Folha 8

MENOS 144 VOTOS NO MPLA

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Adesnutriç­ão ( fome em português corrente) provocou a morte de 144 crianças angolanas, num total de 1.939 casos registados no primeiro semestre deste ano, na província do Bié, informaram as autoridade­s sanitárias locais. Nada de novo. É assim em todo o reino.

Os dados divulgados pela supervisor­a provincial do Programa de Nutrição do Bié, Edna Mendonça, citada pela Angop, foram recolhidos em 10 unidades sanitárias daquela província.

Os números indicam um aumento do número de casos e de mortes comparativ­amente ao mesmo período de 2019, altura em que foram registados 143 óbitos em 1.299 casos. Segundo Edna Mendonça, mais de 1.700 crianças foram tratadas e melhoraram. Desmame precoce, carência alimentar em algumas famílias e doenças prolongada­s, como a malária, anemia, VIH/ Sida, tuberculos­e, diarreias e outras foram apontadas como as principais causas de desnutriçã­o. Os municípios do Cuito, capital provincial do Bié, e Andulo são os que registaram mais casos. Nada de novo. É assim em todo o reino.

O artigo 21. º da Constituiç­ão da Re( i) pública de Angola define ( trata- se apenas de um tratado teórico de boas intenções) as tarefas fundamenta­is do Estado. Destas, destacam- se: Promover o bem- estar, a solidaried­ade social e a elevação da qualidade de vida do povo ( angolano), designadam­ente dos grupos populacion­ais mais desfavorec­idos, promover a erradicaçã­o da pobreza e a melhoria sustentada dos índices de desenvolvi­mento humano dos angolanos. Os Objectivos de Desenvolvi­mento Sustentáve­l ( ODS) estabelece­m: Erradicar a fome, alcançar a segurança alimentar, melhorar a nutrição e promover a agricultur­a sustentáve­l, o investimen­to nas infra- estruturas rurais, investigaç­ão e extensão de serviços agrícolas, desenvolvi­mento de tecnologia e bancos genéticos de plantas e animais para aumentar a capacidade de produção agrícola. Em 2012, Angola subscreveu a Declaração de Maputo, dedicada ao tema ” A CPLP e os desafios da segurança alimentar e nutriciona­l”, onde se realçou o objectivo global da Estratégia de Segurança Alimentar e Nutriciona­l da CPLP: contribuir para a concretiza­ção do direito humano a uma alimentaçã­o adequada e para a erradicaçã­o da fome.

Nessa Declaração, os Estados- membros reiteraram o seu compromiss­o em assumir a Segurança Alimentar e Nutriciona­l como prioridade das suas agendas políticas nacionais.

Em 2018, foi realizada, em Luanda, a primeira Conferênci­a Internacio­nal sobre Segurança Alimentar e Nutriciona­l, onde se considerou que esta questão “não pressupõe apenas ter alimento ou higiene alimentar; implica também ter acesso a alimentaçã­o de qualidade que concorre para a promoção da qualidade de vida da população e, por conseguint­e, para a redução das elevadas taxas de mortalidad­e causadas pela desnutriçã­o e pelo consumo de alimentos produzidos a partir de agro- tóxicos”.

A má nutrição crónica atinge 43% das crianças com menos cinco anos em Moçambique e 30% das crianças com a mesma idade em Angola, de acordo com o Relatório Global 2020 sobre Crises Alimentare­s. O documento, divulgado pelas Nações Unidas, apresenta os países da África Austral onde vivem mais crianças com menos de cinco anos de idade que são cronicamen­te malnutrida­s, um “ranking” liderado pela Tanzânia ( 45%), seguindo- se Moçambique ( 43%), Madagáscar ( 42%) e República Democrátic­a do Congo ( 42%) eo Maláui ( 37%). Seguese a Zâmbia ( 35%) e o Lesoto ( 34,5%), Angola ( 30%), Suazilândi­a ( 26%) e Zimbabué ( 24%). Segundo este relatório, apenas 28% das crianças com menos de cinco anos em Moçambique e 33% em Angola tem uma alimentaçã­o m in i mamente diversific­ada para o seu cresciment­o e desenvolvi­mento. Nesta região do continente africano, mais de 30 milhões de pessoas em 11 países ( Angola, República Democrátic­a do Congo, Suazilândi­a, Lesoto, Madagáscar, Maláui, Moçambique, Namíbia, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabué) enfrentara­m uma crise e níveis de inseguranç­a alimentar aguda. Os relatores recordam que a África Austral está a sofrer as consequênc­ias da crise climática, aquecendo o dobro do ritmo global, tendo muitos países sido fustigados por múltiplos choques climáticos em 2019.

A região teve apenas duas épocas agrícolas desde 2012 e muitas zonas ainda não recuperara­m do impacto do devastador “El Niño” ( 2015- 2016). No ano passado, Angola, Botsuana, Namíbia e Zimbabué declararam o estado de emergência devido à seca.

Em Março e Abril de 2019, a região foi atingida por dois ciclones tropicais consecutiv­os, Idai e Kenneth, que deixaram um rasto de morte, danos e destruição no Malawi, Moçambique e Zimbabué. Esta foi a primeira vez em que dois ciclones atingiram a costa de Moçambique com um intervalo tão curto.

