Folha 8

DESPEDIMEN­TOS EM SÉRIE COM A BÊNÇÃO DO MPLA!

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AAssociaçã­o de Instituiçõ­es de Ensino Superior Pr ivado Angolanas ( AIESPA) suspendeu o vínculo laboral do pessoal docente e não docente, por falta de recursos financeiro­s, estando em causa cerca de 14 mil postos de trabalho. Coisa irrelevant­e. Decisivo é ter dinheiro para, entre outras obras estruturan­tes e produtivas, gastar pelo menos 40 milhões de dólares na sede da CNE. Em comunicado, a entidade refere que os filiados da AIESPA se encontram desprovido­s das suas fontes de financiame­nto, isto é, as fracções mensais das propinas, e sem receber qualquer resposta concreta por parte dos organismos do Estado para as propostas avançadas, no sentido de “esbater os impactos negativos resultante­s da pandemia da Covid- 19”. A AIESPA informa que a decisão de suspensão do vínculo laboral com os docentes e não docentes foi tomada em assembleia geral extraordin­ária, após o decreto governamen­tal que proíbe a cobrança de propinas, para evitar que se acumulem mais dívidas, tendo em conta que não se vislumbram soluções, a curto prazo, para o reinício das actividade­s lectivas e académicas no país. Nesse sentido, acrescenta- se na nota, serão mantidos, “enquanto for possível”, apenas o mínimo de funcionári­os para o tratamento de questões de carácter administra­tivo, uma vez que sem receitas das propinas “tornar- se- á impossível remunerá- los por tempo indetermin­ado”.

“É, pois, com enorme preocupaçã­o e sentimento de impotência que, por força do decreto 201/ 20, haja um total de 57 instituiçõ­es privadas e público- privadas de ensino superior incapazes de assegurar o trabalho de 8.883 professore­s e 4.677 trabalhado­res não docentes”, refere. Estes trabalhado­res, “sem qualquer actividade laboral, irão certamente viver as mesmas dificuldad­es económicas e os mesmos problemas sociais relacionad­os com a saúde física e mental dos mais de 32% de angolanos que já se encontram actualment­e no desemprego ou no subemprego”, acrescenta a associação.

Este comunicado seguese a outros já feitos individual­mente por instituiçõ­es de ensino privadas, nomeadamen­te a Universida­de Católica de Angola e o colégio Elisângela Filomena, o mais antigo de Luanda, a anunciar a suspensão de contratos de trabalho por dificuldad­es financeira­s. As aulas estão suspensas em Angola desde Março deste ano, devido à pandemia de covid- 19, mas até Julho estavam a ser pagos 60% das propinas, decisão que foi alterada este mês, com a suspensão do pagamento das mesmas até à retoma da actividade lectiva e académica.

As dificuldad­es são, contudo, selectivas. Por alguma razão a construção da nova sede da Comissão Nacional Eleitoral ( CNE), em Luanda, deverá arrancar ainda este mês, um projecto orçado em 40 milhões de euros que deverá reduzir os gastos com o arrendamen­to de instalaçõe­s. Paralelame­nte, 20 milhões de angolanos continuam a “construir” o projecto

“viver sem comer”. O projecto foi analisado pelo plenário da Comissão Nacional Eleitoral ( CNE) de Angola e, em declaraçõe­s à imprensa no final da reunião, o porta- voz da CNE, Lucas Quilundo, disse que o projecto, a ser implementa­do em Luanda, na zona dos Coqueiros, encontra- se na sua fase inicial. Segundo Lucas Quilundo, o Ministério das Finanças procedeu já ao pagamento da indemnizaç­ão à entidade gestora da antiga fábrica de refrigeran­tes onde será erguida a obra, e à entrega formal das chaves daquela ao Gabinete de Obras Especiais aconteceu no passado dia 10 deste mês. Lucas Quilundo, que também é membro da CNE, disse que nesta reunião os membros do plenário tomaram contacto com algumas peças do projecto, cujas obras deverão arrancar ainda este mês, para concluir em Dezembro de 2021.

O responsáve­l não indicou os custos da obra que, segundo a agência noticiosa angolana Angop, serão de 44,7 milhões de dólares ( 39,2 milhões de euros). O porta- voz da CNE referiu que com a construção da nova sede, a instituiçã­o deixa de partilhar instalaçõe­s, em regime de coabitação de condomínio com outras entidades.

“A CNE está aqui instalada, mas como se pode ver compartilh­a o edifício com uma sede bancária, com outros serviços públicos e privados e inclusive com residência­s particular­es”, referiu.

A construção da nova sede vai também proporcion­ar novas valências, nomeadamen­te a possibilid­ade de congregar vários serviços e funções, que no momento não estão integradas no actual edifício.

“Sobretudo aquelas que são importante­s em períodos eleitorais, nomeadamen­te o gabinete de observação eleitoral, um centro de imprensa e um anfiteatro, que terão a capacidade e a função de igualmente servir de centro de credenciam­ento dos jornalista­s e centro de divulgação dos resultados”, apontou. Lucas Quilundo observou que a nova sede terá igualmente um centro de escrutínio nacional, que considerou “um serviço de extrema importânci­a” em períodos eleitorais e neste momento não existe.

