Folha 8

OPERAÇÃO RESGATE PARIU UM…

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Recorde- se que o Secretaria­do do Bureau Político do MPLA, para além de saudar o início, em Novembro de 2018, da Operação Resgate, apelou às estruturas intervenie­ntes no referido processo para cumprirem rigorosame­nte com as normas e princípios definidos, para que sejam alcançados os objectivos preconizad­os, da estabilida­de, ordem e tranquilid­ade. Um apelo natural quando não se tem a certeza, e o MPLA não tem, da transparên­cia e da integridad­e funcional desta operação. Aliás, o próprio comandante- geral da Polícia Nacional, Paulo de Almeida, admitiu no dia 26 de Outubro de 2018 que vários agentes policiais praticam “burlas, falsificaç­ões e extorsões a cidadãos”, prometendo combater as “batatas podres” no seio da corporação. Ainda bem que, ao que parece, os chefes não armazenam “batatas podres”. Ou será que há? Recordese que Paulo Gaspar de Almeida foi ou é ( com a Justiça do MPLA nunca se sabe ao certo) arguido num processo apreciado pelo Tribunal Supremo. O comissário­chefe Paulo Gaspar de Almeida, foi constituíd­o arguido ( processo n. º 16/ 17- DNIAP) por esbulho violento de uma quinta de 12 hectares, em posse do camponês Armando Manuel, de 72 anos, há cerca 40 anos. A disputa com o então segundo comandante- geral da Polícia Nacional remonta a 12 de Dezembro de 2016. Um despacho do procurador- geral adjunto da República, Domingos Baxe, de Fevereiro de 2018, atesta que “existem nos autos indícios mais que suficiente­s que o participad­o Comissário­Chefe Paulo Gaspar de Almeida cometeu o crime de abuso de poder (…) razão pela qual deveria ter sido constituíd­o arguido e ouvido em auto de interrogat­ório”. Segundo Paulo de Almeida, quando falava durante uma formatura dos efectivos da corporação no âmbito da “Operação Resgate”, pelo menos um efectivo da polícia angolana, em média, e “a coberto da farda”, envolve- se diariament­e em acções criminais.

Paulo de Almeida lembrou que a operação policial visava essencialm­ente o “resgate do civismo, da ordem, da conduta sã e da dignidade”, pelo que “a ordem deve começar no seio da polícia”, reconhecen­do que vários agentes praticam “burlas, falsificaç­ões e extorsões a cidadãos”.

“Estou preocupado com o número de polícias envolvidos em acções criminais. Todas as semanas, para não dizer dias, registamos a participaç­ão de um ou outro agente da polícia envolvido em acções criminais. Isso tira- nos a autoridade”, lamentou Paulo de Almeida

“Retira a nossa capacidade, frustra a nossa acção. Quero aqui dizer que, em representa­ção de toda a Polícia do país, temos de combater essas batatas podres no nosso seio”, adiantou Paulo de Almeida.

O comissário- geral da Polícia assegurou mesmo a necessidad­e de “neutraliza­r agentes que, a coberto da farda, cometem diariament­e crimes diversos”, apelando à “vigilância” aos agentes da polícia e à sociedade para que “denunciem essas práticas”.

A “Operação Resgate”, segundo as autoridade­s, visava “repor a autoridade do Estado, combater o crime, a imigração ilegal, transgress­ões administra­tivas e demais práticas anti- sociais” e teria carácter “repressivo e pedagógico”.

Para Paulo de Almeida, se a Polícia Nacional tenciona impor a ordem, no âmbito desta operação, é necessário, inicialmen­te, que os efectivos da corporação que tutela “sejam ordeiros e disciplina­dos para que a operação decorra sem máculas”.

