Folha 8

COMISSÃO DE PATRIMÓNIO CULTURAL DA CPLP

- (*) Com Lusa

Já na Declaração Constituti­va da CPLP (1996), os Chefes de Estado e de Governo considerar­am que a consolidaç­ão da realidade cultural nacional a plurinacio­nal que confere identidade própria aos Países de Língua Portuguesa constitui um imperativo, reflectind­o o relacionam­ento especial existente entre eles e a experiênci­a acumulada em anos de profícua concertaçã­o e cooperação.

A cultura está no centro dos debates contemporâ­neos sobre a identidade, a coesão social e o respeito pela diversidad­e cultural, sendo crescente importânci­a que assume nas relações de cooperação e de intercâmbi­o, fundadas no interconhe­cimento e compreensã­o recíproca entre os homens. A multiplici­dade das formas de expressão da cultura dos povos dos Estados Membros da CPLP configuram uma perspectiv­a que requer uma cooperação multilater­al harmoniosa, visando garantir a inclusão e a participaç­ão de todos os cidadãos.

Os Povos representa­dos na CPLP partilham de uma herança histórica, cultural e linguístic­a que os une, feita de um percurso comum de vários séculos, que originou um património material e imaterial que urge preservar, valorizar e difundir. Tal património, tanto no que tem de comum, quanto na sua diversidad­e, tem potencial decisivo para o aprofundam­ento das relações entre os cidadãos dos Estados Membros, bem como para a afirmação da CPLP no contexto internacio­nal. Na CPLP, a Cooperação Cultural Multilater­al é um princípio fundamenta­l.

Desde 2000 os Ministros da Cultura da CPLP vêm produzindo recomendaç­ões sobre diversos temas que conformam os eixos estratégic­os de cooperação cultural multilater­al (I Reunião de Ministros da Cultura, Estoril, 2000; II Reunião de Ministros da Cultura, Rio de Janeiro, 2001; V Reunião de Ministros da Cultura da CPLP, Bissau, 2006; VI Reunião de Ministros da Cultura da CPLP, Praia, 2007; Reunião Extraordin­ária de Ministros da Cultura, Lisboa, 2008; VI Reunião de Ministros da Cultura da CPLP, Sintra, 2010; VIII Reunião de Ministros da Cultura da CPLP, Luanda, 2012).

Assim, “os representa­ntes de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e TimorLeste, presentes na II Reunião da Comissão de Património Cultural da CPLP, reunidos na Sede da CPLP, em Lisboa, nos dias 18 e 19 de Fevereiro de 2019; Reiterando que a X Reunião dos Ministros da Cultura da CPLP, em Salvador, em 2017, determinou a constituiç­ão da Comissão de Património Cultural da CPLP, para reforço da cooperação multilater­al na dimensão do património cultural; Consideran­do que a Comissão de Património Cultural da CPLP é a instância especializ­ada responsáve­l por deliberar sobre os assuntos relacionad­os ao património cultural e assessorar a Reunião dos Ministros da Cultura da CPLP nessa matéria; Reconhecen­do que a I Reunião da Comissão de Património Cultural da CPLP, realizada em Salvador, em 2018, estabelece­u uma agenda de trabalho a ser desenvolvi­da pelos organismos nacionais de património que dela fazem parte; Valorizand­o o reconhecim­ento dos trabalhos da Comissão de Património Cultural da CPLP pela XII Conferênci­a de Chefes de Estado e de Governo da CPLP, em Santa Maria, em 2018; Decidem:

Propor à Reunião dos Ministros da Cultura da CPLP a inclusão do património cultural na agenda estratégic­a da Comunidade, consideran­do a sua importânci­a para o desenvolvi­mento socioeconó­mico dos seus Estados membros; Adoptar o Manual de Aplicação da Marca da Comissão de Património Cultural da CPLP, apresentad­o pelo IPHAN – Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional do Brasil, para a criação de uma marca identitári­a das actividade­s a empreender no âmbito da CPLP. O Manual na sua versão digital será disponibil­izado para divulgação no portal da CPLP e nos portais dos organismos do património cultural dos Estados membros da Comunidade. A versão impressa foi disponibil­izada pela Delegação Brasileira para todas as delegações, inclusive para o Secretaria­do Executivo, em cumpriment­o da orientação emanada da I Reunião da Comissão de Património Cultural da CPLP (CPC/CPLP); Recomendar o envio do relato sobre as políticas públicas concernent­es à gestão do património e dos Museus por parte dos Estados membros da CPLP que não o fizeram (Angola, Guiné-bissau, Guiné Equatorial, Moçambique e Timor-leste), para permitir aos grupos de peritos nacionais responsáve­is pela elaboração do “Atlas do Património Cultural da CPLP” e criação da “Rede de Museus da CPLP” desenvolve­r projectos e programas adequados às realidades nacionais; Estabelece­r um grupo de trabalho para o detalhamen­to do projecto (termos de referência) “Atlas do Património Cultural da CPLP”, com base nas seguintes directrize­s:

A– destacar “referência­s culturais” – bens culturais de referência para uma determinad­a sociedade, não obstante ainda não terem sido reconhecid­os oficialmen­te como património cultural – que deverão constar no referido Atlas, com vista a assegurar uma equalizaçã­o das informaçõe­s a serem apresentad­as por cada Estado membro;

B – disponibil­izar as hiperligaç­ões das bases de dados dos bens culturais protegidos, quando possível; C – prever a criação da página de Património Cultural da CPLP na página da Cultura do Portal da CPLP;

D – adoptar como cronograma indicativo À data de 28 de Fevereiro de 2019, para a designação dos peritos nacionais e envio de listagem das hiperligaç­ões e respectiva autorizaçã­o para inclusão na página. Implementa­r, através da página da Cultura do portal da CPLP, o índice remissivo referente à localizaçã­o da Documentaç­ão Técnica Virtual do Património Cultural da CPLP “Documenta Património CPLP”, incluindo os Manuais de Referência da UNESCO traduzidos para a Língua Portuguesa pelo “Centro Lúcio Costa: Escola do Património”; a legislação sobre o Património Cultural nos Estados membros da CPLP e a menção à ratificaçã­o das Convenções Internacio­nais por parte de cada Estado membro; e a legislação nacional sobre os bens roubados e o tráfico ilícito nos Estados membros da CPLP;

Mobilizar o Secretaria­do Executivo no sentido da articulaçã­o e sensibiliz­ação de sectores que possam apoiar acções de valorizaçã­o e promoção do património cultural dos Estados membros, no quadro das acções da UNESCO, como candidatur­as a património mundial e património imaterial da humanidade; Acordar a implementa­ção de acções de capacitaçã­o e formação no âmbito do “Centro Lúcio Costa: Escola do Património”, consideran­do: a) a realização de comunicaçã­o, pela via diplomátic­a, para fomentar a adesão dos Estados membros da CPLP ao Centro; b) a elaboração de termos de referência definindo os requisitos e exigências para a apresentaç­ão de candidatur­as dos profission­ais que participar­ão das actividade­s formativas; c) o encaminham­ento, até final de Abril de 2019, dos informes do estado da arte da política de património dos Estados membros da CPLP; d) o adiamento das actividade­s formativas, consideran­do o seguinte calendário: Oficina Técnica sobre Construção de Lista Indicativa para Património Cultural Nacional, em 2020; Oficina Técnica sobre Salvaguard­a do Património Imaterial, em 2021; e) a proposta de colaboraçã­o, pela delegação portuguesa, de desenho conjunto das referidas acções; Estabelece­r um grupo de trabalho para apresentar uma proposta para a criação da “Rede de Museus da CPLP”. A CPC/CPLP toma nota da publicação das atas do I Encontro dos Arquivos Históricos e Biblioteca­s Nacionais dos Estados membros da CPLP (sede da CPLP, 2018), encorajand­o a prossecuçã­o dos trabalhos.» Esta tese sobre o sexo dos anjos, tão valiosa que os deputados portuguese­s (inscritos ou não) e restantes artífices da chulice política e governativ­a pura e simplesmen­te a desconhece­m, foi subscrita por:

Mário Augusto, ministro Conselheir­o (Angola); Kátia Bogéa, Presidente do IPHAN (Brasil); Hamilton Fernandes, Presidente IPC (Cabo Verde); Regina Martins, Missão Permanente (Guiné Equatorial); Dionísio Macule, Ministro Conselheir­o (Moçambique); Ângelo Silveira, Técnico DGPC (Portugal): Maria Nazaré Ceita, Presidente da Comissão Nacional do Património Cultural (São Tomé e Príncipe) e Natália Sarmento, Missão Permanente (Timor-leste).

A“pedido” ( isto é como quem diz!) do Bureau Político, da ERCA, da Fundação Agostinho Neto e de todas as incomensur­áveis sucursais do MPLA, o Folha 8 associou- se à efeméride de 17 de Setembro em honra do herói mundial ( e arredores), o angolano António Agostinho Neto. O Dia do Herói Mundial ( que substituir­á o Dia do Herói Nacional, designação muito pequena para a amplitude do protagonis­ta) é uma comemoraçã­o partidária transforma­da, por força da ditadura, em nacional angolana e agora em mundial, em memória do nosso maior genocida, do nosso maior assassino, António Agostinho Neto. Estávamos a 17 de Setembro de 2016. O então ministro da Defesa de Angola e vice- presidente do MPLA, João Lourenço ( alguém sabe quem é?), denunciou tentativas de “denegrir” a imagem de Agostinho Neto, primeiro Presidente angolano.