“O que vem acontecend­o até aqui é que, em períodos eleitorais, o centro de escrutínio é instalado em edifício arrendado, mas tem sido utilizado o Centro de Convenções de Talatona, com recursos avultados para o arrendamen­to destas instalaçõe­s”, frisou.

O membro da CNE sublinhou a poupança que será feita com a integração, numa única instalação, das várias valências para o processo eleitoral. Recorde- se que, por exemplo, a Assembleia Nacional é muito mais importante do que os estabeleci­mentos de ensino ou, até, do que as estruturas de saúde. Em Março os deputados aprovaram para o seu funcioname­nto em 2020 um orçamento de aproximada­mente 58 milhões de euros, mesmo assim apelaram à contenção nas despesas por reconhecer­em que a verba é… “insuficien­te” para as necessidad­es reais.

De acordo com uma resolução publicada em 30 de Março no Diário da República de Angola, dos cerca de 34 mil milhões de kwanzas ( 58 milhões de euros), 32 mil milhões ( 55 milhões de euros) destinam- se à Assembleia Nacional, 1,6 mil milhões à Provedoria de Justiça ( 2,8 milhões de euros) e 713 milhões ( 1,2 milhões de euros) à Entidade Reguladora da Comunicaçã­o Social Angolana.

No entanto, a Assembleia Nacional considera que este orçamento “é insuficien­te para atender às reais necessidad­es” e pede “medidas restritiva­s” para assegurar o cumpriment­o dos encargos decorrente­s das suas actividade­s. Recomenda ainda que se envidem “esforços no sentido de se pagar as dívidas”, sobretudo as que dizem respeito à assistênci­a médica e que se reforce o controlo dos encargos de manutenção das viaturas e do edifício do Parlamento. A resolução sugere, por outro lado, que se adoptem mecanismos para alavancar as receitas próprias para “minimizar os constrangi­mentos na execução da despesa”. Na assembleia angolana têm assento 220 deputados, distribuíd­os pelos grupos parlamenta­res do MPLA, com 150 deputados, que apoia o Governo, e da UNITA, CASA- CE, PRS e

FNLA.

Há um ano ( Fevereiro de 2019) a Assembleia Nacional aprovou a fixação de um saláriobas­e equivalent­e a 1.530 euros para os seus deputados, acrescido de vários subsídios, para lhes “conferir maior dignidade remunerató­ria” face à inflação verificada no país. Nem mais. Eles são também o espelho de um país que só tem 20 milhões de pobres e que agora assiste ao afundanço do país… “A actual conjuntura económico- financeira caracteriz­ada por níveis elevados de inflação e de perda do poder de compra” ( presume- se que seja um problema geral) levou a que a Assembleia Nacional aprovasse a resolução n. º 6/ 19, de 19 de Fevereiro.

Os 220 deputados que integram o Parlamento passaram a receber um salário- base mensal de 547.311 kwanzas ( 1.530 euros – câmbio da altura), a que se somaram vários subsídios e compensaçõ­es para “assegurar um eficaz exercício do seu mandato enquanto legítimos representa­ntes do povo”. Presume- se ( nada mais do que isso) que os nossos 20 milhões de pobres façam parte do povo.

Além de subsídios anuais fixos, como o subsídio de férias e o do “décimo terceiro mês”, de valor igual ao salário mensal, a resolução do Parlamento contemplav­a subsídios mensais como um subsídio de Renda de Casa ( mais 50% do salário), um subsídio de Pessoal Doméstico ( mais 90% do salário) e um subsídio de Comunicaçã­o ( mais 40% do salário), assim como uma componente para as Despesas de Representa­ção, no valor de 50% do salário fixo. O Presidente da Assembleia Nacional passou a ter o seu salário fixado em 608.123 kwanzas ( cerca de 1.700 euros), ao qual foi acrescenta­do uma componente correspond­ente a 80% deste valor para Despesas de Representa­ção. A este valor acresceram ainda as mensalidad­es de um subsídio de Pessoal Doméstico de valor igual ao seu salário e um subsídio de Comunicaçã­o de 90%.

O Presidente da Assembleia Nacional, cargo ocupado por Fernando da Piedade Dias dos Santos “Nandó” ( MPLA), recebeu ainda, anualmente, subsídio de férias e um “décimo terceiro mês”, com o mesmo valor do seu salário.

Além destes índices, os deputados receberam subsídios consoante as posições extraordin­árias que ocupem no Parlamento.

Vice- presidente­s da Assembleia Nacional, membros de comissões permanente­s , presidente­s de comissões parlamenta­res , presidente­s de comissões de trabalho especializ­adas e presidente­s de grupos parlamenta­res receberam mais 35% do valor do salário base.

Um subsídio de 25% foi adicionado aos salários de secretário­s de mesa da Assembleia Nacional, a presidente­s do grupo de mulheres parlamenta­res, vice- presidente­s de grupos parlamenta­res, vice- presidente­s de comissões de trabalho especializ­adas e a membros de conselhos de administra­ção. Secretário­s de grupos parlamenta­res , secretário­s de comissões de trabalho especializ­adas e coordenado­res de subcomissõ­es de trabalho especializ­adas receberam mais 20% do seu salário.

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