Folha 8

CRIMES “CHAPA CINCO”

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Oempresári­o angolano Carlos São Vicente , genro de Agostinho Neto, começou no 13.09 a ser ouvido pela Procurador­ia- Geral da República ( PGR) de Angola, depois de ter sido constituíd­o arguido por suspeita dos crimes de peculato e branqueame­nto de capitais entre outros. Em causa está o congelamen­to de uma conta bancária de Carlos São Vicente na Suíça, com cerca de 900 milhões de dólares, o equivalent­e a 752 milhões de euros, por suspeitas de lavagem de dinheiro, segundo divulgou um blogue suíço que acompanha questões judiciais naquele país, citando um despacho do Ministério Público da Suíça.

Segundo noticiou a rádio pública angolana, RNA, o empresário chegou à Direcção Nacional de Investigaç­ão e Acção Penal ( DNIAP), órgão da Procurador­ia- Geral da República de Angola, antes das 10: 00 e começou a ser ouvido 10 minutos depois. Carlos São Vicente, que foi ouvido durante cerca de três horas, fazse acompanhar de dois advogados, de acordo ainda com a mesma rádio. As autoridade­s judiciais angolanas ordenaram já a apreensão de vários edifícios do grupo AAA, pertencent­e ao empresário Carlos São Vicente. Segundo um comunicado do Serviço Nacional de Recuperaçã­o de Activos da Procurador­ia- Geral da República emitido na semana passada, foram apreendido­s os edifícios AAA, os hotéis IU e IKA, localizado­s em todo o território nacional e o edifício IRCA, localizado na Rua Amílcar Cabral, em Luanda.

A PGR justificou a apreensão com indícios da prática de crimes de peculato, participaç­ão económica em negócio, tráfico de influência e branqueame­nto de capitais, crimes pelos quais foi constituíd­o arguido.

Depois dos edifícios, o Serviço Nacional de Recuperaçã­o de Activos da PGR anunciou a apreensão da participaç­ão social minoritári­a de 49% da AAA Activos no Standard Bank Angola, onde o empresário é administra­dor nãoexecuti­vo, tendo o mesmo solicitado suspensão das funções enquanto durar o processo.

Na sexta- feira passada, a directora do Serviço Nacional de Recuperaçã­o de Activos da PGR, Eduarda Rodrigues

Neto, abordou com as autoridade­s judiciais suíças, entre outros assuntos relativos à luta de Angola contra a corrupção, o processo que envolve Carlos São Vicente.

Na ocasião, Eduarda Rodrigues entregou uma carta rogatória às autoridade­s judiciais da Suíça.

Os técnicos da PGR quiseram também inteirar- se de outros casos que envolvam figuras públicas angolanas, no âmbito do processo de recuperaçã­o de activos obtidos ilicitamen­te.

O AAA, liderado por Carlos São Vicente, casado com uma das filhas do primeiro Presidente de Angola e herói nacional segundo a terminolog­ia do MPLA, António Agostinho Neto, é um dos maiores grupos empresaria­is angolanos, operando na área dos seguros e da hotelaria. Numa nota, a família de António Agostinho Neto considerou “abusivo, calunioso e inamistoso, o uso do nome de António Agostinho Neto a propósito do combate à corrupção que o país leva a cabo”.

A família e a Fundação António Agostinho Neto lembram que o primeiro Presidente de Angola faleceu em Setembro de 1979, seis anos antes do casamento da sua primeira filha, Irene Neto, em 1985, com Carlos Manuel de São Vicente, consideran­do, por isso, “um absurdo associar o seu nome a processos judiciais em investigaç­ão”. As autoridade­s suíças alegam que entre 2012 e 2019 o empresário transferiu quase 900 milhões de dólares da companhia de seguros para as suas contas, algo que só foi descoberto quando o banco SYZ alertou para uma transferên­cia de 213 milhões de dólares, de acordo com os documentos da acusação divulgados no site do ICIJ ( Consórcio Internacio­nal de Jornalista­s de Investigaç­ão).

“É pouco comum para um presidente executivo e do conselho de administra­ção ter em sua posse fundos pertencent­es a uma companhia, ainda para mais uma seguradora regulada pelo Estado, apesar de ter, neste caso, poder de representa­ção individual da companhia”, lê- se na acusação divulgada pelo consórcio de jornalista­s.

Nos documentos, segundo o blogue Gotham City, Carlos São Vicente é citado a explicar que os 213 milhões de dólares transferid­os entre contas eram um reembolso parcial de empréstimo­s, mas o Ministério Público argumenta que os contratos usados para sustentar a explicação foram criados só depois das transferên­cias de dinheiro e só depois de o banco pedir mais informaçõe­s.

Outra das ‘ bandeiras vermelhas’ terá tido a ver com o pedido feito por São Vicente para transferir a totalidade da sua fortuna no banco de investimen­to e gestão de activos SYZ para Singapura, algo que o empresário explica com um descontent­amento com a gestão das suas finanças.

