FOME, MENDIGAGEM, DESESPERO E FALTA DE APOIO INSTITUCIONAL AOS ACTORES
O Presidente da República, João Manuel Gonçalves Lourenço, assinou, a 9 de Julho, o diploma que fixa as medidas excepcionais e temporárias que vigoram nos casos em que seja declarada cerca sanitária provincial ou municipal. Os museus, teatros, monumentos
Segundo as contas da Associação Angolana de Teatro ( AAT), quatro mil profissionais de teatro estão desde a divulgação do Estado de Emergência ( 26 de Março) a passar por graves dificuldades, incluindo alimentares, conjugais e de mendigagem. Adelino Caracol traça em poucas palavras a algazarra por que passam os actores “passar fome é favor. Estamos a viver a mendigagem. Estamos a ser sustentados pelas mulheres. Perdemos a dignidade,” clamou o presidente da Associação Angolana de Teatro e responsável do grupo Njinga Mbande.
Para Sophia Buco, produtora da Buco Produções, a actual situação epidemiológica mudou completamente a rotina dos actores “o palco é a fonte de rendimento dos actores e grupos de teatro. Estamos a viver fases complicadas. Inclusive muitos colegas entraram em depressão e desespero por sentirem- se impotentes face ao actual momento, sem puderem fazer nada,” adianta. Sobre as alternativas em curso, Sophia Buco adiante que as redes sociais e as plataformas digitais têm servido de alívio “alguns colegas vão fazendo programas virtuais, lives, debates no ZOOM e similares, mas não é a mesma coisa”. João Kiaza, especialista em Ciências da Informação mostra-se céptico em relação ao uso de soluções tecnológicas no teatro “deve-se entender que, o recurso a plataformas digitais para apresentação de qualquer actividade comercial obedece critérios rígidos e que muitas das vezes acabam enriquecendo outras pessoas. Um destes critérios é a estratificação do pagamento mediante o alcance de pelo menos 10 mil visualizações, e que, este pagamento exige outros procedimentos. Além de que, atendendo a falta de literacia digital por parte de muitos dos consumidores, fará com que não seja possível atingir tal cifra. Para a questão do Youtube, só seria possível fazê-lo de forma aberta (o canal tinha de estar disponível para todos), o que desde já não é rentável. Uns dizem que devesse usar para tal, aplicações de videoconferências como por exemplo o Zoom. Analisando bem as vantagens e as desvantagens das soluções tecnológicas para este tipo de actividade, só podemos concluir que os palcos até aqui são a melhor solução, e não é pelo simples facto de proporcionar interatividade autores e público, mas, por ser a via mais fácil de arrecadação de receitas. Por estas e outras razões, recomendo a adaptação de locais públicos para apresentação e actuação dos artistas impedidos de receber públicos em locais fechados,” adianta. Em relação aos apoios institucionais, Sophia Buco avança que até ao momento os grupos e companhias de teatro, não receberam qualquer auxílio do ministério da tutela, “cada um está a sobreviver como pode,” assegura.
O Folha8 contactou o Gabinete de Comunicação Institucional e Imprensa do Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente para saber dos apoios institucionais e numa concisa nota, pode ler-se “nós estamos a dialogar com o Ministério da Economia e Planeamento, e com o Ministério das Finanças para encontrarmos um equilíbrio em termos de medidas de alívio económico, não só para os envolvidos na classe do teatro, mas no geral de forma a podermos mitigar a recessão económica que está a existir de uma forma equilibrada,” adianta a nota.