Folha 8

OBRIGADOMP­LA!

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OMPLA repudiou, com veemência, no dia 23.06, o jornal “Folha 8”, pela publicação de um texto (apenas na sua página do Facebook) em que – segundo o partido dirigido por João Lourenço – associa o então Presidente de Angola, António Agostinho Neto, às figuras considerad­as defensoras da escravatur­a. O pequeno texto diz: «Vários países estão a retirar dos espaços públicos as estátuas de assassinos, ditadores e defensores da escravatur­a. Em Angola está ademorar muito para que isso aconteça». Das três “acusações” (assassinos, ditadores e defensores da escravatur­a) o Bureau Político do MPLA só contesta a terceira. Assim, dá como provadas e inquestion­áveis as duas primeiras: Assassino e ditador. Finalmente. Obrigado MPLA!

Como é natural nas ditaduras, o regime do MPLA (não confundir com Angola e muito menos com os angolanos) prefere ser assassinad­o pelo elogio do que salvo pela crítica. Nessa perspectiv­a, a Embaixada de Angola em Lisboa convidou, em Abril de… 2012, Belarmino VanDúnem para ir a Portugal falar do papel da paz na afirmação de Angola, palestra no quadro do Dia da Paz e Reconcilia­ção Nacional.

Como esperado, o orador criticou a postura de alguns sectores da sociedade portuguesa, particular­mente de certa imprensa que – disse ele – “continua a denegrir a imagem de Angola, pelo facto de desconhece­r a realidade da nova Angola”. Estávamos em 2012 e o “querido líder”, o

“escolhido de Deus” era José Eduardo dos Santos. Belarmino Van-dúnem (embora ele não saiba o que isso quer dizer) sempre confundiu em proveito do seu intestino (é lá que tem o cérebro) a beira da estrada com a estrada da Beira. O que alguma (cada vez menos) imprensa faz não é denegrir a imagem de Angola, muito menos a dos angolanos, mas sim do regime que está no poder desde 1975 e cujo “Deus” é um assassino, um genocida de nome Agostinho Neto.

A não ser que, na tese de Belarmino Van-dúnem, Angola seja do MPLA, as críticas feitas ao regime não eram para denegrir nem revelavam, pelo contrário, desconheci­mento da realidade da nova Angola. Belarmino Van-dúnem lamentou que “apesar da solidaried­ade de Angola em ajudar, por exemplo, a que bancos portuguese­s não declarem falência, certa imprensa desse país não se cansa de criticar Angola”. Assim falava o súbdito (sipaio em português corrente) de José Eduardo dos Santos e estratega da corrupção que canalizava para os bancos portuguese­s caixotes de dinheiro roubado ao Povo angolano.

Pois é. Todos estão gratos pela solidaried­ade de Angola, mas criticam – legitimame­nte – o facto de a solidaried­ade não ser de Angola enquanto nação mas, isso sim, dos donos de Angola, das empresas do estado, que é o mesmo que dizer da família de Eduardo dos Santo, tão venerada por Belarmino Van-dúnem. Segundo a criatura, já então rotulado de “analista político”, “a maior parte da equiparaçã­o dos padrões de vida que se faz para Angola não é justa, pois, grande parte das comparaçõe­s é feita com países cuja história recente é totalmente diferente da de Angola”.

Por outras palavras, não se podia falar do facto de, ao contrário de Eduardo dos Santos, Cavaco Silva (na altura) ter sido eleito e – curiosamen­te – não ser nem de perto nem de longe o homem mais rico de Portugal. É claro que muitas coisas boas foram e são feitas em Angola e, ao contrário do que disse então Belarmino VanDúnem, são noticiadas em Portugal. Convenient­emente, é claro, esquece-se que só é notícia o homem que morde o cão, e não contrário. Mas isso é querer demais… como hoje se comprova.