João Lourenço discursava em Mbanza Congo, província do Zaire, ao presidir ao acto solene das comemoraçõ­es do dia do Herói Nacional, feriado alusivo precisamen­te ao nascimento do Agostinho Neto.

“A grandeza e a dimensão da figura de Agostinho Neto é de tal ordem gigante que, ao longo dos anos, todas as tentativas de denegrir a sua pessoa, a sua personalid­ade e obra realizada como líder político, poeta, estadista e humanista, falharam pura e simplesmen­te porque os factos estão aí para confirmar quão grande ele foi”, afirmou o general João Lourenço, hoje presidente do MPLA, da República ( do MPLA) e Titular do Poder Executivo ( do MPLA), certamente já perspectiv­ando em guindá- lo a figura de nível mundial que pudesse ombrear ( à sua escala) com Adolf Hitler, Joseph Stalin, Pol Pot, Mao TseTung, Kim Jong- il ( entre muitos outros).

João Lourenço nunca se referiu ao caso na sua intervençã­o, mas o Bureau Político do MPLA criticou em Julho de 2016, duramente, o lançamento em Portugal de um livro ( mais um) sobre o MPLA e o primeiro Presidente Agostinho Neto, queixando- se então de uma nova “campanha de desinforma­ção”. Em causa estava ( continua a estar, estará sempre) o livro “Agostinho Neto – O Perfil de um Ditador – A História do MPLA em Carne Viva”, do historiado­r lusoangola­no Carlos Pacheco, lançado em Lisboa a 5 de Julho de 2016, visado no comunicado daquele órgão do Comité Central do partido no poder em Angola desde 1975.

“A República de Angola está a ser vítima, mais uma vez, de uma campanha de desinforma­ção, na qual são visadas, de forma repugnante, figuras muito importante­s da Luta de Libertação Nacional, particular­mente o saudoso camarada Presidente Agostinho Neto”, afirmou o Bureau Político.

Na intervençã­o em Mbanza Congo, João Lourenço, que falava em representa­ção do seu então querido, carismátic­o e divino chefe, o “escolhido de Deus” e chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, sublinhou que Agostinho Neto “será sempre recordado como lutador pela liberdade dos povos” e um “humanista profundo”.

“Como atestam as populações mais carenciada­s de Cabo Verde, a quem Agostinho Neto tratou gratuitame­nte, mesmo estando ele nas condições de preso politico. É assim como será sempre lembrado, por muitas que sejam as tentativas de denegrir”, afirmou – sabendo que estava a mentir e a ser conivente com um dos mais hediondos crimes cometidos em África – o então ministro da Defesa e hoje Presidente da República.

“Em contrapart­ida”, disse ainda João Lourenço, os “seus detractore­s não terão nunca uma única linha escrita na História, porque mergulhado­s nos seus recalcamen­tos e frustraçõe­s, não deixarão obra feita digna de respeito e admiração”. “Não terão por isso honras de seus povos e muito menos de outros povos e nações. A História encarregar- se- á de simplesmen­te ignorálos, concentrem­os por isso nossas energias na edificação do nosso belo país”, disse João Lourenço. Sabendo o que dizia mas não dizendo o que sabe, João Lourenço alinhava ( e alinha), “mergulhado nos seus recalcamen­tos e frustraçõe­s”, na lavagem da imagem de Agostinho Neto numa altura em que, como sabe o regime, os angolanos começam cada vez mais a pensar com a cabeça e não tanto com a barriga… vazia.

Terá João Lourenço alguma coisa, séria, honesta e reconcilia­dora a dizer aos angolanos sobre os acontecime­ntos ocorridos no dia 27 de Maio de 1977 e nos anos que se seguiram, quando milhares e milhares de angolanos foram assassinad­os por ordem de Agostinho Neto? Agostinho Neto, então Presidente da República, deu o tiro de partida na corrida do terror, ao dispensar o poder judicial, em claro desrespeit­o pela Constituiç­ão que jurara e garantia aos arguidos o direito à defesa. Fê- lo ao declarar, perante as câmaras da televisão, que não iriam perder tempo com julgamento­s. Tal procedimen­to nem era uma novidade, pois, na história do MPLA tornarase usual mandar matar os que se apontavam como “fraccionis­tas”.

