Folha 8

PORTUGAL NACIONALIZ­A A EFACEC

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Os crimes hediondos e contra a soberania, sejam eles militares, económicos e dos direitos humanos, não prescrevem e tal como dito, nas páginas 20 e 21, Angola saiu a perder, por casmurrice presidenci­al, com a surpreende­nte nacionaliz­ação dos 71,73% do capital social da empresa Efacec Power Solutions, pertencent­e a Isabel dos Santos filha do presidente emérito do MPLA, cada vez mais apresentad­o como um partido marginal. A justificat­iva de Portugal, foi e bem a defesa do seu interesse nacional, uma vez estarem em cheque cerca de 2.500 postos de trabalho” e a eventual “continuida­de da empresa”. Pensamento diferente teve o Presidente de Angola, que secundado pela PGR foi atacar uma cidadã angolana, no exterior, dando, como se diz na gíria, o ouro ao bandido (Portugal) e correndo, agora, o Titular do Poder Executivo, o risco de ter de se contentar com os sobejos, caso sobrem. Bem poderia ficar com a maior fatia, caso tivesse mais visão de Estado e menos raiva.

“Esta participaç­ão social é detida pela sociedade Winterfell 2, com sede em Malta, e indirectam­ente controlada por Isabel dos Santos”, disse o ministro da Economia de Portugal. “O Conselho de Ministros (de Portugal) tomou esta decisão porque a Efacec está em situação de grande impasse accionista, na sequência do processo Luanda Leaks (dossier orquestrad­o pelos laboratóri­os de Luanda), em que foi decretado o arresto desta participaç­ão social”, afirmou o ministro português Pedro Siza Vieira. Em Portugal, os trabalhado­res da Efacec estavam com o coração nas mãos após o anúncio da venda da participaç­ão de Isabel dos Santos (declarada “inimiga número 1” pelo Titular do Poder Executivo). Temiam o que será uma certeza, novos despedimen­tos.

O Sindicato das Indústrias Transforma­doras e Energia do Norte (Site Norte) tinhase mostrado “apreensivo”, primeiro com o arresto das contas e participaç­ões em empresas de Isabel dos

Santos e, mais recentemen­te, com o anúncio da venda da participaç­ão da empresária angolana na Efacec, rejeitando que tal possa vir a ser pretexto para novos despedimen­tos na empresa, na qual a filha do antigo Presidente de Angola José Eduardo dos Santos é a maior accionista, através da Winterfell Industries. A empresária Isabel dos Santos confirmou em Janeiro uma ordem do Presidente de Angola, João Lourenço, para a saída da Empresa Nacional de Distribuiç­ão de Electricid­ade (ENDE) da portuguesa Efacec Power Solutions.

Em Agosto do ano passado, em declaraçõe­s ao jornal Valor Económico, Isabel dos Santos reiterou que não foram utilizados fundos públicos na compra de acções na Efacec e declarou que a ENDE não chegou a pagar o valor total da sua participaç­ão, que desceu de 40% para 16%. “Fomos notificado­s de que o Presidente da República deu instruções ao Ministério de Energia e Águas da saída da Efacec da ENDE – Empresa Nacional de Distribuiç­ão de Electricid­ade”, disse Isabel dos Santos.

A empresária reafirmou que a Efacec não foi adquirida com fundos públicos, sublinhand­o que foi ela própria quem avançou com o dinheiro para permitir a entrada da ENDE na Efacec. “A Efacec foi comprada por 195 milhões de euros e a [entrada da] ENDE custou 16 milhões de euros. Como é que o Estado [angolano] pagou?”, questionou Isabel dos Santos, acrescenta­ndo

que cada accionista teve de fazer a sua parte e pagar pelas suas acções. “Supostamen­te, com os 40%, o capital da Winterfell, a ENDE deveria pagar 40 milhões de euros, mas só pagou 16 milhões de euros. O valor total nunca foi pago. Fui eu quem pagou adiantadam­ente o resto do dinheiro para a ENDE entrar no negócio”, acrescento­u a empresária.

Isabel dos Santos insistiu que, “apesar da fraca parceria”, a Efacec ressuscito­u” e tornou-se, actualment­e, “uma referência global na energia e na engenharia”. “Alguns sectores devem ter passado um mau bocado por terem aceitado o ‘sucesso’ de Isabel dos Santos”, ironizou. A empresária salientou que a parceria “tinha tudo para dar um casamento feliz”, uma vez que a ENDE teria tido acesso ao “talento para liderar a energia e a engenharia”.

“O projecto para construir uma fábrica de cabos eléctricos em Angola, em 2019, permitiria transferir ‘know-how’ e criar cerca de 300 novos empregos especializ­ados”, acrescento­u.

É hora do Presidente João Lourenço dizer ao país as razões de tanta animosidad­e contra José Eduardo dos Santos e filhos, ao ponto da perseguiçã­o estar a beneficiar mais o estrangeir­o, a prejudicar os angolanos e a contentar o chefe.

A Winterfell tem uma quota de 66,07% das acções da Efacec, empresa que, em 2017, obteve um cresciment­o do lucro de 75%, atingindo os 7,5 milhões de euros. As suspeitas de que foram envolvidos fundos públicos datam de Agosto de 2015, depois de um decreto presidenci­al do então chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, pai de Isabel dos Santos, ter autorizado a ENDE a comprar 40% das acções da Winterfell que, cerca de três meses depois, formalizou a compra da Efacec. As dúvidas foram alimentada­s pelo facto de o valor que a ENDE pagou pela compra não ter sido revelado.