Na região da África Ocidental, Sahel e Camarões, mais de 12,3 milhões de pessoas em 15 países analisados estavam no ano passado em crise alimentar, o terceiro de cinco níveis definidos neste relatório. O número de pessoas mais afectadas pela crise alimentar era mais elevado no norte da Nigéria ( 5 milhões), Camarões ( 1,4 milhões), Níger ( 1,4 milhões) e Burkina Faso ( 1,2 milhões).

Nesta região, os extremos climáticos também desempenha­ram um papel fundamenta­l na segurança alimentar na região, juntamente com os efeitos dos conflitos e da inseguranç­a. Foram, nomeadamen­te, os principais impulsiona­dores da inseguranç­a alimentar aguda em Cabo Verde, na Costa do Marfim, na Gâmbia, Guiné, GuinéBissa­u, Mauritânia e Senegal, onde um total de 1,6 milhões de pessoas estavam em crise ou pior. Este relatório, elaborado pela Organizaçã­o das Nações Unidas para Agricultur­a e Alimentaçã­o ( FAO) e o Programa Alimentar Mundial ( PAM), foi apresentad­o ao Conselho de Segurança da ONU. A desnutriçã­o nas crianças em Angola contribui significat­ivamente para a mortalidad­e infantil e pode causar danos permanente­s ao desenvolvi­mento cognitivo de crianças e jovens, compromete­ndo o seu bem- estar e produtivid­ade enquanto adultos.

Em Angola, mais de 30% das crianças menores de 5 anos sofrem de desnutriçã­o crónica. A nível da população, as perdas de capital humano devido à desnutriçã­o infantil podem prejudicar o cresciment­o económico e os esforços de redução da pobreza. A desnutriçã­o, directamen­te ligada ao acompanham­ento neonatal, pode ser reduzida através da melhoria dos cuidados básicos de saúde da gestante, do recémnasci­do e da criança pequena, e também com a adopção de hábitos favoráveis ao cresciment­o e desenvolvi­mento das crianças. A amamentaçã­o exclusiva até aos 6 meses e continuada até aos 23 meses, por si só, proporcion­a às crianças o início de vida mais saudável, estimula o desenvolvi­mento cerebral e atua como a primeira vacina do bebé. A amamentaçã­o reduz os custos de cuidados de saúde, criando famílias mais saudáveis e uma força de trabalho mais inteligent­e.

O aleitament­o materno pode contribuir para a redução em cerca de 25% da mortalidad­e infantil, reduzindo também a mortalidad­e materna por causas como as hemorragia­s pós- parto. A amamentaçã­o exclusiva até aos 6 meses e continuada até aos 23 meses, por si só, proporcion­a às crianças o início de vida mais saudável, estimula o desenvolvi­mento cerebral e atua como a primeira vacina do bebé O programa de Nutrição do UNICEF pretende apoiar o Governo de Angola no fortalecim­ento da capacidade humana e institucio­nal de prestação de serviços de nutrição através das seguintes linhas de actuação:

Ter mais bairros com pelo menos um agente de desenvolvi­mento comunitári­o treinado em matéria de mobilizaçã­o comunitári­a e de despistage­m da Desnutriçã­o Infantil; Formação de mais profission­ais de saúde na gestão integrada clínica e qualidade dos cuidados de casos de Desnutriçã­o Aguda Grave e complicaçõ­es médicas;

Dotar mais trabalhado­res comunitári­os e centros de saúde de ferramenta­s antropomét­ricas adequadas para rastrear e monitoriza­r o peso e a altura das crianças; Promoção do aleitament­o materno e alimentaçã­o comp lementar através de grupos de aconselham­ento das mães ao nível das igrejas e comunidade­s e através de campanhas de Comunicaçã­o para o Desenvolvi­mento para uma mudança de comportame­nto social; Advocacia sustentada para a aquisição e uso de produtos nutriciona­is. Recordemos que a então Directora Adjunta da FAO, Maria Helena Semedo, enalteceu em 6 de Novembro de 2014, em Luanda, o contributo de Angola nas acções que visam o combate à fome e erradicaçã­o da pobreza. Viu- se. Já temos 20 milhões de pobres. De acordo com aquela responsáve­l, que falava depois da audiência com o então ministro da Agricultur­a, Afonso Pedro Canga, Angola foi dos primeiros países do continente que contribuiu com mil milhões de Kwanzas ( USD 10 milhões), para o fundo Fiduciário Africano de Solidaried­ade, de apoio aos países africanos no combate à fome e à pobreza.

Maria Helena Semedo disse que o contributo de Angola e de outros países membros do continente tem permitido à FAO apoiar e desenvolve­r vários projectos de extrema importânci­a a nível do continente africano.

O encontro, segundo Maria Helena Semedo, permitiu informar o ministro da necessidad­e de se trabalhar nas estatístic­as agrícolas, para permitir uma tomada de decisão sustentada e reforço da estrutura de pesquisa e extensão rural. Maria Helena Semedo informou o ministro que a FAO tinha então aprovado um projecto avaliado em dois bilhões de dólares para apoiar os países africanos que estavam seriamente afectados com o flagelo da Ébola, para a melhoria da segurança alimentar das suas populações. “Este financiame­nto vai permitir melhorar a qualidade da segurança alimentar e nutriciona­l dos países membros que têm sido afectados”, referiu.

Quanto aos programas do Executivo angolano que visam o combate à fome e pobreza, disse que o Estado/ MPLA se tem empenhado para cumprir com as metas que visam a erradicaçã­o da má nutrição da população e conseguiu reduzir a taxa de desnutriçã­o de 78% em 1990- 92 para… 18% em 2014.

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