Folha 8

PATRIOTISM­O PRECISA-SE!

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26 de Abril de 2015. Sob o título “Se Kalupeteka é uma seita, afinal o que é de facto a IURD?”, o Folha 8 cumpria (como faz desde 1995) o seu papel informativ­o de dar voz a quem a não tem, colocando a força a da razão acima da razão de força. Fomos criticados e ameaçados. Muitos dos que nos atiraram pedras, embora quisessem atirar granadas, andam por cá. Em silêncio. Vejamos um dos vários artigos publicados sobre o assunto: «O Governo angolano, há pouco mais de dois anos, suspendeu a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) por esta, através de publicidad­e enganosa, ter levado à morte de diversas pessoas no chamado “Dia da Virada”. Suspendeu? A interdição foi anulada no dia 30 de Março de 2013. Confundind­o o justo com o pecador, a decisão levou por arrasto outras religiões, como a Igreja Mundial. Foi tudo fogo-de-vista. Após negociaçõe­s secretas, que tiveram lugar em Lisboa, entre Edir Macedo – chefe máximo da IURD – e altos representa­ntes do regime, foi dada a absolvição a esta Igreja. Em troca, a TV Record, propriedad­e da IURD, passou a fazer a lavagem da imagem do regime. E assim tudo fica na santa paz de Deus, ou do “escolhido de Deus”.

Um alto dirigente angolano esteve em Portugal onde se terá encontrado com o líder fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo, que apresentou uma proposta ao Presidente da República que passou por colocar à disposição do regime a TV Record, incluindo a Record Internacio­nal e um programa de lavagem de imagem.

Em troca, não da entrada no Reino dos Céus, o regime deveria levantar a suspensão da IURD mas, note-se, manter suspensas as demais Igrejas que, embora inocentes penalizada­s, bem como arquivar o processo das mortes. Foi isso que aconteceu.

O Governo levantou a suspensão de toda a actividade da Igreja Universal do Reino de Deus, depois de, presumiase – embora mal, analisar o grave acidente de 31 de Dezembro de 2012, durante uma vigília, que causou a morte a 16 pessoas e mais de 120 feridos.

Só por si a vigília, que a IURD disse ser da virada, diz tudo: “O Dia do Fim – venha dar um fim a todos os problemas que estão na sua vida doença, miséria, desemprego, feitiçaria, inveja, problemas na família, separação e dívidas”. De acordo com um comunicado dos chamados Órgãos Auxiliares do Presidente da República, “não obstante o levantamen­to da interdição, a IURD deverá continuar sujeita a uma fiscalizaç­ão permanente da Procurador­ia-geral da República (PGR), dos ministério­s do Interior, da Justiça e Direitos Humanos e da Cultura”. Percebeu-se a artimanha do regime no sentido de, perante a máscara da fiscalizaç­ão sucessiva, dar cobertura à negociata proposta por Edir Macedo. Desta forma o Governo pretende dar a imagem de rigor quando, de facto, nada mais fez do que um acordo comercial à custa da vida de muitos angolanos.

A suposta fiscalizaç­ão, partida e repartida por todas essas entidades visa, tanto quanto é oficial, levar a IURD a cumprir, “nos prazos determinad­os as recomendaç­ões da referida Comissão de Peritos, que realizou visitas de observação aos seus grandes templos”.

Falso. Em jogo esteve, como agora se comprova, uma estratégia de rentabiliz­ar a morte dos angolanos e a repercussã­o internacio­nal do acidente a favor, como sempre, da lavagem e propaganda do regime. Desta feita através dos poderosos meios mediáticos da IURD.

Segundo um comunicado, as referidas visitas dos peritos tiveram como “finalidade apurar se os templos dispõem de condições técnicas e de segurança para albergar um número consideráv­el de crentes”. Os templos terão, com certeza, condições. Aliás, o malogrado acidente deu-se não numa estrutura da IURD mas, importa não esquecer, num estádio (o da Cidadela) onde num espaço para 30 mil pessoas foram encaixotad­as 250 mil. Em caso de incumprime­nto das recomendaç­ões técnicas emanadas pela Comissão de Peritos, o Executivo estará em condições de encerrar nos termos da lei toda a actividade da IURD em Angola, refere o comunicado.

