A BUSCA PELA MORALIZAÇÃO EM “E Lá FORA OS CÃES” DE RAS NGUIMBA NGOLA
Nesta primeira edição do mês de Dezembro, apresentamos uma curta mas objectiva sugestão de leitura da obra “E lá fora os cães” produzida inicialmente pelo Gabinete de Revitalização e Execução da Comunicação Institucional e Marketing da Administração “GREC
Augestivamente, trazemos a obra “E lá fora os cães”. Trata- se de uma novela do escritor angolano Ras Nguimba Ngola, apresentada oficialmente a 5 de Dezembro de 2020, em formato digital, pelas Edições Handyman e apresentada pelo escritor Pedro Kamorroto, na União dos escritores angolanos ( na mesma data, depois de a mesma ter sido consumida em físico, numa primeira edição, em 2014). Taxada como a sua primeira obra literária de ficção, o escritor, na sua novela, convida- nos à leitura dos seus doze capítulos em cujas citações de vários outros autores enriquecem- nos mais ainda.
E la fora os cães é um livro sobre um livro, ou seja, um livro de memórias eróticas de um autor- personagem cujo nome não é revelado. No entanto, as suas memórias estendem- se até nós, através do seu manuscrito publicado postumamente por um escritor e editor com o nome Literato Crítico, em conformidade com o que se pode ler no posfácio. Em cada capítulo, o escritor apresenta os acontecimentos, sob forma de contos sucessivos, com personagens diferentes, e apimentados com erotismo. Só para termos uma ideia, no capítulo primeiro, encontramos o caso da Jóia que, levada pelos desejos carnais, suplica a seu querido que a possa saciar, cujo acto acaba por quebrar a santidade da jovemmulher, o que causou alguma desonra à sua família.
O autor- personagem da obra, nas palavras de Yendele ( no posfácio), é um jovem concupiscente e voluptuoso, iniciado desde cedo na milenar arte da satisfação imoderada dos prazeres carnais e um precoce caminhante dos caminhos errantes da vida mundana. Imoderação e caminhos que, na vida adulta, lhe causam um fim tragicamente marcado pela espada chamejante de um Anjo”, namorado oficial da Concubina, moça que o narrador conhece pelo Facebook, de quem esse tem as memórias das últimas aventuras sexuais da sua vida.
Ao descortinarmos a obra, deparamo-nos com uma teia de perspectivas filosófica, sociológica, psicológica e religiosa, a engenhar a geometria do próprio conteúdo. Com um conflito permanente, a voz de quem conta a história, quando lemos a obra, tem a plena consciência dos males que pratica e que, entretanto, por força do poder da carne, não se demarca deles. Para a confirmação das perspectivas que a obra acarreta, citamos um trecho da página 30, segundo o qual “o que é pecado para uns, para outros é natural, relativamente ao sexo, também. Creio que o homem, enquanto carne, é escravo das coisas carnais, materiais, tais como comida, sede, sexo, sentimentos ruins também. Mas, o sexo pode ser um benefício, algo sagrado, quando existe paixão e amor. Deixa de ser somente um desejo carnal, passa a ser consequência de um desejo da alma.” Citamos Yendele, no posfácio da presente obra, segundo quem “nas entrelinhas de cada memória narrada são realçados implícita e ( nalguns casos) explicitamente vários problemas sociais e questões inerentes à condição humana: sexualidade, adultério, incesto, homossexualidade, feminismo, consumo exagerado bebidas alcoólicas, atentado ao pudor, rituais místicos para trair parceiros, hedonismo, consequências sociais das guerras, igrejismo, hipocrisia dos puritanos, etc”. Com esses aspectos, Ras Nguimba Ngola propõe- nos uma crítica social tão pertinente, com a sua reflexão para a correcção do padrão comportamental, a busca pela moralidade entre os homens, na concepção de que se pode possuir à volta do tema “acto sexual”. Por conseguinte, e já que o cerne da questão da obra gravita em torno da revisão da nossa visão de que dispomos sobre o sexo, olhando- o com uma banalidade extrema, Ras traz- nos um grito de socorro que precisa de um abraço de cada um de nós. Cito, para esse espaço, o filósofo indiano Osho, para quem “o sexo é uma arte divina”, pois resulta de uma conexão espiritual entre duas pessoas de géneros opostos. de