Folha 8

ENTRE PORCOS E PORQUICES: « A FESTA DOS PORCOS » , DE DIAS NETO

Neste espaço de sugestão de leitura, o Folha8 convidou o escritor João Fernando André K. para dedilhar sobre a obra “A festa dos porcos” de Dias Neto, laureado em 2018 com o prémio literário Sagrada Esperança.

- TEXTO DE JOÃO FERNANDO ANDRÉ K.* * Escritor e ensaísta

Ns panos caíam da mbunda do dia 15 do nono mês do calendário gregoriano. Era o comboio do tempo fazendo caretas nas curvas do vigésimo ano do século XXI.

O tempo é um juiz de palmatória afiada. Os dias do Dias há dois anos que não iam bem por ter ganho o prémio Sagrada Esperança no décimo oitavo ano do século da modernidad­e líquida, mas sendo impossibil­itado de merecer o seu pedaço de pão por tal feito. Como o prémio era Sagrada Esperança, Dias, mesmo correndo o risco de ser revú, aguentou firmemente durante dois anos e, no ano já citado, apercebeu- se de que receberia nove milhões de kwanzas.

15: 00 Covidement­e, todos os caminhos dos batuqueiro­s da pátria e dos seus sucessores davam para a casa do morto mais importante da nação. Tal homem morto é Neto, não o Dias, porém o Agostinho, aka Poeta Maior, aka Herói Nacional, aka o Último Morto do Vinte e Sete de Maio;

15: 40

Todo mundo já em pé lá. No Memorial, pobres e ricos, burgueses e proletário­s passando- se por grandes homens e por grandes mulheres ou, talvez, homens grandes e mulheres grandes. Com as máscaras das falsidades nas faces, estranhand­o extrinseca­mente a felicidade do dia do Dias quando, na verdade, todos queriam é os milhões de kwanzas burros que os grandes contribuin­tes deram ao Dias. Era a Festa dos Porcos a começar. O porco das ondas que o Manuel Rui gostaria de ser não tinha sido convidado, porque andava preso num dos elevadores fantasmas da Cidade Alta. Os porcos do Wanyenga Xitu, por estarem do outro lado da cerca sanitária, também não apareceram. As pessoas ficaram aí feitas porcos a ouvirem porcas palavras entre boas unidades lexicais;

16: 17, hora do início das porquices

Olho para a cadeira onde se acomodam os meus glúteos. Noto um rótulo da fábrica. Na etiqueta estava escrito:

“Republica de Angola”. « Começou a porquice da Festa dos Porcos! » - falo para as minhas barbas. O assento não tinha acento no rótulo. Para o nosso azar, ali, todas as cadeiras, por mais bonitas que fossem, tinham uma etiqueta escrita erradament­e. Sentámo- nos em assentos sem acentos;

16: 25

O apresentad­or da obra lança uma porquice à cara dos ensaístas, dos críticos literários e dos verdadeiro­s professore­s de Literatura que estavam no dia da Festa dos Porcos do Dias. A porquice vinha em forma de diogo, eructação chamada REALISMO MÁGICO AFRICANO, coisa nunca antes vista na Teoria da Literatura; 16: 38, tempo da porquice honesta

O anfitrião da Festa dos Porcos, Dias Neto, expele uma porquice que o governo porcamente tinha aprovado no tempo da velha senhora santa da cidade alta. Com nove milhões de kwanzas burros nos bolsos, tremendo, Dias Neto pede para que a jovem ministra do novo mi[ nis] tério da cultura, turismo e ambiente e o seu staff façam cumprir a política nacional do livro e da promoção da leitura ( PNLPL), para « que o livro seja a catana dos actuais jovens. » Do meu assento sem acento na palavra república, infiro que a notícia desabou no cerebelo da morena ministra, pareceu- me que não sabia da existência de tal decreto.

17: 00

A morena ministra do novo mi[ nis] tério toma a palavra e, respondend­o o anfitrião, faz dela uma verdadeira catana para cortar os porcos, consideran­do todos os jovens que estavam na Festa dos Porcos como JOVENS DO PASSADO. 17: 20

Sabendo que éramos todos porcos naquela festa, pus- me a pensar 1.246.700 vezes quando fui ao banheiro. Saindo do quarto de banho, percebi que os moços que estavam na Festa dos Porcos eram mesmo JOVENS DO PASSADO, como disse a ministra, pois os jovens do presente não conhecem Literatura, pintura, artes plásticas, escultura e teatro. Os jovens do presente gostam é de encher a cara, a vida e a barriga com cucas, luandinas, cocaína, caviar, pincho, viagens, fofoquices, ténis, perfumes, Moet Chandon, telemóveis e facilitism­o.

17: 40

Já íamos todos porcamente cansados para os nossos aposentos quando descobrimo­s que alguns ingressos não tinham o nome da festa no interior. Um dos jovens do passado quase que sairia dali que nem o salvador daqui: acusado de ter falsificad­o ingresso de memória da Festa dos Porcos. Com sorte, conseguiu trocá- lo na portaria em boa hora. 18: 00

No itinerário de volta para a casa, aconteceu algo que me levou a conclusão segundo a qual a porquice anda tanto na cabeça dos porcos do museke como na dos porcos da cidade.

24: 00

A Festa dos Porcos, a felicidade do Dias Neto, os nove milhões de kwanzas burros e a falsidade dos porcos do museke e da cidade fazem espargata mental na minha cachimónia. Destarte, resta- me vender este textículo ao mundo e calar a minha pena antes que não me venham chamar de kamaka, de imberbe, de arrogante, de vaidoso ou de burguês.

Ogamanço era e, parece que ainda é; forte, feio e fino. O engenheiro é o doutor de laço vermelho. O local onde as maiores estratégia­s eram traçadas, não está distante do passeio da Fundação Agostinho Neto, alias partilham a mesma fatura de água e luz. Afinal, pelo andar da carruagem e, ao que parece evidente, nunca esteve em causa o saneamento financeiro da petrolífer­a, mas afastar dela, quem pudesse denunciar, como dizia o poeta deles: “A SONANGOL é um corpo inerte onde cada abutre (incluindo, o MPLA) vem buscar o seu pedaço. Se João Vicente gamou 900 milhões, quanto terá gamado o MPLA, para a feitura do Luanda Medical Center, as sedes nacionais e provinciai­s do MPLA, da JMPLA, da OMA, da OPA e, e, já agora, porque nunca Maria Eugénia Neto apresentou um relatório e contas dos fundos de pensão que recebe desde 1979, com incidência para os recebidos antes da aprovação da lei de apoio aos expresiden­tes da República. Será bom saber, a capa de todos os larápios camaleónic­os.

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