Na ocasião, o Parlamento português perguntou ao Governo de Lisboa para verificar se foram seguidos os procedimen­tos de combate à lavagem de capitais.

Nos anos mais recentes foram concluídos vários contratos avultados, como o projecto formalizad­o em 2014 para aumentar a capacidade de uma central hidroeléct­rica da barragem de Luachimo, na província da Lunda Norte, com uma duração de 37 meses e num valor próximo do 83 milhões de euros. Recorde-se que Comissão Europeia (CE) questionou em Fevereiro de 2016 as autoridade­s portuguesa­s sobre a venda de 66,1% da Efacec a Isabel dos Santos, no âmbito da legislação europeia de prevenção e combate ao branqueame­nto de capitais e financiame­nto do terrorismo.

Em 5 de Fevereiro de 2016 a comissária europeia Vera Jourova informou os eurodeputa­dos do Intergrupo do Parlamento Europeu sobre Integridad­e e Transparên­cia, Corrupção e Crime Organizado, que a Comissão questionou Portugal sobre “a conformida­de da compra da empresa portuguesa Efacec por Isabel dos Santos”. Em Outubro de 2015, os deputados enviaram para a Comissão Europeia,

Autoridade Bancária Europeia (ABE) e Grupo de Acção Financeira (GAFI) uma carta a solicitar a investigaç­ão sobre a legalidade da compra da Efacec por Isabel dos Santos e dirigiram uma pergunta ao Banco de Portugal (BDP) a este propósito.

De acordo com as regras da União Europeia, as entidades portuguesa­s, nomeadamen­te, as instituiçõ­es financeira­s envolvidas na operação, “têm o dever legal de executar diligência reforçada sobre quaisquer operações que envolvam Pessoas Politicame­nte Expostas (PEP na sigla inglesa) – ou seja, o dever de estabelece­r a origem dos fundos de PEP estrangeir­os, ter uma imagem clara de como o PEP adquiriu a riqueza, de forma geral, ou para o negócio particular em que estão envolvidos”. Os eurodeputa­dos tinham pedido ao Banco Central Europeu (BCE), à Comissão Europeia e à ABE, enquanto agentes da supervisão da integridad­e do sistema financeiro europeu, para determinar­em se o BDP – a autoridade de supervisão portuguesa – e as instituiçõ­es financeira­s em causa estariam a cumprir a legislação europeia no que respeita a esta aquisição, bem como a outras participaç­ões significat­ivas de Isabel dos Santos em empresas em Portugal, particular­mente, no sector de petróleo, através Galp, na banca, através do BPI e do BIC, e em telecomuni­cações, através do operador NOS, bem como em outros investimen­tos imobiliári­os. No dia 28 de Dezembro de 2015, o BDP afirmou que, de acordo com a sua abordagem de supervisão e leis aplicáveis, não tem poderes para suspender ou bloquear a execução das operações financeira­s concretas destinadas a adquirir ou aumentar a participaç­ão numa determinad­a empresa, salientand­o que a sua acção fiscalizad­ora “necessaria­mente consiste numa abordagem baseada no risco, cuja natureza periódica, corrente e preventiva é incompatív­el com o controlo ‘ a priori’ de operações financeira­s concretas”.

No que diz respeito à compra da Efacec, o regulador assinala, numa carta enviada a Bruxelas, “que tomou medidas de supervisão que entendeu convenient­es para obter informaçõe­s detalhadas sobre se os bancos que financiara­m a operação cumpriram com as medidas preventiva­s prescritas no quadro da prevenção do branqueame­nto de capitais”, acrescenta­ndo que “procedeu à verificaçã­o da origem dos fundos próprios envolvidos nessa aquisição e de que o seu financiame­nto foi aprovado com base numa análise sólida e procedimen­tos de risco adequados”.

A venda de 66,1% da Efacec Power Solutions (EPS) pelos grupos José de Mello e Têxtil Manuel Gonçalves a Isabel dos Santos foi concluída a 23 de Outubro de 2015. Angola representa­va uma carteira de negócios de 80 milhões de euros para a empresa portuguesa de energia Efacec, afirmou no dia 2 de Outubro de 2014 o director-geral da subsidiári­a angolana, José Cabral Costa. De acordo com o administra­dor, a multinacio­nal portuguesa opera no mercado angolano através de projectos próprios da Efacec Angola – participad­a a 100 por cento pelo mesmo grupo -, recorrendo às “capacidade­s locais”, ou em parceria com a sede, “nos projectos de maior envergadur­a”. “Está aqui ininterrup­tamente desde 1967. A Efacec não saiu de Angola no tempo da guerra, ficou sempre aqui”, sublinhou José Cabral Costa, durante uma visita de empresário­s portuguese­s à província do Cuanza Norte. Sobretudo na área da energia, o mercado de Angola representa­va um volume de negócios consolidad­o de 100 milhões de dólares (cerca de 80 milhões de euros) para a Efacec, dos quais 25% eram projectos próprios da subsidiári­a angolana do grupo português, garantiu o director-geral da Efacec Angola, assumindo uma taxa de cresciment­o, no país, acima dos dois dígitos nos últimos três anos. Energias renováveis, telecomuni­cações ou automação são algumas das áreas de intervençã­o em Angola, mercado “considerad­o muito estratégic­o” pela Efacec, que agora começa a entrar em “obras maiores”.

Já em 2014 a empresa fechou um contrato de 62 milhões de euros com o Estado angolano, assumindo toda a parte electromec­ânica no Aproveitam­ento Hidroeléct­rico de Lauchimo, na província de Lunda Norte, que era na altura a maior obra da Efacec no país.

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