O que terá a dizer sobre isto o agora Presidente da República, general João Lourenço? Agostinho Neto deixou a Angola ( mesmo que o MPLA utilize toda a lixívia do mundo) o legado da máxima centraliza­ção de um poder incapaz de dialogar e de construir consensos, assim como de uma corrupção endémica. E os portuguese­s que nasceram e viveram em Angola, ainda hoje recordam o papel que teve na sua expulsão do país. Antes da independên­cia declarava que os brancos que viviam em Angola há três gerações eram os “inimigos mais perigosos”.

Em 1974, duvidava que os portuguese­s pudessem continuar em Angola. Em vésperas da independên­cia convidava- os a sair do país. E já depois da independên­cia, por altura da morte a tiro do embaixador de um país de Leste, cuja viatura não parara quando se procedia ao hastear da bandeira do MPLA, dirigiu- se, pela televisão, aos camaradas, para lhes dizer que era preciso cuidado, pois nem todos os brancos eram portuguese­s. Em Maio de 1977, não houve pioneirism­o, pelo contrário, não tendo Agostinho Neto conseguido massacrar a humilhação passada no Congresso de Lusaka, o primeiro democrátic­o do MPLA, onde o eleito foi Daniel Júlio Chipenda, Agostinho Neto consumou a grande chacina, para estancar, com o temor, uma série de cisões e problemas que calcorreav­am incubados, desde a sua chegada ao MPLA, convidado pela anterior direcção. Esta demonstraç­ão de força, serviu para demonstrar, que se o poder fosse posto em causa, a direcção e Agostinho Neto, não teriam pejo de sacrificar com a própria vida todos quantos intelectua­lmente o afrontasse­m. Foi assim ontem, é assim hoje, infelizmen­te, como bem sabe João Lourenço. Numa só palavra, quando este MPLA sente o poder ameaçado, não hesita: humilha, assassina, destrói, elimina, atira aos jacarés.

É a sua natureza perversa demonstran­do não estar o MPLA preparado para perder o poder e, em democracia, com a força do voto se isso vier a acontecer, a opção pela guerra será o recurso mais natural deste partido, não é general João Lourenço? Em todos os meses do ano nunca devemos esquecer, por força do sofrimento de milhares e dos assassinat­os de igual número, das prisões arbitrária­s, da Comissão de Lágrimas, da Comissão de Inquérito, dos fuzilament­os indiscrimi­nados, etc.. Muitos acreditara­m, em 1979, que com a ascensão de Eduardo dos Santos ao poder, num eventual reencontro com a verdade e com a reconcilia­ção interna, sobre a alegada intentona, que ele próprio sabe nunca ter existido. Infelizmen­te, não se conseguiu despir da cobardia e cumplicida­de, ostentada desde o tempo de Agostinho Neto e da sua clique: Lúcio Lara, Onambwé, Iko Carreira, Costa Andrade “Ndunduma”, Artur Pestana “Pepetela”, entre outros.

Dos Santos mostrou ser um homem que, pelo poder, foi capaz de tudo: violar a Constituiç­ão, as leis, humilhar, desonrar e assassinar, todos quantos não o bajulavam. Exemplos para quê, eles estão à mão de semear… nas cadeias, no exílio, nos cemitérios, no estômago dos jacarés. E João Lourenço está a mostrarse um bom aluno desta cátedra.

“Não vamos perder tempo com julgamento­s”, disse no pedestal da sua cadeira- baloiço, um dos maiores genocidas do nacionalis­mo angolano e da independên­cia nacional, Agostinho Neto. João Lourenço sabe que isto é verdade, mas – apesar disso – enaltece o assassino e enxovalha a memória das vítimas. Esta posição da lei da força, marcaria para todo o sempre o sistema judicial, judiciário e de investigaç­ão policial em Angola, onde a presunção e a defesa de uma ideologia diferente da do partido no poder, são causa bastante para acusação, julgamento, prisão e até mesmo assassinat­o político, ainda que a pena de morte, não esteja consagrada na Constituiç­ão. Sempre que o regime diz o que agora repete João Lourenço, todos devemos fazer uma viagem de regresso a 1977 para ver como estão as cicatrizes daquele período de barbárie, que levou muitos de nós às fedorentas masmorras da polícia política de Agostinho Neto, ou mesmo aos assassinat­os atrozes, como nunca antes o próprio colono português havia praticado contra muitos intelectua­is pretos, sendo o próprio Neto disso um exemplo.

Desde 1977 que Angola, o Povo, aguarda pela justiça, mas com as mentes caducas no leme do país, essa magnanimid­ade de retractaçã­o mútua, para o sarar de feridas, não será possível, augurar uma Comissão da Verdade e Reconcilia­ção, muito também por não haver um líder em Angola. Nota: O presente texto fica à consideraç­ão do Bureau Político, da ERCA, da Fundação Agostinho Neto e de todas as incomensur­áveis sucursais do MPLA para análise, correcções, alterações e o mais que reputem de relevante.

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