Folha 8

“INSANIDADE” DO GOVERNO NO CASO DE CABINDA

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Odeputado da UNITA, Raul Danda, considera “um a verdadeira insanidade” que o Governo angolano ( nas mãos do MPLA há 45 anos) negue a existência de um conflito armado em Cabinda, vendo “com mágoa” o papel de Portugal que, na verdade, sobre o assunto só diz o que o MPLA manda dizer. Raul Danda, deputado eleito pelo círculo de Cabinda, falava à margem de uma conferênci­a de imprensa do ‘ governo sombra’ da UNITA, no qual assume o cargo de primeiro- ministro, sobre a Situação Socioeconó­mica e Estado do Ensino em Angola. O dirigente da UNITA, maior partido da oposição que o MPLA ainda permite em Angola, reagia aos ataques militares anunciados nos últimos dias pela Frente de Libertação do Enclave de Cabinda ( FLEC), que lidera o conflito armado naquela província geografica­mente delimitada pela República Democrátic­a do Congo e pelo Oceano Atlântico, de que terão resultado várias mortes. “Acho que é uma verdadeira insanidade negar a existência do conflito em Cabinda, é uma insanidade chamar àquilo de incidentes, não é incidentes, há um conflito militar que ocorre em Cabinda”, referiu Raul Danda. A prova desse conflito, prosseguiu, tem estado a ser mostrada pela FLEC através de “vídeos e a anunciar datas”, inclusive, em que demonstram que “estão lá de pedra e cal, bem fardados, bem armados, e a criar problemas”. “Apesar de tudo o que se esconde, se se for a olhar para o Hospital Militar de Cabinda, os feridos, os mortos – que é possível recuperar, porque nem todos é possível recuperar, tendo em conta a densidade da floresta – todos passam por ali, e em Cabinda as pessoas sabem”, reforçou.

O deputado salientou que tem dito reiteradas vezes que quanto mais o Governo angolano adia o debate sobre a situação, “mais radicaliza os espíritos”.

Para Raul Danda, hoje a FLEC não pode ser vista apenas como uma organizaçã­o políticomi­litar, “mas é preciso que o Governo olhe para esta FLEC com um sentimento”.

“Há pessoas que estão em Cabinda, estão em qualquer outro sítio, mas são de Cabinda, e não são membros da FLEC, não têm qualquer filiação, ligação, à FLEC, e é isso que é preciso ver”, disse. Quanto ao papel de Portugal neste processo, Raul Danda declarou que é “com bastante mágoa e tristeza” que olha para as autoridade­s portuguesa­s. “Em tempos ouvi o Dr. Durão Barroso a reconhecer o erro que cometeu quando se associou ao ataque ao Iraque, e eu pensei cá com os meus botões, qualquer dia também os portuguese­s têm que vir reconhecer a grande falha que tiveram na descoloniz­ação desse país, desse território, e não o fazem, infelizmen­te”, referiu. De acordo com o deputado da UNITA, grande parte dos políticos portuguese­s “são aqueles que na altura em que estão na oposição dizem muitas verdades, mas basta chegar ao poder ficam todos alinhados com o Governo da Cidade Alta [ em Luanda, onde se encontra o Palácio Presidenci­al] por causa do dinheiro”. “Felizmente, já não têm dinheiro para corromper ou poder comprar consciênci­as. Eu não gosto muito de falar do poder político português, para mim não significa nada, não vale grande coisa”, reforçou. De acordo com Raul Danda, o Governo angolano tem de tentar encontrar uma solução para aquele caso, “sob pena de estar a fazer um papel pior do que o que os portuguese­s fizeram”. “E acho uma grande falta de senso não se partir para aí, porque isto é uma coisa inevitável, não se vai conseguir manter aquela situação, por mais que se minta. Porque as mentiras têm sido já históricas, já gastas, é sempre dizer que a FLEC não existe, mas depois de dois, três meses, estamos a negociar com a FLEC”, frisou.

O deputado considerou que a ONU reconheceu a existência da organizaçã­o, “quando a FLEC atendeu, como uma das 16 organizaçõ­es rebeldes que respondera­m positivame­nte ao apelo do secretário- geral das

Nações Unidas [ António Guterres], para pararem temporaria­mente as acções militares por causa da Covid- 19”. Na semana passada, a FLEC anunciou, num “comunicado de guerra”, assinado pelo general de brigada e portavoz do Estado- MaiorGener­al das Forças Armadas Cabindesas ( FAC), António Rosário, a morte de quatro militares das Forças Armadas Angolanas, em confrontos naquele enclave, que provocaram ainda a morte de seis civis e dois dos seus combatente­s.

Na segundafei­ra, o movimento independen­tista anunciou mais 11 mortes, entre civis e militares, e apelou à mediação internacio­nal para encontrar uma solução pacífica para o conflito. A FLEC, através do seu “braço armado”, as FAC, luta pela independên­cia no território alegando que o enclave era ( e era mesmo) um protectora­do português, tal como ficou estabeleci­do no Tratado de Simulambuc­o, assinado em 1885, e não parte integrante do território angolano. Criada em 1963, a organizaçã­o independen­tista dividiuse e multiplico­u- se em diferentes facções, efémeras, com a FLEC/ FAC a manter- se como o único movimento que alega manter uma “resistênci­a armada” contra a administra­ção de Luanda.

Mais de metade do petróleo angolano provém desta província angolana.

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