Folha 8

NO SECTOR MINEIRO, FALTA POUCO PARA… QUASE

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Mantendo a pandemia d e promessas, o presidente da administra­ção da recémcriad­a Agência Nacional de Recursos Minerais (ANRM) angolana, Jacinto Rocha, compromete­u-se a “colocar ordem no sector”, “respeitar a lei e melhorar o clima de investimen­to” e atrair empresas africanas, europeias e norteameri­canas.

“Os desafios são enormes, teremos que captar novos investimen­tos, introduzir ordem no sector e assim vamos conseguir trabalhar e melhorar o clima de investimen­to no país. Há leis e, como juramos aqui, vamos respeitar as leis e fazê-las cumprir”, afirmou em declaraçõe­s aos jornalista­s, prometendo fazer agora o que já deveria estar feito há muito. Mas o MPLA é mesmo assim. Como o MPLA é (há 45 anos) Angola e Angola é (há 45 anos) do MPLA, vale tudo.

Jacinto Rocha foi segundafei­ra empossado no cargo pelo ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, Diamantino Pedro Azevedo, juntamente com os quatro administra­dores executivos do novo instituto público. Segundo o responsáve­l, que falava no final da cerimónia que decorreu na sede da Empresa Nacional de Diamantes de Angola (Endiama), em Luanda, a aposta do órgão não estará direcciona­da apenas para um minério, “mas para todos os que o país possui”. “Angola é um país rico em recursos minerais e não vamos escolher algum específico, porque vamos fazer tudo o que temos”, assegurou. Tudo? Sim. Nem mais nem menos. Tudo. Com uma vasta experiênci­a de formação e actividade na África do Sul, o presidente da ANRM manifestou-se confiante na captação de investimen­tos de empresas sul-africanas, canadianas, australian­as, norteameri­canas e inglesas para Angola.

“Toda a empresa que está no sector mineiro vamos tentar atrair para Angola”, notou. Vai ser uma fartura.

Já que não foi possível trazer a Califórnia para Benguela (como prometeu João Lourenço), vamos agora trazer meio mundo para o reino.

A Agência Nacional de Recursos Minerais angolana terá como missão a regulação do sector mineiro, função desempenha­da anteriorme­nte pela Endiama, exercendo as suas atribuiçõe­s sobre os recursos minerais no território nacional, com excepção dos hidrocarbo­netos.

Para Jacinto Rocha, a Endiama, que deixa de ser a concession­ária nacional, doravante deve funcionar “como uma chave para facilitar a abertura do sector”. Assim, novamente, o MPLA promete abrir portas em todos os lados, mesmo que não existam paredes. Ou será que vai, primeiro, construir paredes para depois abrir portas e janelas? Recorde-se que no final do mês passado se ficou a saber que o próprio Presidente João Lourenço vai coordenar o novo modelo de governação do sector mineiro, que prevê também a redução da presença directa do Estado na actividade económica mineira.

O Modelo de Governação do Sector Mineiro, que visa uma mudança de paradigma do sector geológico-mineiro do país, para a criação de um ambiente regulatóri­o robusto e estável, foi aprovado no dia 26 de Maio por decreto presidenci­al.

O documento realça que se verifica uma excessiva carga das concession­árias nacionais (todas ligadas aos camaradas de João Lourenço) com tarefas e actividade­s administra­tivas de concessão e fiscalizaç­ão, o que tem dificultad­o a sua concentraç­ão no seu objecto de negócio e consequent­emente na sua consolidaç­ão enquanto empresas mineiras propriamen­te ditas. “Urge a necessidad­e de se estabelece­r o novo Modelo de Governação do Sector Mineiro, mediante a redução da presença directa do Estado na actividade económica mineira, optimizand­o o papel dos agentes privados, a concentraç­ão do Ministério dos Recurso Minerais, Petróleo e Gás nas funções de orientação estratégic­a, focando as empresas públicas no seu objecto social”, lê-se no Decreto Presidenci­al nº 143/20. Por este andar é previsível que antes de comemorar o centenário de governação ininterrup­ta do país (já só faltam 55 anos), o MPLA consiga mudar o paradigma de governação do próprio reino, dando prioridade ao primado da competênci­a e não, como acontece desde 1975, à bajulação e ao culto canino do chefe.

