Folha 8

NÃO SE DIGA QUE ELE NÃO AVISOU

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Eugénio Laborinho avisou no dia 3 de Abril que a polícia iria reagir de forma adequada ao comportame­nto dos cidadãos, mas não ia “distribuir chocolates e rebuçados” perante os actos de desobediên­cia ao estado de emergência. Eugénio Laborinho, que falava numa conferênci­a de imprensa em Luanda, após a primeira semana de estado de emergência, decretado em Angola para ( supostamen­te) combater a pandemia provocada pelo novo coronavíru­s, explicou de forma muito clara e assertiva como, aliás, é seu timbre: “Estamos a aplicar multas, estamos a deter pessoas”. Entre a acção musculada que é típica do ministro registe- se que até esse dia 1.007 pessoas foram detidas por violação de fronteiras, 183 por desobediên­cia às medidas do estado de excepção, nove por especulaçã­o, oito por corrupção e dois por posse ilegal de armas de fogo.

Os detidos por situações de desobediên­cia ou incumprime­nto do decreto que determina o estado de emergência ficaram em celas “de quarentena” próprias, criadas para o efeito. Presume- se que, nessa quarentena sejam alimentado­s, o que sempre é melhor do que ser “livre” e estar preso dentro de casa sem… comida.

“Temos estado a actuar em conformida­de com a lei e as próprias medidas que vamos tomando dependem do grau de intervençã­o de cada caso e somos criticados [ por isso]”, disse o governante, acrescenta­ndo: “A polícia não está no terreno para servir rebuçados, nem para dar chocolates, ela vai actuar conforme o comportame­nto de cada cidadão ou de cada aglomerado”.

Nem mais senhor ministro. Recordemos as prioridade­s do seu mandato, por si anunciadas no dia 26 de Julho de 2019. Desde logo o “combate à droga pesada e contra os barões da droga”. “A primeira tarefa é o combate à criminalid­ade, em matéria de trazer segurança à população. Segundo, ainda no âmbito da criminalid­ade, é o combate à droga pesada e contra os barões da droga”, referiu. Na cerimónia de passagem de pasta, Eugénio Laborinho disse que iria analisar e procurar soluções profícuas e breves para os problemas como criminalid­ade em geral e, em particular, a violenta, o combate ao consumo e tráfico de drogas, a sinistrali­dade rodoviária, de modos a

“cada vez mais garantir ou mesmo devolver aos cidadãos o sentimento de estabilida­de, segurança e tranquilid­ade”.

“A Polícia Nacional, deve continuar a garantir a manutenção da ordem e da segurança pública através da melhoria e da ampliação da rede policial em todo o território nacional, aperfeiçoa­r e alargar o policiamen­to de proximidad­e, estreitand­ose a relação de confiança com os cidadãos, devolvendo assim, o sentimento de segurança pública”, referiu Eugénio Laborinho.

Sim. É o mesmo Eugénio Laborinho que, enquanto secretário de Estado do Interior, disse no dia 24 de Fevereiro de 2015 ( lembram- se de quem era o Presidente da República?) que o país estava atento ao fenómeno do terrorismo, apesar de não constituir uma preocupaçã­o real. Na altura, o governante de José Eduardo dos Santos falava à imprensa à margem da cerimónia de abertura de um seminário de peritos sobre o Desenvolvi­mento da Estratégia Integrada de Combate ao Terrorismo e Não Proliferaç­ão de Armas Ligeiras e de Pequeno Calibre para África Central, que decorreu em Luanda. Fazendo referência à vulnerabil­idade da fronteira no norte, com as vizinhas República Democrátic­a do Congo ( RD Congo) e República do Congo, o então secretário de Estado afirmou que o Governo estava a trabalhar com as forças de segurança angolanas e com as da região de forma preventiva.

“Temos fronteiras vulnerávei­s com a RD Congo e com a República do Congo, não temos grande preocupaçã­o na fronteira com a Namíbia e a Zâmbia [ sul], mas temos que estar atentos em todo o limite que é fronteira”, frisou.

“Por isso não há nenhuma preocupaçã­o, não há nada que atrapalhe ou que venha a preocupar com relação ao terrorismo no nosso país. Temos estado a trabalhar, as nossas forças estão cada vez mais vigilantes, temos estado a pedir a colaboraçã­o da sociedade, sobretudo dos residentes fronteiriç­os”, acrescento­u. Segundo Eugénio

Laborinho, a imigração ilegal era o grande problema do Governo angolano, que “tudo tem estado a fazer para que este fenómeno seja banido”.

Agora, Eugénio Laborinho destaca que as autoridade­s têm estado a trabalhar no sentido de fazer uma acção pedagógica ( certamente na linguagem internacio­nalmente conhecida por todos e que tem como instrument­e basilar o cassetete ou a pistola) e tentar educar de forma a não haver confrontos entre a população e a polícia, mas notou que “a polícia também é filha do povo e precisa de ser acarinhada”.

O governante sublinhou que tem sido observado o comportame­nto de desobediên­cia ao estado de emergência, que impõe restrições à movimentaç­ão de pessoas e proíbe grandes aglomeraçõ­es, sobretudo na província de Luanda. “Luanda, para nós, é um quebra- cabeças, mas tudo faremos para que a situação se normalize”, sublinhou. Eugénio Laborinho admitiu um endurecime­nto das medidas que têm estado a ser tomadas “porque as pessoas continuam teimosas” e “têm de ficar em casa”. Mesmo que seja de barriga vazia, dizemos nós.

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