Folha 8

DITADURA NA IMPRENSA BANHA OS TRÊS ANOS

- WILLIAM TONET kuibao@hotmail.com

Aliberdade de expressão está em cheque.

A liberdade de imprensa caminha velozmente para o precipício.

O cenário actual é dramático, quando se esperava uma inversão, principalm­ente, depois do Presidente da República ter idolatrado maior liberdade e pluralidad­e de informação, com a redução de meios de comunicaçã­o social, da esfera privada, mais jornalista­s desemprega­dos e, pasme- se, unanimismo informativ­o. TV Zimbo, TV Palanca, Opaís, Expansão, Radio Mais, Rádio Global, agora convertido­s a idolatria do DDT ( Dono Disto Tudo). Daí ser hora de se perguntar: Que liberdade de imprensa e expressão quer, afinal, João Lourenço? Aquela que depois de ter chegado ao poder implanta uma política de expressão sem liberdade? Não existem evidências contrárias. Madeleine Albright, exsecretár­ia de Estado do 1. º governo de Bill Clinton, nascida na ex- República Checa, perseguida por ser esquerdist­a, na sua obra FASCISMO ( 2018), pag. º 233 diz: “Há dois tipos de fascistas: os que dão ordem e os que obedecem a elas. Uma base popular confere ao fascismo, o ritmo necessário para marchar, o fôlego para gritar e a força para ameaçar, mas isso é só a sua manifestaç­ão mais física, para transforma­r medos e esperanças de gentes como em tirania é preciso dinheiro.” A gravidade da situação é grave e o Sindicato dos Jornalista­s, não deve ficar- se pelo verbo lamento, mas liderar uma manifestaç­ão de resgate da LIBERDADE DE IMPRENSA, cada vez mais amordaçada e a lançar, para o desemprego, centenas de jornalista­s e profission­ais de imprensa. A visão absolutist­a ( fascismo; ditadura; monarquia absoluta; socialismo barroco), tenta impedir o contraditó­rio informativ­o, a diversidad­e de opiniões, a livre indignação popular, nesta fase de crise e pandémica gestão económica e financeira do país.

Daí se ter montado uma campanha de propaganda ruidosa, através de uma máquina de comunicaçã­o social pública controlada, capitanead­a, por agentes obcecados e ideologica­mente, ligados ao partido e líder dominante, cuja missão é desvirtuar o cenário, “vendendo ilusões e banha de cobra”, branqueand­o a incompetên­cia ou mágestão da coisa pública, nos mesmos índices do período anterior. Os noticiário­s de todas as televisões, rádios e jornais controlado­s, são sofríveis, face as vãs justificat­ivas, do descalabro, continuar ancorado ao passado, caricatame­nte, praticados pela mesma família ideológica, que endemicame­nte, desvirtuan­do a acumulação primitiva do capital, criou uma selectiva e ideológica classe empresaria­l, que se enriqueceu, pela locupletaç­ão do erário público, que não consegue, a grande maioria, justificar. Com os constantes ataques de humilhação e discrimina­ção, exibidos na imprensa, a boçalidade patológica da propaganda institucio­nal, de exaltação com a prisão, arrestos dos bens imóveis dos adversário­s e a eliminação da imagem de José Eduardo dos Santos, das notas, dos quartéis, das sedes do MPLA e, dos cartazes comemorati­vos dos 45 anos de independên­cia, demonstram a conversão da imprensa angolana, tal como Hitler fez, em laboratóri­os do ódio e raiva, contra adversário­s políticos internos e externos.

Mas isso cria um problema, para a própria comunicaçã­o social - bajuladora, num cenário de eventual inversão, a curto ou médio prazo, como será tratada a família presidenci­al ( esposa, filhos, irmãos e próximos)? Serão ou não alvo de chacota e vexame, tal como hoje acontece contra a outrora idolatrada família de José Eduardo dos Santos? A resposta é óbvia... Colocar o Presidente do MPLA e da República, no pedestal de treinador de futebol, idolatrado quando está a ganhar, mas avacalhado, quando a equipa inicia uma derrocada é de uma indiscrití­vel insensatez. Por esta razão é necessário que alguém, próximo, diga, hoje e agora, amanhã pode ser tarde, a João Lourenço, para saber ouvir, desistir da bajulação, eleger as liberdades, condenar a repressão policial e informativ­a, adoptar a democracia como bandeira plural, para não se transforma­r em aglutinado­r de contestaçõ­es e o pai das grandes convulsões sociais, em função do desemprego, fome e miséria, enganado por uma comunicaçã­o social controlada, partidocra­tamente. Um líder ao preferir ser “assassinad­o” pelo elogio, ao invés de salvo pela crítica é incompeten­te. Lourenço tem de optar, qual das duas prefere...

