INJUSTIÇA, ABANDONO E A DESGRAÇA DO SARGENTO PEDRO GOMES
Apandemia da Covid- 19 está a mudar a vida de todos e a mostrar a verdadeira incompetência do executivo angolano. Porém, nem tudo muda em Angola, e as práticas criminosas continuam e têm bisnetos. Ainda para mais, quando vivemos tempos estranhos de grave crise económica desencadeada pela pandemia sanitária de impacto global. A injustiça, o abandono e a desgraça continuam a reinar no nosso país, pois, o MPLA e o seu executivo conseguiram quase projectar a maioria dos cidadãos, para que as “mentiras” soem e se convertam em verdades. O processo estatal de desmobilização militar e dos desmobilizados de todas as ex- forças militares beligerantes: ELNA/ FNLA; FAPLA/ MPLA; FALA/ UNITA, continua ferido de descoordenação e incompetência, pois vem transformando, ao longo de décadas, muitos destes homens, que se batiam com galhardia, em torno das ideologias que acreditavam, ou eram obrigados, em pedintes, recalcados e revoltados, capazes do cometimento de tudo...
Hoje, damos corpo ao lamento de um homem, em representação de muitos ex- militares, espalhados por milhares de trincheiras, ao longo do país.
Este homem, ex- militar, que trilhou, desde a meninice, casernas, trincheiras, campos de batalha, chegou pela bravura, orgulha- se, à patente de sargento, mas, no limite, sente a injustiça, o abandono e a desgraça, aos 52 anos de idade, “sem conseguir deixar futuro aos meus filhos e família, quando dei alegria aos angolanos”, lamenta!
O II sargento Pedro Gomes, nasceu no Bié, no 12.01.68 e devido à peregrinação das várias campanhas militares, acabou “acantonado”, no bairro da Cerâmica, comuna do Kikolo, município de Cacuaco, província de Luanda, depois de desmobilizado. Até 2002, o seu “posto de trabalho” eram as frentes de combate, para depois da morte em combate de Jonas Savimbi ( líder da UNITA), passar a enfrentar, as conturbadas “frentes sociais” em 2003, com o grande “batalhão” da desmobilização militar, iniciado através da Ordem n. º 003/ 02 de 17 de Julho de 2002; Circular de Licenciamento à Disponibilidade n. º 475/ TSM/ 2002, de 03.01.2003; Certificado de Licenciamento à Disponibilidade n. º 152563/ 03, nos termos do art. º 5. º , Capítulo II do Regulamento de Licenciamento Militar, registado sob o n. º 0677 da Circular n. º 475/ TSM/ 2002, ordem do Chefe do EMGFAA n. º 003/ 02 de 01.07.2002. E, depois desta passagem de testemunho, o adeus à vida militar, o abandono da farda e das armas, eis o sonho de enfrentar outras batalhas, na vida civil, onde, inicialmente, com júbilo recebeu o “patenteamento” de “CIVILITO” ( vida civil) desmobilizado, “ad eternum”, pela guia de apresentação do Instituto Nacional de Segurança Social, com os elementos identitários:
Pedro Gomes II sargento NIP 77303902
para efeitos de registo e cumprimento das formalidades inerentes à regularização do processo de pensão. Aqui chegado, ufou! Pensou ter chegado uma verdadeira inversão na sua vida, com o governo a que serviu a reconhecer através de actos de reconhecimento, o papel por ele desempenhado, na defesa do país, atribuindo- lhe, uma pensão de reforma digna e regular.
Triste ilusão!
O calvário tem sido a sua sina...
Hoje, Pedro Gomes ostenta as “medalhas da mendicidade”, envergonhadas que estão as de herói de tantas batalhas e vitórias, em nome do regime do MPLA, que serviu desde os seus imberbes 16 anos de idade. Infelizmente, como recompensa, recebe uma cesta básica de NADA e uma pensão pecuniária TALVEZ, como tributo do Estado, para desonra como cidadão fiel e cumpridor. Ele não tem como sobreviver com dignidade, tão pouco dar uma vida razoável à família, depois de muitas curvas que tem vindo a receber da parte do Ministério da Defesa e do Estado Maior General das FAA.
“Eu sou um homem frustrado. Abandonado, por quem eu servi, com fidelidade, pondo em risco, muitas vezes, a própria vida”, lamenta, acrescentando: “Desde 2005, tive de começar a trabalhar como elemento de segurança de várias empresas privadas, pois o
Ministério da Defesa não garante uma pensão e justiça igual para todos os ex- militares que lutaram e deram a vida pelo país”. Pelos vistos, a falta de dignidade, abandono, discriminação e humilhação, são os únicos diplomas que o Executivo tem brindado milhares destes heróis anónimos, que se bateram com galhardia, ao longo dos anos, na defesa da soberania e dos ideais das partes beligerantes.
O cidadão, agora, “CIVILITO”, mas com licenciatura no manuseio de armas, granadas, sabres e bombas, tem nostalgia do passado, por nunca ter imaginado, que na passagem da ponte, sofreria tamanha injustiça, na pele e com a alma destroçada, por estar a viver, desgraçadamente, “a mendigar, nas ruas, porque o combate à corrupção, na Direcção das Forças Armadas, não se faz sentir. O meu processo está parado porque não tenho 300.000,00 Kwz ( trezentos mil kwanzas) para lá dentro o meu caso ser enquadrado. É como se me estivessem a fazer um favor, quando é uma obrigação dos funcionários e um direito meu, pelo contributo que dei ao país”, reivindica, amargurado.
É por causa desta situação, argumenta, que teve de abrir mão do orgulho e começar a trabalhar como segurança, na empresa de Prestação de Serviço de Segurança “Preciosa Sangue de Jesus”, com a categoria de Vigilante de 1ª.
“Infelizmente, mesmo trabalhando nunca consegui os valores que estão a pedir para resolver a situação na Caixa de Segurança Social das FAA, primeiro porque a empresa PSJ está na falência, depois quando fui para o ITEL, nos últimos 5 anos, com uma remuneração de 40.000.00 e 6000 kz, como chefe dos segurança, dando o melhor de mim, com zelo, respeito, além de possuir as qualidades e aptidões necessárias para o exercício do trabalho para os quais fui contratado, sem nenhum problema. Mas infelizmente, em 2017 a 2018 com o novo director do ITEL, André Pedro, fui “acantonado”, numa nova empresa, denominada TCHOARTE ( empresa de segurança), de Joel
Louro, que funciona, pasme- se, dentro da própria ITEL ( que tinha corpo de segurança), mas tendo- lhe sido, intempestivamente, feito uma redução salarial, para Kwz: 35.000.00/ mês. Ao questionar, justamente, direitos adquiridos e consagrados, imperou a lei do mais forte, que indiferente à justeza, foram- lhe sendo aplicados vários processos disciplinares, pela nova entidade patronal, a TCHOARTE, com quem não havia celebrado contrato de trabalho.
“Assim perdi, 5 anos de trabalho árduo, as férias, porque a direcção de André Pedro, não consegue resolver este problema, mostrando incompetência administrativa”, relata. Desde o momento em que o II sargento Pedro Gomes viu ser encaminhado, pelas FAA, a guia de apresentação ao Instituto Nacional de
Segurança, começou a conviver com a pobreza e a miséria dentro de casa. “Pois desde que me cortaram o salário nas FAA ( Forças Armadas Angolanas), o Ministério da Defesa e, agora, também, a ITEL estão a “matar- me”, algo que, a guerra não conseguiu durante tantos anos. Agora, talvez devido à pressão, desde Setembro de 2019, que ando mais acamado devido a uma trombose”.
Numa clara demonstração de insensibilidade, a direcção do ITEL ao aperceber- se estar o funcionário Pedro Gomes doente, chamou a esposa e a filha de 20 anos de idade, para lhes entregar 10.000.00 ( kz), e uma cesta básica, aconselhando de seguida a filha “a trabalhar para sustentar o pai, porque o ITEL não tem mais nada a fazer”. Naturalmente, em posse desta informação o homem que resistiu a tantas intempéries, nos campos de batalha, teve, na hora, mais uma recaída.
A direcção do ITEL, contactada pelo Folha 8, visando o contraditório fechou- se em copas, inviabilizando termos a certeza sobre o cometimento ou não de actos de tanta barbárie e clara violação a LGT ( Lei Geral do Trabalho). Igual comportamento tiveram os ministérios da Defesa, das Telecomunicações e Tecnologias de Informação ( supervisiona a ITEL), bem como a Caixa de Segurança Social das FAA, mas compulsados os documentos em nossa posse destas entidades, consegue- se ver o volume de injustiça e insensibilidade das instituições, em relação aos antigos combatentes e veteranos de guerra. Finalmente é mister que alguém de direito possa dar um basta, visando a resolução deste burilado processo, que se arrasta por mais de 14 anos, envolvendo o II sargento Pedro Gomes, um exmilitar, desmobilizado, no quadro do processo de paz.
A injustiça, o abandono e a desgraça continuam a reinar no nosso país, pois, o MPLA e o seu executivo conseguiram quase projectar a maioria dos cidadãos, para que as “mentiras” soem e se convertam em verdades.
OMinistério das Finanças (Minfin) de Angola apelou aos funcionários públicos que receberam salário a dobrar, devido a falhas informáticas, que não façam uso dos montantes transferidos indevidamente e informou que está a fazer uma auditoria aos sistemas. Provavelmente vão exonerar a “informática”, ou criar um Conselho de Auditoria aos Sistemas. Numa nota divulgada através do seu portal, o Minfin refere que as falhas provocaram
“irregularidades com duplicação no pagamento dos salários de um número significativo de funcionários públicos, referentes ao mês de Setembro”.
O ministério apelou aos funcionários para não usarem esses montantes, adianta que o Serviço de Tecnologias de Informação e Comunicação das Finanças Públicas e as instituições bancárias já iniciaram os procedimentos para o estorno das operações e o crédito dos valores em favor do Tesouro Nacional.
“Quem tenha utilizado, inadvertidamente ou não, os valores que resultaram desta falha informática será objecto dos correspondentes procedimentos administrativos e bancários, que pode passar pelo não pagamento, parcial ou total, da prestação salarial do período seguinte”, acrescenta o ministério. “Face à gravidade e às consequências de tal situação”, o Minfin decidiu também auditar os seus sistemas e apurar as correspondentes responsabilidades.
funcionários públicos. Contudo, o Ministério das Finanças avisou “que seriam apenas reactivados aqueles funcionários cujos serviços competentes cumpram com o procedimento estabelecido” e que “aqueles que não o fizerem seriam definitivamente desactivados” do Sistema Integrado de Gestão Financeira do Estado ( SIGFE), ferramenta que oferece o suporte tecnológico para o pagamento dos salários. No caso dos funcionários públicos detectados com dupla efectividade, em diferentes unidades orçamentais ( ministérios, organismos do Estado, empresas públicas e outras), estes “deviam fazer a opção por um destes vínculos”, enquanto nos casos onde a Legislação permite a colaboração, como no sector da Educação, “poder- se- á optar por esta na segunda entidade, nos termos estabelecidos legalmente”.
Em Julho de 2016 foi noticiado que o processo de recadastramento e registo biométrico dos trabalhadores do Estado permitiu, só entre Setembro de 2015 e Maio do ano seguinte, eliminar mais de 55.000 funcionários públicos “fantasma”. Segundo informação do Ministério das Finanças disponibilizada na altura, foram recadastrados naquele período 175.463 funcionários, além de Luanda, que concentra grande parte dos serviços centrais do Estado, nas províncias do Bengo, Bié, Huambo, Uíge, Huíla e Benguela.
O Ministério das Finanças acrescentou que foram detectados neste processo 55.127 “vulgo funcionários fantasmas”, entretanto “desactivados” do Sistema de Gestão Financeira do Estado. “Foram detectadas situações como aposentados, doentes, falecidos e outras ausências não justificadas. A desactivação destes funcionários atesta o esforço de contenção da despesa pública com pessoal”, lê- se no comunicado de então. Recorde- se que em Abril de 2017 o Governo aprovou, em reunião do Conselho de Ministros, um aumento “gradual” dos salários na Função Pública, com base na “diferenciação positiva”, favorável para quem recebe menos. No comunicado final da reunião do Governo não foram adiantadas as percentagens de aumento ou intervalos salariais para a sua aplicação, mas que deverão ser, no limite, até 15%, para os salários mais baixos, por se tratar da inflação prevista pelo executivo para 2017. Contudo, durante o ano de 2016, devido à crise que o país atravessava, a inflação em Angola ultrapassou, entre Janeiro e Dezembro, os 40%. A informação da reunião do Conselho de Ministros, que foi orientada pelo então Presidente José Eduardo dos Santos, refere que a aprovação destes aumentos resulta do “quadro da política do Executivo de incremento gradual do salário da Função Pública com base na diferenciação positiva, concedendo maiores incrementos às categorias mais baixas, complementada com o aumento da oferta de bens”.
O salário mínimo em Angola estava fixado desde Junho de 2014, à taxa de câmbio de Abril de 2017, nos 22.504,50 kwanzas ( 127 euros), para trabalhadores do comércio e da indústria extractiva. Mais reduzido, apesar da actualização então aprovada, era o valor mínimo mensal para os sectores dos transportes, dos serviços e das indústrias transformadoras, fixado em 18.754,00 kwanzas ( 106 euros), e para o sector da agricultura, 15.003,00 Kwanzas ( 85 euros). O Conselho de Ministros aprovou dessa forma “um conjunto de decretos presidenciais que reajustam o salário da função pública”, bem como o salário mínimo nacional garantido único, salário mínimo por grandes agrupamentos económicos e as pensões da protecção social obrigatória, “com vista a melhorar o nível de rendimento dos servidores públicos e dos trabalhadores em geral e aumentar o poder de compra dos cidadãos”, refere o mesmo comunicado, sem concretizar.
A Função Pública empregava em 2016 um total de 360.380 trabalhadores, uma quebra superior a 3% face ao ano anterior. Os números foram transmitidos a 11 de Janeiro de 2017 pelo ministro da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social, António Pitra Neto, durante a apresentação do Estudo Sobre População e Administração Pública e do resumo dos dados estatísticos da função pública referente a 2016. De acordo com o governante, em 2015 Angola contava com 372.873 funcionários e agentes públicos, número que se reduziu em 12.493 no espaço de um ano, mas sem avançar mais pormenores.
Dos trabalhadores da Função Pública, quase 49% são funcionários do Ministério da Educação, nomeadamente professores, enquanto a Saúde representa 14%.
Estou farto deste pequeno pedaço de África a que deram o nome de Angola... vou deixarvos, com a vossa falta de vontade, de comprar, de cheirar, de tocar, de saborear o prazer da leitura.
Vou deixar de escrever, porque sinto- me sufocado, neste universo de mentes miseráveis, de olhos secos sem poesia, de corpos jardados de ignorância e de mentes vazias de conhecimento. Vou deixar de escrever, porque quase ninguém lê os versos que atiramos no universo dos livros, ninguém valoriza o escritor, nesta Angola do Pai Banana, de Damas Pittbulls, onde a batucada de um “Pin tin” ou o som analfabeto de um “Dada 2 “é melhor que o sabor da leitura... eles pulam de alegria!
Basta um pequeno som, que as roupas fogem- lhes dos corpos... a geração a quem confiamos o futuro mal cheira os versos dos poetas, eles gostam é de Cuca e Tigra, qual leitura! Se nem mesmo quem governa gosta de livros! Por isso, vou deixar de escrever, por não ver executadas as políticas de produção do livro e da leitura, vou deixar de escrever porque ninguém patrocina literatura... sim, eles preferem apoiar as donzelas das passarelas, que exibem nudez nos olhos de quem pode comprar orgasmo... por isso, vou deixar de escrever... mal posso esperar, um grande destaque na TV... ele é escritor?
Pergunta o produtor daquele programa da Televisão dos bonitos. Sim, responde a estagiária de produção. Diz- lhe que só terá 5 minutos, porque nas restantes 2 horas, teremos Beef entre a Dama do Biólo e a Virgem do Kuduro, determina o produtor... como posso continuar a escrever? Neste universo de macacos, ser banana, eu? Nem pensar!
Vou deixar de escrever porque não há espaço para nós, nesta Pátria das minorias, cuja independência até custou as letras dos poetas, hoje mendigamos leitores, patrocinadores e um pouco de espaço na comunicação social... Como posso continuar a escrever!?
Que tesão terão os meus dedos, para tocar nas profundezas das folhas, como ejacular versos quando não há ternura nem carícias de leitores... Sim, vai doer, mas vou deixar... vou deixar de escrever, infelizmente... aqui não é como lá, nos países dos outros, onde o livro vale ouro, o escritor é celebridade e os versos são lidos até as últimas páginas... nos países dos outros não é só o povo que lê, até os governantes... eles aparecem nos lançamentos de livros, compram e incentivam o cidadão a fazer o mesmo... no País dos outros, a leitura é um hábito que seus governos criaram, faz tempo... lá no País dos outros, onde, até, nossos dinheiros estão a ser encontrados, o livro é caro mas é barato, todo mundo os pode ter... Enfim, vou deixar de escrever, porque ainda temos de lutar pela água, pela energia, pelo pão, que há 45 anos não nos conseguem dar... vou deixar de escrever porque custa muito ver o irmão angolano na miséria da vida mendigando um País melhor... vou deixar de escrever, porque, como disse o meu amigo Prodígio, “custa muito pegar nos problemas do povo e vender ao povo”. Mas, como você leu esse texto até aqui, então restame uma esperança, para continuar a escrever, por VOCÊ e para você, amigo leitor... mas promete- me que vai ganhar o gosto pela leitura? Combinado, então, VOU CONTINUAR A ESCREVER, FELIZMENTE.
As divergências dos nossos pais não são transferíveis. Os pecados dos nossos pais não são transmissíveis. Ninguém deve ser condecorado ou condenado por algo cometido por outra pessoa.
É preciso cicatrizar Angola com alguma urgência, não permitindo que as divergências do passado venham condicionar e determinar o presente e o futuro do nosso País.
Os jovens têm a responsabilidade e a oportunidade de mudar a trajectória do País. Os Jovens devem repensar Angola, porque têm uma visão um conceito e uma maneira diferente de ver as coisas.
Angola é neste momento um País dividido, e precisamos promover a união e a reconciliação, buscando sempre a convergência apesar de alguma divergências que são normais do ser humano.
Não podemos exigir uniformidade ou unanimidade de pensamento no ser humano.
A grandiosidade do ser humano está na sua capacidade de aceitar e respeitar a diversidade de personalidade do nosso próximo. Baseando neste conceito, apelo à Tchizé dos Santos e a Ginga Savimbi, para que venham dar o exemplo de reconciliação do nosso povo.
Os jovens têm uma mente mais aberta, e este é o tempo dos jovens demonstrarem as suas capacidades e potencialidades de rectificar e corrigir os erros dos nossos pais.
Não podemos justificar muito menos arranjar desculpas – Se os nossos pais andaram em guerra não significa que nós tenhamos de fazer o mesmo. Queremos promover uma nova dinâmica no nosso País e deve começar já. Convido publicamente um dos melhores Deputados do Parlamento angolano, Nelito Ekuikui da UNITA, para ser a ponte de ligação.
A filha de Savimbi e a filha de Eduardo dos Santos juntos, seria o princípio da cicatrização que Angola precisa.
Vou contactar directamente o Deputado Nelito Ekuikui para o efeito. É uma responsabilidade e oportunidade de Ginga Savimbi e Tchizé dos Santos demonstrarem que os jovens são pela inclusão e não pela divisão.
Aprudência aconselharia a que não escrevesse sobre este tema. O SOL teve acionistas angolanos, pelo que seja o que for que eu escreva sobre Angola é suscetível de interpretações malévolas. Acontece que nunca me deixei condicionar pelas conveniências. Nunca escrevi ou deixei de escrever sobre isto ou sobre aquilo por tática ou por cobardia.
O meu compromisso sempre foi com os leitores – e com a minha consciência.
E assim continua a ser. Ao contrário dos que receberam as notícias sobre Isabel dos Santos com grande excitação, e sem se colocarem dúvidas, eu fiquei de pé atrás.
Quem ‘ ofereceu’ ao autoproclamado Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação os 750 mil documentos?
Como entender que, no dia seguinte a saírem as primeiras notícias sobre Isabel dos Santos, o PGR angolano se tenha apressado a dizer que poderia passar um mandado de captura internacional contra a empresária?
E como interpretar a sua vinda a Portugal para pedir colaboração às autoridades portuguesas nas investigações a Isabel dos Santos – quando, há um ano, a justiça angolana tinha feito exatamente o contrário em relação a Manuel Vicente, não querendo que ele fosse investigado em Portugal e exigindo o envio do seu processo para Luanda ( como acabou por acontecer)? A junção das peças do puzzle leva a uma conclusão óbvia: o atual poder em Angola usou o Consórcio Internacional de Jornalistas para eliminar Isabel dos Santos.