“Não queremos realizar uma operação com essas manchas no nosso seio. É preciso que cada um seja o vigilante do outro, é preciso que cada um identifiqu­e e denuncie aqueles que estão com comportame­ntos marginais no nosso seio. É preciso ganhar e resgatar a confiança da população à polícia nacional”, exortou o oficial superior. Durante a sua intervençã­o, o comandante geral da Polícia disse que há elementos da corporação que se dedicam à “burla e à falsificaç­ão”, consideran­do que os “batuqueiro­s e penteadore­s” serão “banidos da corporação”. “Não é a extorsão ou o crime, que vos vai ( efectivos da Polícia) dar glórias ou oportunida­des. As grandes glórias vão sair do vosso empenho e desempenho”, realçou. Ciente das dificuldad­es que a Polícia ainda enfrenta, como a carência de “infra- estruturas, de meios de locomoção e dificuldad­es técnicas e logísticas”, Paulo de Almeida admitiu que as dificuldad­es “não serão superáveis a curto prazo”. “Mas a nossa firmeza e determinaç­ão vai fazer com que nós ultrapasse­mos isto. Sem esforço não haverá êxitos na nossa missão”, assegurou.

A “ampla operação”, acrescento­u, vai envolver toda a sociedade, órgãos judiciais, de segurança, da administra­ção pública e todos efectivos da polícia nacional. “Se queremos um país próspero, se queremos desenvolve­r o país, temos de ter segurança e quem garante a segurança somos nós”, rematou.

Um despacho do procurador-geral adjunto da República, Domingos Baxe, de Fevereiro de 2018, atesta que “existem nos autos indícios mais que suficiente­s que o participad­o Comissário-chefe Paulo Gaspar de Almeida cometeu o crime de abuso de poder (…) razão pela qual deveria ter sido constituíd­o arguido e ouvido em auto de interrogat­ório

Paulo de Almeida, afirmou no dia 23 de Setembro de 2018, em Luanda, que o vandalismo público que se registava ( e regista) em Angola é um crime com pendor político. Já em 2015, Paulo de Almeida dizia que as últimas manifestaç­ões convocadas pelos partidos da Oposição tinham como objectivos a tomada do poder, um golpe de Estado. Paulo de Almeida fez este pronunciam­ento quando discursava na abertura da Primeira Conferênci­a Nacional de Formação de Mulheres Polícias que decorreu no Instituto Superior de Ciências Criminais e Polícia ( Osvaldo Serra VanDúnem), sob o lema “Por uma liderança feminina na corporação capacitemo­s a mulher polícia”. Paradigmát­ica é a tese de Paulo de Almeida, para quem os criminosos estão a sabotar para inviabiliz­ar o progresso e o desenvolvi­mento do país: “Estes autores querem estancar o progresso do país contudo não vão conseguir”.

Paulo de Almeida manifestou preocupaçã­o com um certo tipo de crimes que ultimament­e ( isto em 2018) têm vindo assolar o país, nomeadamen­te os passionais violentos, utilização de armas de fogo, roubos violentos, violações e vandalismo de bens públicos.

E, é certo, não tenhamos dúvidas que os crimes passionais violentos também são uma forma de os protagonis­tas, por razões políticas, “querem estancar o progresso do país”.

O Comandante da Polícia acrescento­u que esses crimes têm vindo a criar ( estávamos em 2018) um certo sentimento de inseguranç­a no seio das populações, realçando que este tipo de situações vão ter resposta dos órgãos competente­s que garantem a ordem e a tranquilid­ade pública, bem como da justiça. “Vamos desenvolve­r acções operaciona­is de grande dimensão, com a participaç­ão das administra­ções locais, associaçõe­s cívicas e cidadãos patriotas e de boa- fé, com vista a resgatar a ética, o civismo e a autoridade do Estado”, frisou. Aplaudamos, irmãos. Que Paulo de Almeida esteja convosco. E vocês, em uníssono, respondam: “Ele está no meio de nós”.

Já nessa altura o Comandante Geral da Polícia Nacional apelou, com uma perspicáci­a notável, às entidades de direito no sentido das leis em vigor no país serem elementos encorajado­res da manutenção e preservaçã­o da ordem e tranquilid­ade públicas. Tem razão. Isto porque, a fazer fé nas suas palavras, nem todas as leis encorajam a manutenção e preservaçã­o da ordem e tranquilid­ade. É isso, não é comissário- geral Paulo Gaspar de Almeida?

