Folha 8

ENTÃO COMO é PRESIDENTE JOÃO LOURENÇO?

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O Presidente da República de Angola ( não nominalmen­te eleito), também Titular do Poder Executivo e Presidente do MPLA ( do qual foi vice- presidente na era de José Eduardo dos Santos), João Lourenço, avisou em Março deste ano que não é possível dispensar a justiça no combate à corrupção e que vai continuar esta luta apesar da “resistênci­a organizada” que tem encontrado.

“É evidente que a perda repentina dos direitos abismais que alguns pensam ser um direito divino inquestion­ável, tinha de criar resistênci­a organizada na tentativa de fazer refrear o ímpeto das medidas em curso”, declarou o presidente no seu discurso de abertura da III Reunião ordinária do Comité Central do MPLA, partido no Poder desde 1975 e dentro do qual João Lourenço foi um dos mais altos dignitário­s, a ponto de ter sido escolhido por José Eduardo dos Santos como seu sucessor. Sem citar nomes ( como é típico do MPLA), João Lourenço falou de pessoas que tiveram “uma ambição desmedida, mas que deviam, pelo contrário, agradecer a acção do executivo”. Compreende- se que não cite nomes. Se o fizesse teria de começar por referir o nome de… João Lourenço.

“Se deixássemo­s a festa continuar talvez viessem morrer de congestão de tanto comer”, ironizou João Lourenço, refastelad­o que está por ter sido um dos que tinha acesso privilegia­do à gamela mas que, graças ao marimbondo José Eduardo dos Santos, se transformo­u em dono dessa mesma gamela.

João Lourenço reforçou a propaganda de que foi o MPLA, partido do poder há 45 anos, que “teve coragem de encabeçar a luta contra estes fenómenos negativos e condenávei­s” ao reconhecer os danos causados pela corrupção e nepotismo à economia e aos cidadãos, mas acrescento­u que esta luta já não é só do MPLA e da oposição, e sim de toda a sociedade angolana. Isto, é claro, se a sociedade angolana não colocar em dúvida o domínio político, económico, financeiro, policial e militar do novo messias, João Lourenço.

Uma luta que, disse João Lourenço, “penalizará aqueles que dela desistirem ou pretendere­m regressar ao passado”. Passado que, recorde- se, teve como uma das principais figuras o mesmo João Lourenço, então beneficiár­io directo e, por isso, submisso ministro de José Eduardo dos Santos.

O combate à corrupção que João Lourenço diz que elegeu como bandeira do seu mandato presidenci­al tem merecido elogios da comunidade internacio­nal, mas também suscitado algumas vozes críticas que acusam o executivo de ser selectivo elegendo como alvos, os familiares e próximos do expresiden­te José Eduardo dos Santos.

No discurso de Março, João Lourenço fez questão de sublinhar que é a sociedade angolana que exige a continuaçã­o desta luta “pelos ganhos morais, de reputação e económicos” que o país beneficiar­á. É verdade. Pena foi, e é, que João Lourenço tenha demorado tanto tempo a reconhecer que viu roubar, que participou nos roubos, que beneficiou dos roubos, mesmo dizendo que – apesar disso – não é, nem foi, ladrão. João Lourenço deixou também recados às “vozes discordant­es” da forma como a luta vem sendo desenvolvi­da, nomeadamen­te pessoas e instituiçõ­es que julgam que é possível combater a corrupção com campanhas de educação e sensibiliz­ação e apelo ao patriotism­o, dispensand­o a acção da justiça. Justiça que confunde, consciente­mente, o fundo do corredor com o corredor de fundo, branqueand­o a incompetên­cia generaliza­da em que se verifica, cada vez mais, que mudaram algumas moscas mas mantendo a mesma merda ( na qual chafurdar é para muitos uma questão de vida e de identidade).

Todas essas acções são importante­s e necessária­s, mas – diz – “servem para educar e prevenir os cidadãos para não enveredar por caminhos errados”, já que sendo a corrupção um crime, para quem nela está envolvido, “não há forma de se evitar a intervençã­o dos órgãos de justiça”, salientou João Lourenço.

João Lourenço assinalou ainda que o Estado ( leia- se MPLA) foi “benevolent­e e magnânimo” ao dar um período de graça de seis meses, quase equivalent­e a uma amnistia, para quem quisesse repatriar voluntaria­mente os capitais no exterior ou os bens ilicitamen­te adquiridos no país. “A anterior situação beneficiou muita gente de dentro e de fora que obviamente não está satisfeita com o actual quadro e, por isso, luta com todas as forças para ver se ainda possível voltar a reinar no paraíso e usam todos os meios para descredibi­lizar o processo em curso”, acusou o chefe do executivo angolano, garantindo ainda que vai manter a postura e coragem política face ao fenómeno da corrupção, pois assim “o partido sairá mais forte” e em melhores condições de enfrentar os desafios que tem pela frente.

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PRESIDENTE DA REPÚBLICA DE ANGOLA, JOÃO LOURENÇO

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