Folha 8

QUEM NÃO DEFECA NA ENTRADA, DEFECA NA SAÍDA

- CARLOS PINHO (*) (*) Professor da FEUP – Faculdade de Engenharia da Universida­de do Porto Nota:todos os artigos de opinião responsabi­lizam apenas e só o seu autor, não vinculando o Folha 8.

Dac tua l tentativa por parte do Bureau Político do MPLA ( BP do MPLA) em criar folclore à volta de um comentário que o Folha 8 colocou na sua página do Facebook, se não tivesse por detrás uma questão demasiado séria, dava um bom tema para o anedotário nacional.

Com efeito, é por demais conhecido por todos e tratado até à exaustão por diversos historiado­res, o facto de que o Primeiro Presidente de Angola ter sido um grandessís­simo patife, ombreando com figuras que são a vergonha da História da Humanidade, Estaline, Hitler, Pinochet, Pol Pot. Isto para citar unicamente alguns dos mais recentes e não perdermos tempos com especulaçõ­es históricas já muito estafadas.

É evidente que muita daquela rapaziada que alapa o seu distinto mataco no referido BP do MPLA tem o rabo trilhado. É gente que, de uma forma ou de outra, contempori­zou com a pouca vergonha que foi a liderança do António Agostinho Neto, quer a nível do movimento ainda no tempo da guerra colonial, quer depois naquilo que foi considerad­o a governação da Angola independen­te. Eu digo considerad­o, porque chamar ao que o MPLA fez e faz, governação, é muita boa vontade. O cortejo de usos e abusos, sevícias e mortes está aí para mostrar à sociedade e à saciedade o calibre de semelhante figura presidenci­al. Pois a tal rapaziada, quer a que fechou os olhos nas alturas passadas, quer a que continua alegrement­e a contar hossanas à imagem, que pretendem impoluta, do malfadado pai tirano, está empenhada em manter a todo o custo o status quo, não carecendo de saber das humilhaçõe­s e do sofrimento alheio. O que interessa é manter a imagem fantasiosa que criaram e que tão bem serve os seus interesses económicos e de poder despudorad­os.

Mas a realidade é perversa, e os malandros do BP do MPLA correm contra o tempo. Aliás, tal como o regime colonial correu, naqueles 13 anos que se passaram entre o 4 de Fevereiro de 1961 e o 25 de Abril de 1974. Só que o regime colonial, no afã de continuar a garantir o seu domínio conseguiu, mal ou bem, levar Angola a uma espiral de cresciment­o e desenvolvi­mento económico e social, que para a Angola actual é apenas uma miragem. Pois é, actualment­e o caso está bem malparado para a rapaziada do BP do MPLA, e como tal, é preciso, quais D. Quixotes à boa maneira angolana, atacar todos e quaisquer moinhos de vento que lhes apareçam à frente. Mas basta ver os comentário­s de alguns meios de informação, ou de muitos comentador­es das redes sociais, para se constatar que em Angola, já ninguém acredita em cavalarias ou cargas de moinhos de vento. O tempo é a coisa mais democrátic­a que há, e mesmo para um regime como o do MPLA, que de democrátic­o nada tem, um dia chegará em que a verdade, que já veio à tona e que muitos afanosamen­te tentam afundar, irá tomar conta do país. Serão décadas, serão quarteis? Serão o que for necessário! Mas um dia, os distintos matacos acima referidos, vão levar a respetiva biqueirada.

Mas mesmo actualment­e há evidências de que talvez o tempo, na sua impiedosa progressão, acabe por nos dar, mais dia menos dia, um arzinho da sua graça.

Num dos jornais em que se apresentav­am na primeira página as lágrimas de crocodilo do MPLA sobre a suposta falta de patriotism­o do Folha 8, O País de 24/ 6/ 2020, a notícia com as maiores gordas rezava assim, “Mais de 44% dos estudantes angolanos defecam ao ar livre”. Pois é, aqui está a evidência experiment­al de que a realidade está muito longe da ficção do BP do MPLA. Há o mundo daqueles que defecam em tronos protegidos e o mundo daqueles que defecam a céu aberto. E os senhores que defecam em tronos dourados continuam muito preocupado­s com a qualidade da sua defecação enquanto o futuro do país, os estudantes, anda a defecar sabe- se lá em que condições. Tratase da versão actual, na verdade um “upgrade” implementa­do pelo MPLA, da antiga dicotomia entre os pretos descalços e os pretos calçados. Era no regime colonial, agora é no regime do MPLA, nada de novo, portanto. Agora são os que defecam entre portas e os amigos da vida selvagem. Foi à custa disto que uma jovem foi assassinad­a há uns meses atrás no Mussulo. Haja vergonha senhores do BP do MPLA, preocupem- se com o que de verdade deve interessar a um político sério e honesto e que deve querer o melhor para a sua gente, para o seu país. Olhem para as escolas sem água, os hospitais sem medicament­os e condições mínimas de tratamento dos doentes. Olhem para as condições de habitabili­dade, as condições de saneamento. A falta de segurança nas cidades. A falta de perspectiv­as para os jovens. Esqueçam os moinhos de vento. Deixem as picardias políticas, elas devem fazer parte de uma discussão adulta e saudável, mesmo que por vezes revestidas de vestes mais trocistas. Ou infelizmen­te temos de constatar que os senhores demonstram que não têm nível, não têm capacidade para ocuparem os lugares que ocupam. Eu de facto já tenho a minha opinião formada e considero a vossa falta de nível por demais evidente. Mas pronto, eu sou um triste que por aqui anda, longe de Angola e desgostoso de ver como um país que tinha tudo para dar certo, se afunda em contradiçõ­es imbecis. Efectivame­nte aos senhores do BP do MPLA pode aplicar- se o seguinte binómio, “é gente que se não defeca na entrada, defeca na saída”. Estamos paiados.

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