CRISE GERA FARTURA… PARA ALGUNS
ACh in a investiu em Angola, entre Janeiro e Maio deste ano, 120 milhões de dólares ( 106 milhões de euros) mais de metade do valor total concretizado em 2019, revelou o embaixador, Gong Tao. Enquanto isso, a operadora de telecomunicações Africell pretende investir “centenas de milhões de dólares”…
“No ano passado, o volume do investimento chinês em Angola situouse nos 200 milhões de dólares e nos primeiros cinco meses deste ano o volume do investimento directo, mesmo com a pandemia, alcançou 120 milhões de dólares ( 177 milhões de euros)”, adiantou o diplomata em declarações à Lusa. Para o embaixador chinês em Angola, estes dados reflectem “a importância, o interesse” que os empresários e investidores daquele país asiático têm relativamente a Angola evidenciando boas perspectivas para que as duas economias continuem a cooperar. Gong Tao destacou que desde há alguns anos, a China é o principal parceiro comercial de Angola e tem sido um dos maiores investidores, mostrando que os dois países “sabem complementar- se e obter vantagens recíprocas”. Mesmo num momento de pandemia, em que o intercâmbio de pessoas e o comércio foram afectados, “o investimento que os empresários chineses continuam a fazer aqui em Angola é significativo”, assinalou.
A agricultura e a indústria, têm sido os sectores mais atractivos, tanto na província de Luanda como noutras províncias, como o Bengo, onde surgiram recentemente novas unidades fabris. Segundo Gong Tao, além de uma fábrica de baterias e outra de azulejos, está também a ser instalada uma fábrica de detergentes que deve iniciar a produção ainda este ano.
Além de contribuir para a criação de postos de trabalho, “este tipo de investimento corresponde às políticas actuais do governo angolano”, direccionada para a “diversificação da economia nacional”, aumento da capacidade produtiva do país e reforço da industrialização, frisou.
Para o embaixador chinês em Angola, estes dados reflectem “a importância, o interesse” que os empresários e investidores daquele país asiático têm relativamente a Angola
“Constatamos igualmente que o governo angolano está a encorajar o desenvolvimento do sector privado com estímulos a nível fiscal e créditos às empresas para superarem as actuais dificuldades”, acrescentou o embaixador. Questionado sobre se os minérios são também um sector que capta o interesse chinês, tendo em conta o anúncio recente da participação de uma empresa daquele país na exploração de nióbio na Huíla, o diplomata afirmou que esta é uma área em que o governo angolano “esta a dar mais abertura” para atrair mais investidores. “Se tudo correr bem, se houver benefício para ambas as partes penso que vamos ter mais destes investimentos”, afirmou, realçando que “quando o mercado está aberto, está livre” trará empresários “tanto da China como de outras partes”. Sobre se o investimento chinês em Angola poderá superar, este ano, o de 2019, Gong Tao foi cauteloso, notando que “a situação de pandemia ainda está a evoluir”, apesar de o governo angolano “estar a fazer tudo o possível” para o controlo da situação. “Não temos certezas para os próximos meses, mas, de modo geral, os investidores chineses depositam grande importância no mercado angolano e pensam que com as políticas favoráveis à melhoria do ambiente de negócios vão ter mais facilidades, mais ajudas para fazer mais investimentos e participar mais no desenvolvimento económico” de Angola que, destacou, continua a ser “um parceiro estratégico para China”. Quanto à renegociação da dívida de Angola com a China, está em cima da mesa. “As instituições financeiras chinesas estão a manter contactos com as autoridades angolanas”, disse Gong Tao, sem especificar os montantes que estão em causa e escusando- se a adiantar se está também a ser negociada a dívida com credores privados. Os milhões da operadora Africell Entretanto, a operadora Africell pretende investir “centenas de milhões de dólares” em Angola, onde venceu o concurso público para se tornar na quarta operadora de telecomunicações, e começar o serviço em meados de 2021, adiantou o director de investimentos, Ian Paterson.
“Estamos a prever fazer uma entrada muito relevante no mercado, vamos investir centenas de milhões de dólares em Angola. Estamos em discussões avançadas com vários dos nossos parceiros de financiamento para estruturálo adequadamente”, adiantou, em Londres, o Chief Investment Officer ( CIO) da Africell. A empresa, criada no Líbano mas actualmente dirigida a partir da capital britânica, angariou nos últimos cinco anos 370 milhões de dólares ( 324 milhões de euros) de entidades como a agência de investimento norte-americana US International Development Finance Corporation ( USIDFC), antes denominada Overseas Private Investment Corporation ( OPIC), dos fundos Gemcorp e Helios Investment Partners e da International Financial Corporation, que faz parte do Banco Mundial. A dimensão do investimento planeado pela operadora panafricana reflecte a convicção no potencial do mercado angolano, o qual explodiu durante os anos de crescimento económico, mas tem vindo a descrever desde 2014, acompanhando a queda do preço do petróleo que arrastou Angola para uma crise económica.
De acordo com o Instituto Angolano das Comunicações ( Inacom), no ano passado o número de subscritores de serviços de telemóvel recuperou pela primeira vez em cinco anos, aumentando 12% relativamente a 2018, para 14,8 milhões, enquanto que a taxa de penetração passou de 45% para 49%. A Unitel domina o mercado, com cerca de 80%, à frente da Movicel, que tem cerca de 20%, enquanto que a Angola Telecom ( empresa estatal em processo de privatização) possui apenas uma posição residual.
“O mercado de telecomunicações [ angolano] é muito atractivo porque há muito pouca concorrência verdadeira. A Unitel é um agente dominante no mercado e os clientes sofreram como resultado disso porque não receberam o melhor em termos de preço, valor e serviço que teriam se existisse uma concorrência verdadeira e o dinamismo que isso traz”, afirmou Ian Paterson.
A relação custo- benefício será uma componente importante da estratégia da Africell para romper no mercado angolano, procurando chegar a utilizadores que ainda não estejam a usar serviços ‘ premium’ com planos de preços e aparelhos mais sofisticados, mas de custo mais acessível. “Planeamos introduzir planos de preços muito mais criativos e flexíveis. Vamos ter mais soluções de alta velocidade, mais serviços de valor acrescentado. Em particular, coisas como pagamentos móveis e conteúdos, que não foram bem integrados no produto principal de comunicação, vão fazer parte da nossa solução”, adiantou Ian Paterson. O objectivo, acrescentou, é contribuir para o desenvolvimento no país, permitindo aos angolanos usar o telemóvel de forma mais ampla para fins educacionais, comerciais ou médicos.
A Africell prevê criar 6.000 postos de trabalho directos e indirectos nos próximos três a cinco anos, aproveitando ou formando recursos humanos locais, com o recrutamento a começar em breve. Em termos de cobertura, pretende também aproveitar as infraestruturas já existentes, usando os cabos de fibra óptica e as torres de telecomunicações da concorrência para evitar “investimento dup l i c ado desnecessário”, mas essa questão depende do regulador.
“A nossa proposta é baseada no pressuposto que os regulamentos que o governo gastou um esforço considerável a elaborar de partilha de infra- estruturas e partilha de recursos de forma mais ampla serão implementados e cumpridos”, vincou Paterson.
A empresa espera concluir as negociações com o governo angolano, que continuaram mesmo durante o confinamento, até ao final de Setembro e começar a operar em meados de 2021.