… E POR FALAR EM PETRÓLEO
E POR FALAR NA TRETA DO COSTUME
As ultinacionais petrolíferas que operam em Angola admitiram na semana passada que a pandemia da Covid- 19 afectou negativamente um sector que enfrenta desafios como a retracção de novos investimentos no país. Os protagonistas são os mesmos que fizeram rasgados elogios à gestão de Isabel dos Santos na Sonangol?
A situação foi relatada à imprensa pelo portavoz da Associação das Companhias de Exploração e Produção de Petróleo em Angola, no final da audiência que o Presidente angolano, João Lourenço, concedeu a 15 responsáveis de petrolíferas que operam em Angola.
Andre Kostelnik, que é também director da Exxonmobil em Angola, disse que, devido à pandemia do novo coronavírus, houve demora na tomada de decisões de negócios, bem como redução da actividade de perfuração, o que postergou oportunidades de investimento.
“Essas oportunidades só poderão ser recuperadas à medida que a actividade económica comece a recuperar- se a nível do mundo”, disse Andre Kostelnik, salientando que ainda é impossível traduzir- se em números o impacto geral da pandemia da Covid- 19 sobre a actividade industrial. Segundo o directorgeral da Exxonmobil, o futuro de Angola não foge daquilo que é a situação actual, marcada por desafios, que são o impacto económico da pandemia da Covid- 19 sobre a indústria petrolífera.
O porta- voz do encontro frisou que há o compromisso entre as operadoras de continuarem a trabalhar em conjunto, tal como no passado ( no tempo em que, presume- se, não havia Covid- 19), para encontrar soluções, através das quais poderão trazer mais investimentos para Angola no sector petrolífero.
Além da petrolífera estatal Sonangol, estão presentes em Angola as multinacionais norteamericana, Chevron, britânica, BP, italiana, Eni e francesa, Total.
Agosto de 2017. O ministro dos Petróleos de Angola tecia vários elogios ao programa de transformação em curso na Sonangol. Botelho de Vasconcelos salientava a presença da petrolífera angolana na FILDA como um exemplo de qualidade alcançada numa conjuntura económica difícil. Há 45 anos que, com ou sem Cocid- 19, a “conjuntura económica” é sempre “difícil”.
Por isso, o ministro dos Petróleos destacou igualmente o programa interno “Somos Energia” que esperava que funcionasse como agregador e motivador de todos os colaboradores da Sonangol. Botelho de Vasconcelos fez estas considerações durante o dia dos Petróleos, na FILDA 2017, onde visitou o pavilhão do sector, dedicando atenção especial ao pavilhão da empresa do regime, na altura dirigida por Isabel dos Santos, uma escolha pessoal do Presidente da República, por sinal seu pai.
O ministro, segundo o Gabinete de Comunicação e Imagem da própria petrolífera, observou também os stands dos outros expositores das companhias que operam no mercado angolano e que participaram nessa edição da FILDA: British Petroleum, Chevron, Exxonmobil, Statoil e a Sonamet, e teve oportunidade para salientar que “… apesar de o sector estar a viver momentos difíceis, estão a registarse aspectos positivos já que as empresas começaram a reflectir sobre a necessidade imperiosa de aplicar medidas de autosuficiência, redução de custos e eliminação de desperdícios.” O programa “Somos Energia” foi o tema principal da intervenção da Administradora da Sonangol, Eunice de Carvalho, que destacou o facto do mesmo ter sido concebido para galvanizar a força de trabalho para os desafios da “nova” Sonangol, com uma estratégia assente em cinco valores: Rigor, Rentabilidade, Transparência , Excelência e Compromisso. A Administradora Eunice de Carvalho classificou como muito positiva a participação da Sonangol, na Edição 2017 da Feira Internacional de Luanda, tendo destacado a apresentação de produtos e serviços feita pelas subsidiárias presentes na feira. As características da botija Levita, da Sonagás; os derivados de petróleo exibidos pela Sonangol Distribuidora; a iniciativa promocional da Sonair, que oferecia um bilhete grátis a quem adquirisse passagem para Cabinda ou Houston; e os serviços médicos de alta qualidade da Clínica Girassol foram alguns dos bons exemplos referidos pela Administradora Eunice de Carvalho. O Administrador com a tutela da Sonair e da Clínica Girassol, Manuel Lemos, elogiou a redução de preços na Clínica Girassol assim como o facto desta instituição estar já a disponibilizar serviços médicos que outrora eram prestados apenas no estrangeiro, como por exemplo operações ao coração, diagnósticos e tratamento de cancro. “Esta evolução da Girassol tem beneficiado sobremaneira os pacientes que de outro modo teriam que adquirir divisas, o que não tem sido nada fácil, para custear despesas com saúde no exterior do país”, argumentou Manuel Lemos, que enalteceu igualmente o projecto da Sonair, da qual é Presidente da Comissão Executiva, de inaugurar, brevemente, novas rotas nacionais e internacionais. Edson dos Santos, Administrador da Sonangol E. P., interveio no dia dos Petróleos para referir três bons exemplos de casos de sucesso que resultaram da implementação de novas medidas de gestão. O transporte de gás por via férrea, a optimização de rebocadores e a autosuficiência na produção de JET- A1, o combustível específico para aviões. Em relação ao transporte de gás por via férrea, de Benguela até à província do Moxico, Edson dos Santos explicou que o mesmo reduziu os custos de transporte a granel em 60% nas zonas atravessadas por troços rodoviários, estando igualmente a maximizar os activos do Estado e a proporcionar, consequentemente, o retorno do investimento feito. Outro aspecto positivo desta medida é o facto de o transporte ferroviário ser mais seguro e ambientalmente mais adequado.
