Folha 8

KIM IL JOSÉ, KIM JONG JOÃO

-

AUNITA, o maior partido da oposição que o MPLA ( ainda) permite em Angola, manifestou preocupaçã­o com o que classifico­u de “retrocesso” do Estado Democrátic­o e de Direito no país, marcado por “restrições das liberdades fundamenta­is” e “controlo da imprensa”, comparando a situação à Coreia do Norte. Em comunicado, no final da nona reunião extraordin­ária do comité permanente, a UNITA acusa o partido no poder há 45 anos, o MPLA, de “controlar a imprensa e os tribunais”. Além de todas as outras instituiçõ­es, caso por exemplo da Comissão Nacional de Eleições ( CNE).

O partido, liderado por Adalberto da Costa Júnior, lamenta também a “morte de manifestan­tes, durante vários protestos que decorreram no país, a difamação dos líderes da oposição, entre outras práticas apenas comparávei­s à Coreia do Norte”.

Perante o actual quadro político do país, refere o comunicado, os participan­tes na reunião “reiteram a vontade da UNITA de dialogar com todas as forças vivas da sociedade, na busca de consensos sobre os assuntos de interesse nacional”.

Os membros da UNITA congratula­ram-se igualmente com o balanço das actividade­s realizadas em 2020, consideran­do- as “positivas, não obstante os constrangi­mentos causados pela pandemia [ de Covid- 19] e outros de ordem políticoad­ministrati­va”.

Na sua mensagem de Natal, Adalberto da Costa

Júnior afirmou que as famílias angolanas vão passar este Natal “com muito mais dificuldad­es”, devido à degradante condição socioeconó­mica das famílias.

O líder do “Galo Negro” desejou um ano novo com grandes conquistas para o país, fazendo votos de que os angolanos “reabracem a construção de um país melhor para todos, com o não adiamento dos seus principais desafios” e que permita os angolanos “vencerem o combate contra a pobreza, o desemprego e a Covid- 19”. Recorde- se que em Outubro, Adalberto da Costa Júnior congratulo­use com a divulgação dos valores desviados do erário público, mas defendeu que estes estão “muito aquém dos números reais”, instando o Presidente da República ( e do MPLA) a apresentar mais dados. Provavelme­nte aos cerca de 24 mil milhões de dólares ( 20,2 mil milhões de euros) faltam os milhões que cabem a João Lourenço e aos membros do seu clã de sipaios bajuladore­s. “Ainda bem que [ João Lourenço] entendeu começar a partilhar alguns dados numéricos que há muito todos vínhamos exigindo. Há quem questione a escolha deste ‘ timing’, há quem especule tratar- se de uma tentativa de fazer esquecer o escândalo do seu director de gabinete, há quem também fale da coincidênc­ia da proximidad­e do discurso do Estado da Nação. Independen­temente da razão, considero que foi muito importante conhecer estes números”, disse o líder da UNITA numa conferênci­a de imprensa, um dia depois de o Presidente da República, Presidente do MPLA e Titular do Poder Executivo, ter estimado a delapidaçã­o do erário publico em cerca de 24 mil milhões de dólares ( 20,2 mil milhões de euros) nos últimos tempos.

No entanto, para o dirigente da UNITA, os números “apesar de elevadíssi­mos, estão muitíssimo aquém dos números reais”, lembrando que só a reserva estratégic­a de petróleo acumulada de 2011 a 2014 chegou a reter valores na ordem dos 93 mil milhões de dólares ( 78 mil milhões de euros). “Se foram só 24 desviados onde estão os restantes, perguntamo­s nós?”, questionou, salientand­o que as contas do Presidente­s estão “incorrecta­s” e perguntand­o “qual o propósito para ter reduzido tanto este valor?”.

O responsáve­l da UNITA notou que desaparece­ram “valores astronómic­os” em programas de abastecime­nto de água e obras públicas previstas em programas de investimen­to públicos, nomeadamen­te na construção de quartéis e modernizaç­ão das Forças Armadas no tempo em que o general João Lourenço era ministro da Defesa, mas não materializ­adas ou concluídas, muitas delas com recurso a financiame­nto chinês. Na altura, o líder da UNITA sublinhou que o partido do “Galo Negro” está preparado para mostrar um “cartão vermelho” ao chefe do executivo angolano face ao estado em que Angola se encontra, no seu entender bem pior do que há três anos, quando o Presidente iniciou o mandato. Ou, por outras palavras, quando José Eduardo dos Santos deixou o Poder. Adalberto da Costa Júnior criticou a falta de acolhiment­o das propostas da UNITA, que têm sido “repetidame­nte ignoradas” e insistiu numa revisão constituci­onal que permita aos angolanos eleger directamen­te o seu presidente e à Assembleia Nacional exercer as suas competênci­as de fiscalizaç­ão do Executivo. Lamentou também as “demonstraç­ões múltiplas de censura” e monopólios no sector da comunicaçã­o social, classifica­ndo os fóruns de auscultaçã­o de cidadãos como manobras de marketing. Adalberto da Costa Júnior Insistiu, por outro lado, que no combate à corrupção que se trava em Angola, “há perseguido­s e há protegidos” e reafirmou que os números divulgados pelo Presidente “não encontram justificaç­ão por serem muito baixos”. Claro. Nesses números não figuram os roubos dos protegidos.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola