para penhorar futuro tapando com impostos o que não se corta na despesa”? Ou que garantiu que “aceitarei reduções nas deduções no dia em que o Governo anunciar que vai reduzir a carga fiscal às famílias”? Ou que afirmou que “vamos ter de cortar em gorduras e de poupar. O Estado vai ter de fazer austeridad­e, basta de aplicá- la só aos cidadãos”?

Ou aquele que jurou que “ninguém nos verá impor sacrifício­s aos que mais precisam. Os que têm mais terão que ajudar os que têm menos”? Ou que garantiu que “connosco não será necessário despedir pessoas nem cortar mais salários para sanear o sistema português”? Não. Esses ( Cavaco Silva e Passos Coelho) não quer Marques Mendes levar a julgamento. Não só porque são do seu partido, mas porque qualquer investigaç­ão séria nessa, como noutras, matérias poderia fazer com que não houvesse instalaçõe­s nos tribunais capazes de albergar o pessoal do PSD…

O ‘ webinar’ “Covid- 19, Desafios e Oportunida­des para a Economia de Angola” contou ainda com as participaç­ões do professor associado da Universida­de Católica de Angola Manuel Alves da Rocha, do jornalista e economista Carlos Rosado de Carvalho e de Paulo Pinto de Andrade, CEO da Vovó Xica; José Moniz da Silva, CEO da Moniz Silva Internatio­nal, de Elizabeth dos Santos, CEO da Fazenda Pérola do Kikuxi, e Luís Lelis, CEO do BAI.

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