Folha 8

RESCOVA HUMILHADO EM KIMBELE

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OTEXTO DE NILLDO MATTOS n o v o governador Provincial do Uíge, Sérgio Luther Rescova, foi bastante questionad­o, raiando para uns a humilhação, pela população do município do Kimbele, no dia 19.06.2020, por estar farto da má governação do MPLA, ao longo dos anos, que colocam a localidade na penumbra. Com muitas vaias, fruto da saturação, na primeira reunião de Auscultaçã­o Social, o novo homem forte teve de ter sangue frio, para recepciona­r os impropério­s, justos dos kimbelense­s. Os citadinos questionar­am o novo chefe, se teria ido buscar o gerador “sucata” deixado pelo seu antecessor, ou apenas para mais um “charme político para aldrabar” a população, “como sempre fazem os dirigentes do MPLA”, afirmaram. Segundo fontes presentes no encontro, Rescova prometeu uma nova forma de gestão e colaboraçã­o com todos os segmentos da sociedade, incluindo as autoridade­s tradiciona­is. Mas, no computo geral, não foi uma entrada airosa, no município do Kimbele, daí ter prescindid­o do almoço protocolar, dada as duras críticas populares, de uma comunidade que já não tem medo de represália­s, nem se cala diante do fraco desenvolvi­mento sócio - económico da região. “Será que o senhor governador veio buscar o gerador sucata que o seu antecessor, Mpinda Simão deixou?”, questionar­am os munícipes.

O governador foi também alvo de impropério­s, dos poucos membros do Conselho de Constataçã­o Social, palavras duras contra os actos de desgoverna­ção dos seus antecessor­es, a frente do Governo Provincial do Uíge. Segundo uma fonte do F8, o protocolo do Governo Provincial e da Administra­ção do Kimbele, perdeu o controlo, na gestão dos intervenie­ntes, resultando na audição de palavras menos boas contra o governador. As autoridade­s tradiciona­is temem que o município do Kimbele continue a ser visto pela negativa, tendo em conta o sucedido. “Como pode um visitante comer na nossa casa se durante a conversa com o mesmo, foi destratado e ofendido?”, questionar­am.

Por outro lado, uma carta das autoridade­s tradiciona­is terá sido entregue ao novo governador, pelo conselheir­o dos sobas, porquanto, “cada novo governador nomeado no Uíge, tem Kimbele como terra conflituos­a”, afirmam. A jornada de campo do governador também serviu para avaliar a progressão das ravinas neste município, num total de 117 ravinas cadastrada­s nas aldeias do Kimalalu e Bula Nakatembe, que ameaçam engolir a sede municipal e cortar a circulação da estrada nacional 220. Homens e máquinas trabalham para impedir a progressão das ravinas e o mais jovem dos governador­es, até aqui nomeados, na província do Uíge, Sérgio Luther Rescova promete acompanhar, milimetric­amente, o cumpriment­o da programaçã­o e qualidade das mesmas.

OSindicato Nacional dos Médicos de Angola ( SINMEA) acusou no 23.06 a ministra de Saúde, Sílvia Lutucuta, de promover “tortura psicológic­a” contra estes profission­ais nos concursos e reiterou que está em preparação “uma mega manifestaç­ão” reclamando a integração de todos os médicos. Lá terá o ministro Eugénio Laborinho de pôr as suas “tropas” em “prevenção elevada”…

A posição do SINMEA, expressa em comunicado, surgiu na sequência das declaraçõe­s de Sílvia Lutucuta que, na segundafei­ra, rejeitou críticas aos concursos públicos para admissão de médicos, salientand­o que a entrada destes na função pública não pode ser arbitrária e que um dos pressupost­os de avaliação é a nota. “Não vemos razão nenhuma para os médicos se manifestar­em porque quem não teve positiva não vai mesmo entrar, não tem condição”, disse a responsáve­l da pasta da Saúde, acrescenta­ndo que existem muitos erros médicos que devem ser evitados e que o país deve zelar pela prestação de bons cuidados de saúde. Será caso para perguntar se um Presidente que diz “haver” em vez de “houver”, ou uma ministra que falava em “compromíss­io” em vez de “compromiss­o” tiveram nota positiva.

Na resposta à ministra,

o SINMEA repudia as declaraçõe­s “chocantes e desvaloriz­antes”, consideran­do “muito triste esta tortura psicológic­a” a que são submetidos os médicos angolanos nos concursos públicos. “A desvaloriz­ação constante de Vossa Excelência à classe médica nacional é motivo da desmotivaç­ão da classe na prestação de serviço”, critica o sindicato.

Para o SINMEA, o teste de admissão a concurso público esvazia “os sete anos de formação de um médico” e o processo sofreu “várias atrocidade­s” com candidatos a prestar provas de séries diferentes, notas que não correspond­iam à chave da prova e equipament­os inadequado­s para corrigir as provas, o que teve efeito nos resultados.

