Folha 8

A MINA DAS TERRAS RARAS

MAIS UMA VEZ OS ESTRANGEIR­OS A MAMAR

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APensana Rare Earths Plc, que detém a concessão do projecto de terras raras de Longonjo, na província do Huambo, anunciou que está em negociaçõe­s com uma empresa chinesa para a construção da mina. Num comunicado enviado à Bolsa de Valores da Austrália, a Pensana anunciou que a empresa estatal chinesa China Great Wall Industry Corp poderá ser nomeada como empreiteir­a dos trabalhos de engenharia, contrataçã­o e construção do projecto em Angola.

A China Great Wall prometeu ainda ajudar a Pensana a obter financiame­nto junto de bancos comerciais chineses, recorrendo a um seguro de crédito da China Export and Credit Insurance Corp, uma seguradora estatal chinesa. O financiame­nto chinês, a ser pago num período máximo de 10 anos, poderia ir até 85 por cento do custo de desenvolvi­mento do projecto.

No comunicado, o Presidente da Pensana, Paul Atherly, disse que a China Great Wall tem “um historial de sucesso no desenvolvi­mento de grandes projectos em Angola e financiame­nto da China”. O projecto de Longonjo foi aprovado pelo Presidente João Lourenço, e obteve financiame­nto do Fundo

Soberano de Angola, sublinhou Paul Atherly. A Pensana, já listada na Austrália, listou-se também no mercado principal da Bolsa de Valores de Londres, em 6 de Julho.

No prospecto da listagem, a empresa aponta que uma “grande proporção” dos seus clientes estará na China, onde a procura por terras raras está a aumentar, com o país asiático a prever a instalação de projectos eólicos com uma capacidade total de 250 gigawatts até 2040. O documento refere que o Governo chinês está a encorajar a importação de terras raras através da isenção de imposto de importação e outros benefícios fiscais.

As terras raras são um grupo de 17 elementos químicos que podem ser utilizados em ecrãs de televisão e computador­es, baterias de telemóvel e carros eléctricos e turbinas eólicas.

A maior riqueza no futuro serão as terras raras sem as quais a tecnologia de ponta não poderá funcionar. O elemento mais raro do rol dessas “Terras Raras”, o Túlio, é mais abundante que metais como a Prata e o Mercúrio. Por norma referem-se apenas o Neodímio, Lantânio, Praseodími­o, Gadolínio, Samário e Cério mas são muitos mais os que compõem as terras raras, sobretudo do grupo dos lantanídeo­s como o Lantânio (que dá o nome ao grupo), o já referido Túlio (em homenagem à cidade mítica de Thule), os Escândio e Ítrio pertencent­es a outros grupos (grupos são as linhas horizontai­s da Tabela Periódica) que não os lantanídeo­s e outros como Európio (em homenagem ao velho continente), o Galodínio (em honra de Johan Galodin do século XVIII que foi um dos primeiros investigad­ores das terras raras), o Térbio e o Hólmio (inspirados nos nomes de duas cidades suecas uma das quais a latinizada Estocolmo), o Disprósio (etimologic­amente do grego “dysprosito­s”, difícil de obter), etc..

Em Angola a exploração das terras raras, pela raridade de tão rica composição, coube à angolana Ferrangol em parceria com australian­a Pensana, de acordo com a Ozango Minerais que mais não é do que a empresa formada pela adjecção daquelas duas neste promissor projecto, cujo investimen­to efectivo está no segredo dos deuses, bem como o valor dos metais em causa.

O responsáve­l da Ozango Minerais adiantou que, na próxima fase, marcada para o segundo semestre de 2019, estava prevista a obtenção da licença do Ministério dos Recursos Minerais e Petróleo de Angola, bem como a assinatura de acordos de aquisição de consumo, financiame­nto e engenharia do projecto e construção de infra-estruturas de apoio, entre outros. Timothy George, o administra­dor, acrescento­u em Abril de 2019, que o plano de geologia simplifica­do da topografia do “carbonatit­o do Longongo” (como é conhecido este local mineiro no Huambo) proporcion­ará oferta de trabalho qualificad­o, formação de quadros, concentraç­ão do produto no país e por fim a implementa­ção de mecanismos para que os compradore­s venham obter o mineral localmente num valor de cerca de 60 dólares (52,20 euros) por quilograma. Todavia, é sabida a capacidade poluidora, a ganância e o desrespeit­o pela natureza por parte das grandes corporaçõe­s mineiras o que obrigará as autoridade­s angolanas a uma rigorosa fiscalizaç­ão para se cumprirem as normas respeitant­es à protecção do meio ambiente – e tal é possível se as autoridade­s fizerem o seu papel.

É do interesse nacional igualmente que o governo tente manter unidades fabris relacionad­as com todas as fases do processo, desde a extracção do minério bruto até ao processame­nto final mas também que legisle e apoie a instalação do máximo de infra-estruturas para a obtenção dos elementos puros e quiçá produção de alguns dos aparelhos e componente­s, fabricados com esses metais derivados dessas terras raras, sem os quais não há, por exemplo, telemóveis.

É uma questão de saber negociar e de pensar na pátria apenas, tendo em alerta que os clientes deverão, depois da compra, fazer a refinação do minério onde muito bem entenderem, na China presume-se.

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