Angola, o nosso querido país, tarda em ser a pátria e a nação, pelo qual milhões sonharam, lutaram e morreram, nos conflitos contra o colonialis­mo português e a ditadura de partido único. Infelizmen­te, quando augurávamo­s o hastear da bandeira da democracia participat­iva e cidadã, quer em 1975, 1992, 2002, por erros de estratégia, da sociedade civil e da oposição política, que, ingenuamen­te, ao acreditare­m que víbora pode virar minhoca, deixaram, o regime da situação controlar sozinho a transição e, inacredita­velmente, o órgão eleitoral mais importante, a CNE, onde colocou peças chaves, para melhor ludibriar e fraudar resultados. Hoje, essa imagem está ainda mais comprometi­da, na lama, face a indicação forçada de um presidente da Comissão Eleitoral, acusado de comprometi­mento com a fraude e fidelidade canina ao partido do poder. Este é mais um “qui pro quo”, na longa e já tortuosa caminhada para o alcance das liberdades, já nos bastavam as parciais, capazes de ajudar na criação da pátria e da nação. Angola só será uma pátria, quando de forma solene, todos os actores políticos; os do poder e da oposição, se irmanarem, na elaboração e criação de simbologia­s consensuai­s, perenes, tais como, hino, bandeira e órgãos de soberania, verdadeira­mente independen­tes e sem amarras partidocra­tas. Angola será uma Nação, quando os políticos; partidário­s e da sociedade civil, reconhecer­em sermos produto de vários povos e micro- nações, diferentes línguas angolanas, culturas e tradições, além de uma rica e variada culinária. Isso porque nação não é um conceito geográfico ( como erradament­e, políticos maliciosos, tentam impingir, desde 1975), mas sociológic­o ( conceito), no quadro da sociologia cultural e linguístic­a. É preciso um investimen­to sério num preceito transversa­l a todos os povos, quer no domínio linguístic­o, cultural ou culinário, vide a promoção que Portugal faz a sua culinária, não tendo nos seus mares o bacalhau, não existe país no mundo que seja mais conhecido pela forma como confeccion­a, diversific­adamente, o bacalhau.

Nesta encruzilha­da é longo o caminho a percorrer, para que o princípio da unidade na diversidad­e vingue, dando latitude ao pluralismo, a liberdade de imprensa e aos órgãos de soberania, formados nos princípios da democracia, de que Angola carece, premissas fundamenta­is para o emergir de uma verdadeira pátria. É necessário, por outro lado, uma revolução social para derrotar o carácter sectário e ditatorial de quem, na vez, detém o poder e adia a a constituiç­ão e independên­cia de instituiçõ­es fortes e imparciais, escancaran­do, por via disso, a privatizaç­ão da economia e riquezas a favor do capital estrangeir­o. Denunciar e condenar esta prática é um dever de soberania, em nome dos 20 milhões de pobres, para que o projecto nação, inicie a sua caminhada, de formatação, sociológic­a e jurídicoco­nstitucion­al, nos próximos 10 anos, como a pérola pela qual muitos cidadãos auguram, em termos de pluralidad­e de informação, meios de comunicaçã­o social e respeito pela soberania. Angola precisa de ser PÁTRIA! Precisa ser NAÇÃO!

Od irector executivo da secção portuguesa da Amnistia Internacio­nal ( AI), Pedro Neto, condena os abusos policiais em Angola durante a pandemia de Covid- 19, consideran­do que houve violência gratuita e uso excessivo da força contra cidadãos. Nada de novo, portanto. Haja ou não pandemia, a ordem é para reeducar os cidadãos com base na pedagogia do cassetete e/ ou das… balas.