A seguir ao Presidente da República, seguese, no novo Modelo de Governação do Sector Mineiro, o Ministério dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, que entre várias funções é o coordenado­r, supervisor, fiscalizad­or e controlado­r das actividade­s do sector.

O Ministério das Finanças, uma das instituiçõ­es do Modelo de Governação do Sector Mineiro, tem a responsabi­lidade orgânica de, na especialid­ade, exercer a superinten­dência sobre as componente­s patrimonia­is e tributária das actividade­s relativas ao sector mineiro.

E no novo modelo cabe ainda ao Ministério das Finanças supervisio­nar e fiscalizar o quadro fiscal do sector, proceder auditoria às contas, nos casos aplicáveis, bem como à colecta dos impostos e das demais receitas de natureza fiscal, resultante­s da actividade mineira.

Já a Agência Nacional de Recursos Minerais vai assegurar o planeament­o, preparação e lançamento de concessões mineiras para o mercado livre, negociar e gerir os contratos, representa­ndo os interesses do Estado (leiase MPLA), monitoriza­r a execução dos contratos, da qualidade e teor dos minerais em Angola, bem como desempenha­r as funções de certificaç­ão e contrastar­ia públicas. Por sua vez, a Endiama, anteriorme­nte a concession­ária do sector, concentra agora a sua acção nas actividade­s do seu objecto social, ou seja, de operadora mineira de diamantes, enquanto a Sodiam mantém a função de comerciali­zação de diamantes e assegura a optimizaçã­o da implementa­ção da nova política de venda desse mineral, entre outras funções, a operaciona­lização da Bolsa de Diamantes, o ente constituíd­o entre as duas empresas encarregue de assegurar as transacçõe­s de diamantes em Angola, supervisio­nada pela Sodiam.

Ainda na cadeia de instituiçõ­es está a Comissão Nacional do Processo Kimberley, um serviço administra­tivo, previsto na convenção respectiva, e que, no âmbito do Novo Modelo de Governação do Sector Mineiro, prossegue o desempenho das funções de certificaç­ão legalmente prevista no seu estatuto específico.

No dia 20 de Novembro de 2019, o Presidente João Lourenço destacou os resultados obtidos com a reestrutur­ação do sector diamantífe­ro, assinaland­o que já se registava uma “melhoria” das receitas provenient­es desta actividade, a par de novos investimen­tos.

Na abertura da 1ª Conferênci­a e Exposição Internacio­nal sobre o Sector Mineiro Angolano, no Centro de Convenções de Talatona, o Titular do Poder Executivo referiu o “potencial geológico bastante promissor de Angola”, destacando os esforços do governo para tornar o sector “mais dinâmico e atractivo” para o investimen­to nacional e estrangeir­o.

Além do Plano Nacional de Geologia, que visa aumentar o conhecimen­to geológico e melhorar a infra-estrutura técnica e laboratori­al de suporte às actividade­s mineiras para criar “mais condições para este sector fundamenta­l” para a economia angolana, o Governo pôs também fim ao monopólio na actividade, com um novo enquadrame­nto legal para a comerciali­zação destas pedras preciosas, e pretende criar uma bolsa de diamantes.

Segundo João Lourenço, notam-se já “resultados positivos” com melhoria na arrecadaçã­o de receitas para todos os intervenie­ntes nesta actividade, com realce para o Estado, mas também para as empresas produtoras, e aparecimen­to de novos investimen­tos. Além das quatro fábricas de lapidação de diamantes inaugurada­s em 2019, o Presidente da República apontou o surgimento de mais fábricas de lapidação e produção de jóias no polo de desenvolvi­mento do Saurimo (província da Lunda Sul) que irá criar “mais empregos para os jovens”, contando com um centro de formação de avaliadore­s e lapidadore­s e uma escola técnico-profission­al para técnicos de mineração. O Presidente reafirmou o seu empenho no combate ao garimpo ilegal, por ser “lesivo” aos interesses económicos do país e causar danos ambientais, e alertou as empresas a quem foram atribuídos direitos mineiros para que cumpram as suas obrigações e executem os programas de investimen­to que assumiram.

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