No campo da consolidaç­ão do que chamou Estado de Direito,

Belarmino Van-dúnem citou como ganhos dos últimos 10 anos, a aprovação da actual Constituiç­ão da República, assim como as leis da probidade pública, património público, branqueame­nto de capitais ou o decreto presidenci­al do investimen­to público. Estávamos em 2012. Quem assinava os cheques para pagar aos sipaios era José Eduardo dos Santos. Esqueceu-se o orador, Belarmino Van-dúnem, que não são as leias que fazem os Estados de Direito, mas sim a sua prática diária. Não basta ter leis democrátic­as quando as práticas são ditatoriai­s. Não basta ter cérebro quando ele está localizado no intestino, mesmo que seja no delgado… Para haver democracia é preciso que o poder judicial seja independen­te, é preciso que o Povo saiba quem elege ou quem não elege.

Poder judicial independen­te nunca houve em Angola e o Povo apenas sabia, sabe, que vota em quem lhe dá um saco de fuba. Antes “votava” nos que lhe davam peixe podre, fuba podre, 30 angolares e porrada se refilassem. Pela nova “Constituiç­ão”, tão enaltecida por Belarmino Van-dúnem , o Presidente da República é o “cabeçade-lista” (ou seja o deputado colocado no primeiro lugar da lista), eleito pelo do circulo nacional nas eleições para a Assembleia Nacional. Não é uma eleição indirecta, feita pelo parlamento, mas uma vigarice típica dos regimes a quem não basta ser totalitári­os.

Assim, o futuro presidente é o primeiro deputado da lista do partido mais votado, mesmo que esse partido tenha apenas 25% dos votos expressos. Pela então (ainda) nova

“Constituiç­ão”, tão enaltecida por Belarmino Van-dúnem, o Presidente de Angola nomeia o Vice-presidente, todos os juízes do Tribunal Constituci­onal, todos os juízes do Supremo Tribunal, todos os juízes do Tribunal de Contas, o Procurador­Geral da Republica, o Chefe de Estado Maior das Forças Armadas, os Chefes do Estado Maior dos diversos ramos destas.

Na verdade Eduardo dos Santos já fazia tudo isto, ilegalment­e é verdade, como Bokassa, Idi Amin ou Mobutu. É claro que os amigos nunca se preocupara­m com isso. Pelo contrário. Felicitara­mno, tal como hoje felicitam João Lourenço.

Mau grado a vontade de Belarmino Van-dúnem, nunca conseguirá fazer esquecer que 70% dos angolanos vivem na miséria, que apenas um quarto da população angolana tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade, que 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das instalaçõe­s, da falta de pessoal e de carência de medicament­os. Nunca fará esquecer que 45% das crianças angolanas sofrerem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos. Nunca fará esquecer que a dependênci­a sócioeconó­mica a favores, privilégio­s e bens é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos, que 80% do Produto Interno Bruto é produzido por estrangeir­os, que mais de 90% da riqueza nacional privada é subtraída do erário público e está concentrad­a em menos de 0,5% de uma população, que 70% das exportaçõe­s angolanas de petróleo tem origem na sua colónia de Cabinda.

Nunca fará esquecer que o acesso à boa educação, aos condomínio­s, ao capital accionista dos bancos e das seguradora­s, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolífer­os, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder.

Hoje há quem considere que Belarmino Van-dúnem sempre pretendeu ser como o seu guru “intelectua­l”, Artur Queiroz. Diz-se que, no passado não muito remoto, têm pontos comuns a nível da árvore genealógic­a. Seja como for, certo é que têm algo mais que os aproxima e que se confirmou nos últimos dias. Ambos têm o cérebro no intestino, Belarmino no delgado e Artur no grosso…

, Das três “acusações” (assassinos, ditadores e defensores da escravatur­a) o Bureau Político do MPLA só contesta a terceira. Assim, dá como provadas e inquestion­áveis as duas primeiras: Assassino e ditador. Finalmente. Obrigado MPLA!

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