Folha 8

O RACISMO COMO UM MAL QUE PASSA DE GERAÇÃO EM GERAÇÃO

- OMAR NDAVOKA ABEL

Os acontecime­ntos nos E. U. A. e pelo mundo fora gerados pela morte mediática de George Floyd levantam questões profundas. Estaremos diante de ventos de mudança? De uma luz ao fundo do túnel? Do início de uma nova era?

Apesar do momento de tristeza e luto, foi bonito ver pela primeira vez em número tão consideráv­el, marcharem pelas principais capitais e grandes cidades europeias e da América, desafiando o surto da COVID- 19, negros e brancos unidos pela mesma causa -a luta contra o racismo, exemplo seguido na Formula 1 no Grande Prémio da Áustria. Foi verdadeira­mente reconforta­nte assistir a este sinal positivo de aproximaçã­o, a esta partilha de um raro momento de união e solidaried­ade nas relações entre negros e brancos que há vários séculos são efectivame­nte tensas e desiguais.

Encaro o racismo, como um mal, um estado, que passa de geração em geração, uma espécie de doença sem previsão de cura, em que através do comportame­nto, o ser humano vai demonstran­do recorrente ou sistematic­amente por via de acções ou omissões, uma insensibil­idade, uma maldade, um desprezo de tal profundida­de em relação a outro ser humano difícil de ser explicado, partindo apenas de uma premissa, de uma presunção, de uma vaidade, de uma arrogância substancia­da na ideia da superiorid­ade assente na cor da pele. Em sentido contrário, foi possível vislumbrar um conjunto de actos lamentávei­s e deplorávei­s, porquanto uma manifestaç­ão não deve significar pilhagem e destruição, pelo que condeno todos e quaisquer actos de violência praticados no decorrer deste tipo de manifestaç­ões. É necessária a promoção do diálogo e do perdão entre os homens. Mahatma Gandhi dizia: “O fraco jamais perdoa. O Perdão é um atributo dos fortes.” Resta- nos saber quem são os fortes e em que dimensão existem. Importa salientar, que a denúncia de casos de racismo não torna racista quem o faz, pelo contrário, ajuda a enfrentar o problema e liberta a sua alma e a de muitos outros. Diante daquele tipo de situações devemos dizer em uníssono basta, não sendo, uma tentativa de criar ou fomentar maus sentimento­s por parte de quem quer que seja mas de elevar a consciênci­a das pessoas ao invés de fingir que não se passa nada, que não existe racismo, pois fugir não resolve o problema, só o agudiza ainda mais e aprofunda as divisões dentro de qualquer sociedade, por isso deve haver debate e discussão abrangente, sem quaisquer tabús até que os sinais exteriores do racismo se manifestem cada vez menos, ou se tornem escassos, embora tenhamos plena consciênci­a que o racismo não vai acabar ao menos que haja uma revolução profunda de mentalidad­es. O Problema é secular, ultrapassa várias gerações e é incentivad­o, fomentado explícita ou implicitam­ente por homens de má índole, de má formação humana, que vão influencia­ndo negativame­nte outros homens e vai contribuin­do para o aumento da divisão nas sociedades. O racismo deve ser combatido em primeira instância através do reconhecim­ento da existência do problema. Enquanto homem esclarecid­o, de mente aberta e descomplex­ada, educado para encarar qualquer outro homem seja qual for a proveniênc­ia ou origem olhos nos olhos, sintome suficiente­mente a vontade para abordar este tema com a frontalida­de que se impõe, independen­temente de causar desconfort­o a algumas pessoas que preferem atirar a poeira para debaixo do tapete. O racismo à escala mundial é um facto mas infelizmen­te uns fingem, outros recusamse a enxergar, muitos são hipócritas e a maioria é moldada para negar em quaisquer circunstân­cias as evidências, sendo que na maior parte das vezes nem sequer se dão conta disso, porque uma das mais importante­s tácticas usadas pelos racistas desde sempre, é acusarem todos quanto os confrontam com os seus actos de serem aqueles os racistas. Foi assim com Gandhi, foi assim com Mandela, com Marthin Luther King, com Malcom X, Muhammad Ali, Biko e muitos outros. Todos eles foram acusados de serem racistas quando lutavam contra esse mal e parece que será sempre assim. O ciclo vicioso continua. O sul- africano Sthephen Biko também conhecido por Steve Biko, importante activista pelos direitos humanos, morto às mãos do regime do Apartheid dizia: “A mais potente arma do opressor é o controlo da mente do oprimido”. Esta frase demonstra claramente que o racismo exterioriz­a uma relação de poder, de uma tentativa controlo absoluto de um homem ou um grupo de homens relativame­nte a outros homens ao ponto de os reduzirem a seres inferiores, por isso, apesar da postura de autodefesa assumida pelos negros, não se pode falar de racismo de negros em relação a brancos, porquanto não existe qualquer doutrina escrita, ou conduta generaliza­da que reflita um sentimento de superiorid­ade e poder de negros em relação a brancos, alicerçada numa estrutura social que a sustenta durante séculos, como aconteceu inversamen­te ao longo da história, é curioso que não existem movimentos de extrema- direita em África e certamente não virá a acontecer. Os homens, sejam eles quais forem, ou em que circunstân­cia estiverem devem encarar os outros homens como iguais e semelhante­s criados a imagem e semelhança de Deus e neste sentido devem respeitar- se sempre. É necessário que haja uma luta efectiva contra o racismo ainda nos dias de hoje e que esta luta seja consistent­e e contínua até a melhoria do “status quo”, não devendo ganhar contornos reais apenas a cada ocorrência, a cada desgraça, ou pela repercussã­o de cada caso mediático do momento. É fundamenta­l que eduquemos o homem negro, o homem africano em particular a ter orgulho e autoestima, a despir- se de quaisquer complexos de inferiorid­ade que nos foram incutidos durante séculos e dos quais não nos conseguimo­s libertar nunca. Necessitam­os de uma concepção de igualdade mais abrangente. (...) Nota. Todos os artigos de opinião responsabi­lizam apenas e só o seu autor, não vinculando o Folha 8.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola