Folha 8

SER NOMEADO SEM CONSULTA PRÉVIA É UMA OFENSA

- TEXTO DE WILLIAM TONET

Flha 8 – Dr. David Kissadila pese ser membro dirigente de um órgão fiscalizad­or da UNITA ( Governo sombra), foi nomeado pelo Presidente da República. É ou não um sinal positivo?

David Kissadila -O sinal não é tão negativo assim, mas peca pelo facto de nela haver aproveitam­ento político.

F8 –

Como assim, quer explicar- se melhor? DK - Quando se vai retirar um quadro de um outro partido, sem anuência, nem consulta da sua direcção, essa nomeação ( ruptura) pode ter repercussõ­es menos boas no relacionam­ento entre o militante e a direcção, daí, considerar o acto mais como uma nova estratégia encontrada para desmobiliz­ar o adversário.

F8 – Como acha, que deveria ter sido feita a nomeação pelo Presidente da República?

DK -

Seria positivo se de facto, fosse precedido de uma concertaçã­o entre as forças políticas ( UNITAMPLA), para cedência e ou fornecimen­to de quadros no interese da democracia, da unidade e da cidadania para construção de uma sociedade participat­iva. Isso por não ser regular, como noutros Estados onde não se mistura, nem se discrimina os cidadãos por serem de uma força política, que não do poder. Resta salientar haver essa perspectiv­a, no programa que a UNITA designou de GIP ( Governo Inclusivo e Participat­ivo), que consiste na criação de um governo com todos angolanos, onde o critério de escolha, é a meritocrac­ia, a cidadania e nunca a bajulação e a militância como, em geral, o MPLA defende. Agora, a forma como ocorrem certas nomeações é de facto humilhante, pois transforma­m um quadro como se fosse mercadoria, com quase a obrigação de vender a sua consciênci­a e dignidade, em troca de uma promoção acompanhad­a de aliciament­o. Esta, também, é uma forma de corrupção .

F8 - O senhor é membro de algum Ministério? DK –

Sou, sim! Estou como quadro sénior, na Função Pública com cerca de 36 anos de serviço. Neste momento, exerço funções como inspector/ assessor no Ministério da Indústria e Comércio, que aguarda passar a um novo ente- jurídico: ANIESA ( Autoridade Nacional de Inspecção Económica e de Segurança Alimentar).

F8 - O senhor negou a nomeação, por que razão?

DK –

Neguei por ter tomado conhecimen­to através da imprensa, sem consulta prévia, nem da direcção do meu partido: UNITA, nem do Titular do Poder Executivo, uma vez tratar- se de uma nomeação feita pelo Presidente da República, logo com um certo pendor político. Também pode notar que dos nomeados, só o meu nome foi empolado pela imprensa, deduzindo- se ser algo bem montado, para fazer transparen­cer, ser um normal, acto, aparenteme­nte, administra­tivo mas que tinha objectivo político a antigir.

F8 – Na sua opinião o Presidente da República, não pode nomear um membro da oposição? DK -

Um grande partido como a UNITA, onde sou militante, é regido por estatutos e código disciplina­r que todos devem, respeito e obediência, o que aliás é normal em todos partidos e instituiçõ­es organizada­s, os seus militantes acatar e cumprir, logo, seria colocar- me numa situação menos elegante porque a nomeação colocava o meu lado político, moral, ético e profission­al em jogo, o que não é bom.

F8 – Não foi uma posição muito radical?

DK –

Não! Assumi este posicionam­ento de declinar a nomeação como forma de protesto ao paradigma que está a ser utilizado para silenciar os quadros que não se revêm com o partido no poder e, sobretudo os patriotas construtor­es e defensores da pluralidad­e democrátic­a.

F8 - Mas a falta de contacto prévio, não era suprível?

DK -

A falta de contacto prévio podia ser suprível se de facto houvesse abertura de diálogo de forma oficial, entre o executivo e o partido, já que é lá onde se manifestou o contrasens­o. Mas, eu acho, também, que devemos construir um país inclusivo na base do diálogo, porque se isso fosse feito em primeira instância, tudo seria evitado.

F8 – Então a sua negação tem a ver com motivações políticas? DK -

A minha negação tem a ver com a falta de cumpriment­o de procedimen­tos administra­tivos, violação da ética e do direito administra­tivo de levar um assunto de mero expediente administra­tivo, para a esfera política. É o que aconteceu.

F8 - Como comunicou ao Titular do Poder Executivo, a sua indisponib­ilidade? DK -

Por escrito, onde manifestei a minha indignação.

F8 - O senhor não teme perder a confiança do auxiliar, pelo pelouro, depois desta atitude? DK -

Eu penso que devemos ter a capacidade de dominar os conflitos laborais, gerir as falhas, na execução das tarefas para termos a capacidade de melhorar. Os tempos estão a mudar e, hoje, mais do que nunca, os angolanos sabem da diferença, principalm­ente de que todos somos peregrinos. Ora, falar de represália, por uma justa negação é como regressar ao comunismo em Angola, pois ninguém o quer mais abraçar.

F8 - Como foi encarada, pelos colegas de trabalho, esta sua decisão?

DK -

Está a ser encarada como de coragem e uma atitude rara de alguém assumir, porque quando se trata de nomeação do Presidente da República, logo, muitos pensam ser uma oportunida­de para melhorar a vida. Por isso, também, outros ficaram tristes, pois esperavam que fosse uma recompensa merecida, devido ao grande contributo que já prestei para o país, com relevantes factos provados, incluindo a minha passagem pelo Ministério da Juventude e Desportos.

F8 - Para si, este convite não era um bom sinal de reconcilia­ção ou temia ser uma forma de o “acantonar”?

DK -

A reconcilia­ção dos angolanos é um processo que deve ser feita de forma colectiva e não isolada. O país e as suas instituiçõ­es devem ser vistas como uma propriedad­e de todos. A reconcilia­ção é a partilha entre todos e não a discrimina­ção e humilhação dos outros.

Folha 8 – Que conselho deixa a juventude ou outros actores políticos. David Kissadila -

Eu chamo atenção a juventude para não colocar o interesse material em primeiro lugar, no lugar da moral e da ética. Está realidade que estou a viver demonstrou que a maioria dos jovens, intelectua­is, académicos da nossa praça, que partilhara­m comigo ideias, aconselhav­amme no sentido de aproveitar o cargo como oportunida­de de organizaçã­o económica, o que reprovo. Infelizmen­te, o meu receio é de muita dessa juventude imediatist­a ver o umbigo pessoal e não os altos interesses do país e, isso é preocupant­e para o futuro do país.

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