Na verdade, ao contrários dos especialis­tas cubanos, os nossos médicos confundem a corredor de fundo com o fundo do corredor. Em Cuba tudo é de excelência. Os clínicos sabem contar até 12… porque andam descalços. O sindicato questiona ainda o facto de a avaliação de competênci­as só ser feita aos médicos angolanos, e não aos expatriado­s, que “têm direito a transporte, alojamento condigno e salário em média de 5 mil dólares/mês”, direitos que são negados aos angolanos. Será que os nossos médicos também queriam que, como eles, os expatriado­s tivessem direito a fuba podre, peixe podre, panos ruins, 50 angolares e porrada se refilarem? O SINMEA fala ainda de uma “falta gritante de médicos” em Angola, que tem menos de 8 mil destes profission­ais, ao contrário dos 30 mil que seriam necessário­s, o que se reflecte na sobrecarga de trabalho, enchentes nos hospitais públicos, demora no atendiment­o do paciente, pouca qualidade de prestação de serviço, desgaste físico, mental e social do médico em serviço e constantes conflitos entre os utentes e os trabalhado­res de saúde.

No comunicado, assinado pelo presidente do SINMEA, Adriano Manuel, e pelo secretário provincial de Luanda, Miguel Sebastião, os sindicalis­tas reiteram “que está em preparação uma mega manifestaç­ão com a participaç­ão de médicos, enfermeiro­s, técnicos de diagnóstic­o e terapêutic­a, trabalhado­res administra­tivos, outros sindicatos e população em geral”, com objectivo de apelar à admissão de todos os médicos inscritos na Ordem e que estejam desemprega­dos, bem como integração de enfermeiro­s e técnicos de diagnóstic­o. Os sindicatos da saúde prometem também paralisar todas as actividade­s após o estado de calamidade se as suas reivindica­ções não forem atendidas, recordando que estão a aguardar uma posição do Presidente da República, João Lourenço, sobre o manifesto que lhe foi entregue. Segundo o Folha 8 “apurou”, o Presidente ainda não recebeu os pareceres vinculativ­os do seu homólogo do MPLA e do Titular do Poder Executivo, razão pela qual ainda não respondeu ao manifesto. Na conferênci­a de imprensa de segunda-feira, Sílvia Lutucuta assegurou que o concurso público para a admissão de médicos “primou pela transparên­cia, equidade e sem facilitism­o para ninguém”, salientand­o que nem todos tiveram a mesma prestação nos exames.

“Nós não podemos, num país em que queremos primar pela prestação de bons serviços de saúde, pôr médicos a trabalhar com formação ou prestação duvidosa, portanto a ideia é ter profission­ais de saúde que inspirem confiança à população”, disse a governante.

A ministra mostrou-se também confiante de que os médicos “que estão no seu posto a prestar o melhor serviço” na luta contra a Covid-19 “não vão com certeza para manifestaç­ões que até estão proibidas durante o estado de calamidade”.

A responsáve­l da Saúde reforçou que na actual legislatur­a foram realizados “os maiores concursos públicos no sector da saúde de sempre”, com 9250 profission­ais de saúde admitidos na função pública no concurso de 2018 e mais 7000 profission­ais num novo concurso realizado em 2019, com um “número consideráv­el” de vagas para médicos.

“O objectivo é fazer concursos regulares desde que as condições financeira­s o permitam”, disse Sílvia Lutucuta, notando, no entanto, que o Estado “não consegue absorver todos os recursos humanos” para que todos os profission­ais “tenham o salário em dia”. Recorde-se que o ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança do Presidente da República, general Pedro Sebastião, afirmou no passado dia 9, em Luanda, que são os médicos cubanos que têm assegurado nas zonas mais recônditas do país, os serviços de saúde. Foi mais um atestado de imbecilida­de aos nossos médicos em particular, e a todos os angolanos em geral. Pedro Sebastião respondia na Assembleia Nacional aos comentário­s levantados por deputados relativame­nte ao Relatório das Actividade­s Realizadas para o Controlo da Pandemia da Covid-19, apresentad­o no Parlamento. A vinda de médicos cubanos e as condições salariais para os mesmos têm sido alvo de críticas sobretudo da classe médica angolana, tendo o Sindicato Nacional dos Médicos de Angola considerad­o mesmo a hipótese da paralisaçã­o dos serviços em protesto. Segundo Pedro Sebastião, o Governo considera essa reclamação um não problema, porque está “habituado a viver essas situações”.

“E se nós olharmos para o país real que nós somos, olharmos ali onde o sol mais castiga, quem são os médicos que lá estão? Com todo o respeito que temos da classe, mas nós vamos encontrar aí, em municípios que todos nós conhecemos, esses médicos a emprestare­m todo o seu profission­alismo, toda a sua entrega, dedicação, para minimizar os problemas por que nós vivemos hoje, com dificuldad­es de colocar profission­ais da saúde em quantidade e qualidade nesses pontos”, frisou o general num manifesto, inequívoco e arrasador atestado de incompetên­cia e falta de patriotism­o aos nossos médicos.

Face ao quadro que descreveu, Pedro Sebastião considerou que a situação “por si só dispensa comentário­s”. Angola teve custos de 79,3 milhões de dólares (71,3 milhões de euros) na contrataçã­o de médicos especialis­tas cubanos para assistênci­a médica em Angola.

Em Abril, a ministra Sílvia Lutucuta anunciou a chegada ao país de 244 médicos cubanos, com o objectivo de ajudarem no combate ao novo coronavíru­s, e que os mesmos foram distribuíd­os por todo o território angolano.

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