O Presidente João Lourenço usou- se do Consórcio para dirigir um ataque à filha primogénita do exPresidente.
E muitos portugueses aplaudiram – não percebendo até que ponto vamos sofrer as consequências desta guerra.
O que vai suceder às empresas portuguesas onde Isabel dos Santos tem investimentos? O Eurobic vai rebentar – não tenho qualquer dúvida sobre isso; a Efacec se calhar também; a NOS e a Galp vão sofrer; e outros investimentos mais pequenos irão ao ar. E isto remete- nos para outro aspeto do caso: qualquer que seja a origem da fortuna de Isabel dos Santos, os seus investimentos em Portugal eram feitos às claras e importantes para a economia portuguesa. Ela não investiu na droga, nem na prostituição, nem no jogo ilegal – investiu em empresas ‘ normais’ e em setores coerentes com a sua atividade empresarial, no ramo das petrolíferas e da eletrónica ( recorde- se que foi presidente da Unitel).
Dizem os mais excitados que o Banco de Portugal e a CMVM não deveriam ter autorizado os investimentos.
Mas porquê e como? O BDP e a CMVM metiam- se no avião e iam a Angola investigar as atividades de Isabel dos Santos e o modo como tinha ganho o dinheiro? E fazia o mesmo em relação ao investimento chinês? E ao investimento brasileiro? Ou todos os investimentos de países ‘ duvidosos’ deveriam pura e simplesmente ser vetados?
E estaria Portugal em situação de o fazer? Num país capitalista sem capitalistas, como um dia disse Sarsfield Cabral, poderemos dar- nos a esse luxo?
Haverá noção dos milhares de milhões de euros que angolanos e chineses injetaram na economia portuguesa em quase todas as áreas – das telecomunicações ao imobiliário, passando pelos media, pelas petrolíferas, pela eletrónica, pela energia, etc.?
E de quanto isso significou de contribuição para o PIB português? E de quantos empregos criou? Os portugueses, portanto, deveriam estar preocupados e não exultantes.
Eu tenho uma vantagem sobre a generalidade dos portugueses: entrevistei João Lourenço há uns anos e pude conhecê- lo um pouco.
Ele era secretário- geral do MPLA, num tempo em que o MPLA era abertamente pró- soviético – e ele era um ortodoxo.
Nessa entrevista, recitou a cartilha partidária, mostrou- se um homem pouco aberto e reagiu com alguma agressividade às perguntas incómodas. Quem pense que ali está um democrata lutando contra os corruptos antecessores, desenganese: está ali um duro pronto a eliminar os adversários. Aliás, um homem que foi posto no poder por José Eduardo dos Santos e a primeira coisa que fez foi começar a perseguirlhe a família, metendo uns na prisão, demitindo outros, arrestando os bens a outros, mostra que não tem escrúpulos nem recua perante nada. Esta guerra agora começada vai ser terrível para Angola e para Portugal.
Angola era para Portugal, nos últimos tempos, a grande oportunidade em termos de relações externas: os portugueses iam para lá trabalhar, os angolanos vinham cá investir, nós levávamos para lá o know- how que lhes faltava, eles traziam para cá o capital que nos faltava.
E esse intercâmbio, a presença de portugueses, as relações amigáveis entre Estados, também contribuíam para a democratização de Angola.
Ora, tudo isto está hoje em causa.
Os portugueses vão deixar de ir para lá, os angolanos vão deixar de investir cá, o intercâmbio vai acabar.
Angola vai fechar- se ao exterior, entregando- se a uma guerra intestina. A relação com um país com o qual planeávamos fazer grandes coisas, pode estar irremediavelmente comprometida. Julgo que, a partir daqui, o regime angolano se vai tornar mais intolerante. As guerras de poder conduzem a isso. Uma guerra formidável, vai necessariamente endurecimento regime.
No tempo de Eduardo dos Santos ainda havia uns ares de democracia: Rafael Marques andava por lá e publicava um jornal que todos os dias atacava a família do Presidente em termos violentos. Amanhã haverá lá jornais assim? Angola pode acabar numa ditadura sem lei, igual à de outros países de África.
Caso isso aconteça, o dito Consórcio de Jornalistas terá tido um triste papel, entrando numa guerra a favor de uma das partes. Aí verá a armadilha em que ingenuamente caiu. destas, levar ao do