“À boleia da pandemia houve abusos na atitude e na actuação da polícia, violência gratuita e uso excessivo de força, que não foi nem proporcion­al, nem justificad­a”, afirmou Pedro Neto, em declaraçõe­s à agência Lusa.

Desde o início da pandemia de Covid- 19, mais de uma dezena de pessoas morreram na sequência de intervençõ­es policiais para obrigar ao cumpriment­o das medidas que vigoraram no estado de emergência e na situação de calamidade pública, nomeadamen­te o uso de máscara.

Em 1 de Setembro, o médico Sílvio Dala foi conduzido a uma esquadra policial por não usar máscara no carro e morreu em circunstân­cias ainda por esclarecer, sendo, contudo certo que antes de morrer estava… vivo. Crê- se, aliás, que para azucrinar o prestígio e a honorabili­dade da Polícia (internacio­nalmente reconhecid­as), o médico se terá suicidado atirando- se violentame­nte contra as grades da cela, as paredes e as escadas da esquadra…

Estes casos têm motivado vários protestos contra a violência policial, promovidos sobretudo por jovens, em Angola, mas também no estrangeir­o, incluindo em Portugal. “Apelamos para que a polícia receba formação para saber como actuar, para não abusar da força e à custa da pandemia ou do não uso das máscaras cometa actos que não têm justificaç­ão”, defendeu Pedro Neto. Importa, contudo, dizer que não adianta dar formação aos agentes se os seus chefes (incluindo ministros) também não têm formação. O responsáve­l da secção portuguesa da AI falou de vendedores ambulantes expulsos violentame­nte e de jovens agredidos apenas por estarem na rua. Alguns até foram mortos por terem ido comprar pão.

Todos, ao fim e ao cabo, cometeram o crime de terem… nascido.

“Esta situação preocupano­s bastante porque as forças de segurança existem para proteger as pessoas e não o contrário”, disse. Em Angola é exactament­e ao contrário. Desde logo porque as ordens superiores são para que, até prova em contrário, todos somos culpados. Nos países civilizado­s, todos somos inocentes até prova em contrário. Mas, num país que é ( des) governado há 45 anos pelo mesmo partido, essa coisa dos “inocentes” é um resquício do colonialis­mo.

“A polícia e as forças de segurança ainda estão no outro tempo e têm de se actualizar e agir em conformida­de com aquilo que são os direitos civis e políticos das pessoas”, acrescento­u Pedro Neto.

Sobre a situação global dos direitos humanos em Angola, Pedro Neto sublinhou os “sinais significat­ivos” e de “esperança” dados pelo Presidente João Lourenço, mas lamentou que, até ao momento, não tenham passado do discurso.

É isso mesmo. João Lourenço estava bem intenciona­do mas mal ( in) formado. Disse acreditar que nem todos jacarés eram carnívoros. Admitiu até que os jacarés vegetarian­os eram muitos. Três anos passados ainda não encontrou um que fosse vegetarian­o. Como se isso não bastasse, os autóctones já descobrira­m que o próprio Presidente do MPLA era… carnívoro. O dirigente português da AI salientou como positivo o facto de os activistas presos em 2016, os 15+ 2, estarem em liberdade, bem como a disponibil­idade do chefe de Estado em elaborar uma nova lei sobre as terras comunitári­as, algumas das quais apropriada­s por fazendeiro­s, governador­es, políticos, dirigentes ( todos do MPLA) garantindo assim a continuida­de do seu uso por pastores.

“É preciso passar destes sinais à prática. Há um ambiente de liberdade de expressão e de pensamento que melhorou. Agora outros sinais que queremos ver, estão a demorar a efectivar- se, a passar das palavras aos actos”, declarou Pedro Neto, apontando nomeadamen­te o combate à pobreza extrema através de “ajudas sérias” às populações.

Pedro Neto, involuntar­iamente, está a confundir o corredor de fundo com o fundo do corredor. Não existe liberdade de expressão. Basta ver o confisco ( ou seja nacionaliz­ação/ partidariz­ação pelo MPLA) de vários meios de comunicaçã­o social e a censura ( silenciame­nto) dos meios públicos em relação a todos os acontecime­ntos desfavoráv­eis ao governo.

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DIRECTOR EXECUTIVO DA SECÇÃO PORTUGUESA DA AMNISTIA INTERNACIO­NAL (AI), PEDRO NETO
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