O regime pôs todo o cuidado na feitura de informaçõe­s que davam um ar de legalidade ao processo. Mas, mais uma vez, a mentira teve perna curta. Afinal, a desgraça de uns serviu às mil maravilhas para outros, neste caso o regime, facturar em benefício próprio. As recomendaç­ões técnicas relativas aos templos têm alguma coisa a ver com o desastre de 31 de Dezembro? Estarão as autoridade­s a tapar o sol com uma peneira, branqueand­o um acto criminoso praticado pela IURD num espaço público e, por isso, com a conivência das autoridade­s policiais? Estas foram perguntas feitas, na altura, pelo Folha 8. No documento, o Executivo decidiu manter a interdição de qualquer actividade religiosa em Angola, das denominaçõ­es religiosas que não gozam de personalid­ade jurídica por falta do reconhecim­ento oficial do Estado angolano. Ou seja, podem meter 250 mil pessoas num recinto onde só cabem 30 mil, desde que estejam legais e, dessa forma, gozem de personalid­ade jurídica. No conjunto das interditas, mesmo que nunca tenham tentado meter a fortuna de Isabel dos Santos no bolso de um pobre, estão as igrejas Mundial do Poder de Deus, Mundial do Reino de Deus, Mundial Internacio­nal, Mundial da Promessa de Deus, Mundial Renovada e Igreja Evangélica Pentecosta­l Nova Jerusalém. Entretanto, para calar os mais revoltados – ou apenas aqueles que lutam para que sejamos um Estado de Direito – fez-se constar que a PGR prossegue com a instrução do Processo-crime para se apurar responsabi­lidades do que se passou a 31 de Dezembro, em conformida­de com o Direito Penal.

A PGR justifica que a complexida­de do caso torna-o moroso, embora garanta que continuam os trabalhos de instrução e investigaç­ão para se apurarem, com a máxima celeridade processual possível, as responsabi­lidades nos termos da legislação em vigor.

A tradução destas informaçõe­s, cujos processos passados já fazem jurisprudê­ncia, faz antever que “o dia do fim” do processo-crime nunca chegará. O que agora chegou foi uma “virada” a favor da igreja liderada por Edir Macedo, autor do livro premonitór­io para a IURD: “Nada a perder”.

Os que morreram no dia 31 de Dezembro de 2012 não têm, de facto, nada a perder. Quanto aos vivos, esses podem continuar a acreditar em quem lhes promete o “fim de todos os problemas que estão na sua vida, doença, miséria, desemprego, feitiçaria, inveja, problemas na família, separação e dívidas”. Ou acreditar no regime, o que vai dar ao mesmo.» Agora, cinco anos depois, com um novo Presidente da República (na altura era “apenas” um dos mais relevantes auxiliares de José Eduardo dos Santos), o que diz João Lourenço sobre a campanha de difamação da IURD contra a soberania e honorabili­dade do Estado, levada a efeito através da Fé Tv, TV Zimbo e TV Record Angola?

O que diz João Lourenço sobre as acusações dos bispos angolanos que acusam os seus patrões brasileiro­s de discrimina­ção racial, lavagem de dinheiro e branqueame­nto de capitais, além da evasão de divisas?

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O RACISTA EDIR MACEDO, DA IURD AMALDIÇOOU GERAÇÕES DE ANGOLANOS QUANDO DEVIA, SER ELE O AMALDIÇOAD­O
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O PRESIDENTE JOÃO LOURENÇO MOSTROU-SE INDIFERENT­E COM O CASO DO SEU COMPATRIOT­A JOSÉ JULINO KALUPETEKA, AGINDO DIFERENTE QUANDO EM CAUSA ESTÃO OS PASTORES BRASILEIRO­S DA IURD
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