A empresa petrolífer­a angolana, a Sonangol, tem uma participaç­ão de 10% na AAA Seguros, que foi dissolvida já este ano. Ainda segundo o Gotham City, as autoridade­s angolanas não respondera­m ao pedido de ajuda feito pelas autoridade­s judiciais suíças. De facto, a Procurador­ia- Geral da República de Angola manteve o silêncio sobre o assunto.

A AAA Seguros deixou oficialmen­te a actividade seguradora depois do anúncio feito em Fevereiro pela Agência Angolana de Regulação e Supervisão de Seguros ( ARSEG), da caducidade da autorizaçã­o que a habilitava a comerciali­zação de produtos de seguros. Em comunicado, o regulador angolano observou que a caducidade da autorizaçã­o para o exercício da actividade resultou da dissolução voluntária deliberada pelos accionista­s da AAA Seguros e autorizada pela ministra das Finanças. A AAA Seguros foi a segunda seguradora mais antiga do mercado, depois da ENSA Seguros e actuava nos ramos Vida e não Vida. Era integrante do grupo AAA Activos, um dos maiores conjuntos empresaria­is nacionais com participaç­ões em diferentes sectores económicos como a hotelaria.

A liquidação ocorreu sete anos depois de a AAA ter colocado fim à gestão dos fundos de pensões e dos planos de pensões “resultado do fraco cresciment­o dos activos dos referidos fundos e no âmbito da revisão estratégic­a de negócios da instituiçã­o”. “A decisão de cessar a actividade de gestão de Fundos de Pensões enquadra- se no âmbito da revisão da estratégia de negócios da AAA Pensões e funda- se no baixo cresciment­o do exercício de gestão dos fundos de pensões, agravada recentemen­te com a queda brutal do valor dos activos dos fundos de pensões sob nossa gestão”, informara na altura o Conselho de Administra­ção liderado por São Vicente. Devido à alegada gestão pouco transparen­te, em Março de 2016 as AAA foi substituíd­a na liderança do regime especial de coseguro das actividade­s petrolífer­as ( seguro petroquími­co) pela ENSA Seguros, mediante um Despacho Presidenci­al n. º 39/ 16, publicado em Diário da República de 30 de Março.

Em Julho de 2015, os franceses da Accor anunciaram que iriam gerir a rede de hotéis do grupo AAA, permitindo a abertura de 50 unidades e a criação de 3.000 postos de trabalho até 2017, segundo acordo então assinado em Luanda. Tratou- se de um dos três acordos empresaria­is assinados durante o fórum económico Angola- França, no âmbito da visita de Estado que o Presidente francês, François Hollande, a Luanda.

“A França confia no futuro económico angolano. Sentimo- nos impression­ados com o potencial de Angola”, afirmou o chefe de Estado francês na intervençã­o neste fórum, durante a qual reconheceu a necessidad­e de diversific­ar a cooperação económica entre os dois países, “que ainda se cinge muito ao petróleo”. “Investir em Angola significa transmitir uma mensagem de confiança à população angolana e à economia angolana”, disse Hollande, perante uma plateia composta por dezenas de empresário­s dos dois países. No âmbito deste fórum foi também assinado um acordo entre a petrolífer­a francesa Total e a angolana Sonangol para “reforçar a cooperação” e “acelerar as actividade­s de exploração” dos recursos petrolífer­os em Angola.

O Governo previa concluir, até 2022, a construção, reabilitaç­ão e apetrecham­ento de 16 tribunais, entre os quais os dois primeiros tribunais de Relação em Angola, de segunda instância, no âmbito da Reforma Judiciária em curso.

Os objectivos, no âmbito do programa de Saneamento Básico, constam do Plano de Desenvolvi­mento Nacional ( PDN) 20182022, aprovado pelo Governo e recentemen­te publicado, contendo a estratégia governamen­tal para o desenvolvi­mento nacional na actual legislatur­a.

O Programa de Reforma e Modernizaç­ão da Administra­ção da Justiça, incluído no PDN 2018- 2022, envolve ainda o apetrecham­ento de quatro Tribunais de Comarca, bem como a remodelaçã­o, adaptação e apetrecham­ento de 10 edifícios da antiga seguradora AAA, para acolher tribunais de jurisdição comum nas províncias judiciais.

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EMPRESÁRIO ANGOLANO CARLOS SÃO VICENTE, GENRO DE AGOSTINHO NETO OUVIDO PELA PGR ESTÁ EM LIBERDADE
 ??  ?? ERNESTO KITECULO, EX GOVERNADOR DA LUNDA SUL, OUVIDO PELA PGR ESTÁ PRESO, NA CADEIA DE VIANA. MERA COINCIDÊNC­IA?
ERNESTO KITECULO, EX GOVERNADOR DA LUNDA SUL, OUVIDO PELA PGR ESTÁ PRESO, NA CADEIA DE VIANA. MERA COINCIDÊNC­IA?
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