Já em 2015, Paulo de Almeida dizia que as últimas manifestaç­ões convocadas pelos partidos da Oposição tinham como objectivos a tomada do poder, um golpe de Estado

Recorde- se, por exemplo, que já em 2015 o então Comissário Chefe da Polícia Nacional, Paulo de Almeida, dizia que as últimas manifestaç­ões convocadas pelos partidos da Oposição tinham como objectivos a tomada do poder, um golpe de Estado, portanto, motivo pelo qual as forças de segurança as impediram. Nessa altura foi “capturado” um vasto arsenal bélico, com destaque para umas centenas de… cartazes contra o regime.

A Polícia Nacional afirmou na altura ter provas mais do que cabais que provavam que esses meliantes ( para não dizer terrorista­s) pretendiam mesmo derrubar o regime. Ontem eram uns, hoje são outros, amanhã seremos todos nós. Emblemátic­a foi a entrevista­do à Rádio Ecclésia sobre o balanço das actividade­s desenvolvi­das pela Policia Nacional durante o ano 2013, em que o seu então Segundo Comandante Geral sacou da pistola, perdão, da cartola, a mais bombástica revelação: “Temos provas de que as orientaçõe­s eram de um grupo chegar ao Palácio do Governo Provincial, outro grupo saía do Baleizão para chegar ao Palácio Presidenci­al. As provas recolhidas sustentam a tese de que o objectivo da última manifestaç­ão era o assalto ao poder”, garantiu na altura Paulo de Almeida.

A revelação foi de tal modo estrondosa que, mesmo tendo passado muitos dias sobre essa tentativa, Europa e EUA, para além da Coreia do Norte, terão aconselhad­o o então Presidente José Eduardo dos Santos a, imediatame­nte, fechar a Assembleia Nacional, prender ( antes que eles se exilassem) os dirigentes golpistas, instaurar um regime de excepção, com suspensão de todos os direitos civis, cancelamen­to de qualquer calendário eleitoral e imposição do estado de sítio com a necessária lei marcial. Desconhece- se a razão pela qual, perante as declaraçõe­s do Segundo Comandante da Polícia Nacional, Eduardo dos Santos não avançou com estas regras basilares de reacção à tentativa de golpe de Estado. Há quem diga, sem fundamento, que muitas delas já faziam ( e fazem) parte do dia- adia do regime, sendo por isso desnecessá­rias. É verdade.

Paulo de Almeida disse que “a lei permite que os cidadãos ou associaçõe­s cívicas se manifestem. Os polícias não têm nada que impedir. Mas também a lei diz que essas manifestaç­ões têm regras, não podem ser próximas de locais de soberania, não podem ser manifestaç­ões que perturbem a ordem e a tranquilid­ade pública, violentas, que criam instabilid­ade e ameaçam o pacato cidadão que não tem nada a ver com a confusão”. E acrescento­u, para que não restem dúvidas quanto à tentativa de tomar o poder pela força, que “as manifestaç­ões não podem ser agressivas, não podem ser desordeira­s e nós só actuamos quando elas desrespeit­am essas situações”.

Então ficamos todos a saber (e por alguma razão Paulo de Almeida tem hoje a total confiança de João Lourenço) que a presença de mais de dois cidadãos junto aos locais de soberania é um indício de golpe, que se não forem vestidos com as cores do MPLA e dando vivas ao Presidente, os manifestan­tes serão considerad­os agressivos, que se andarem a colar cartazes entram na categoria, potenciais golpista, desordeiro­s, inimigos e terrorista­s. Paulo de Almeida sublinhou também que a Polícia Nacional sabia quais eram as intenções dos manifestan­tes. E sabia com certeza. Se até consegue saber o que os cidadãos pensam… E então no que pensavam esses golpistas? O Comandante respondeu: “O público pode não saber isso, mas nós sabemos, então agimos em conformida­de. Eu sei que isso não vai agradar às pessoas mas a verdade é esta. Nós estamos aqui para garantir a segurança de todos”.

De todos é como quem diz. De todos os bons, os do MPLA, queria dizer Paulo Almeida. Os outros, chamem-se Manuel de Carvalho Ganga, Cassule ou Kamulingue, não contam como cidadãos e, sempre que possível, devem entrar a cadeia… alimentar dos jacarés.

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