Com a integração dos serviços de rebocadores em três subsidiárias do Grupo, nomeadamente Sonagás, Sonangol Logística e Sonangol Distribuidora, diminuíram- se os meios logísticos em 67%, através da eliminação de dois rebocadores, que implicou uma redução de custos associados em 75%.
O Administrador Edson dos Santos salientou ainda, como caso de sucesso, a auto- suficiência na produção de JET- A1, que incentivou o aumento da produção deste derivado do petróleo na Refinaria de Luanda o que afastou a necessidade de fazer qualquer tipo de importação deste produto, contribuindo para “um maior equilíbrio na balança de despesas em moeda estrangeira”.
Nesse dia dos Petróleos na FILDA 2017, a Sonangol esteve representada ao mais alto nível com as presenças do Presidente da Comissão Executiva da Sonangol E. P., Paulino Jerónimo, e dos Administradores Eunice de Carvalho, Manuel Lemos, Edson dos Santos, Jorge Abreu, João dos Santos e César Paxi. Integraram ainda a comitiva da Sonangol os Presidentes das Comissões Executivas da Sonangol Distribuidora, Filomena Rosa, da Sonagás, Rúben Costa, da Clínica Girassol, Joaquim Van- Dúnem, da Mstelcom, Roger Ferreira, e outros gestores do Grupo Sonangol.
Já em Fevereiro de 2018, o então ministro português da Economia, Manuel Caldeira Cabral, agradeceu a Isabel dos Santos por a empresário angolana acreditar e investir em Portugal, mesmo numa altura em que outros duvidaram como aconteceu no período de ajustamento em que a “troika” esteve no país.
Durante a inauguração da unidade de mobilidade eléctrica da Efacec, na Maia ( Norte de Portugal), Caldeira Cabral deixou “uma palavra especial de agradecimento aos accionistas, em particular à Isabel dos Santos” e explicou porque o fazia: “Pelo investimento e pelo acreditar nesta empresa que ajudou a capitalizar no momento em que muitos não acreditavam na economia portuguesa.”
“É nos momentos difíceis, de ajustamento, como o país passou que se vê quem acredita em Portugal”, rematou. Na altura, a accionista maioritária da Efacec, Isabel dos Santos, afirmou que a empresa pretendia ser “empregador de referência em Portugal”, aumentando os colaboradores ligados à mobilidade eléctrica dos actuais 112 para 190 em 2018 e 400 em 2025. “Pretendemos ser empregador de referência em Portugal, formando quadros capazes de levar as suas competências a qualquer canto do mundo e acolhendo também aqui os melhores talentos internacionais”, afirmou a empresária angolana na cerimónia de inauguração da nova unidade industrial. Recorde- se, entretanto, que Patrick Pouyanné, CEO da Total., disse sobre a liderança de Isabel dos Santos na petrolífera nacional: “A Sonangol está a fazer exactamente aquilo que nós fizemos. Quando o preço do petróleo caiu todos sentimos dificuldades. A sua prioridade tem sido a transformação e equilíbrio das contas, o que tem sido positivo e permite voltar a pensar no desenvolvimento”. Por sua vez, Eldar Saetre, CEO da Statoil disse: “Estamos em Angola há 26 anos e por isso temos uma grande experiência neste mercado que tem sido muito importante para a nossa empresa. Sempre tivemos uma relação muito próxima com a Sonangol e queremos mantê- la por muito tempo. Por isso estamos para ficar e encontrar novas oportunidades de colaboração com a Sonangol”. Também Clay Neff, presidente da Chevron África afirmou: “Vemos as mudanças que a Sonangol está a fazer com muitos bons olhos. Existe uma colaboração muito positiva entre a Sonangol, a Chevron e os outros membros da indústria para melhorar as condições de investimento em Angola”.