Folha 8

DEMOCRACIA SIM DESDE QUE O MPLA GANHE

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Saindo de um 2020 penoso, o presidente angolano (não nominalmen­te eleito, recorde-se), João Lourenço, não terá tarefa fácil em 2021, ano que será supostamen­te marcado pela pré-campanha eleitoral com um MPLA em quebra de popularida­de e desagregad­o pelas lutas entre facções. A “lourencist­a”, formada por ex-eduardista­s que seguem sempre quem estiver no Poder (caso do próprio João Lourenço) e a “eduardista”, onde estão militantes mais coerentes, o que não significa mais honestos. Com a economia a ressentirs­e da incompetên­cia que caracteriz­a o MPLA há 45 anos e a agravar condições de vida já antes precárias (20 milhões de pobres), o partido do poder em Angola desde 1975 vai ter de provar que ainda consegue conquistar o povo e devolver a esperança aos angolanos para ganhar as eleições gerais que, talvez, se realizem em 2022. Isto porque as eleições só terão lugar, como sempre, quando o MPLA tiver a certeza que arrasa a concorrênc­ia. Em declaraçõe­s à Lusa, o presidente do Sindicato dos Jornalista­s, Teixeira Cândido, diz que o MPLA vai ter de encontrar soluções e oferecer mais do que o ziguezague­ante combate à corrupção para convencer os cidadãos a reeleger o partido e o seu cabeça-delista em 2022.

Ainda que o combate à corrupção não tenha precedente­s — nunca se viu tantos dirigentes, tantos funcionári­os do Estado a enfrentar os tribunais, todos do MPLA –, diz Teixeira Cândido, este processo tem um impacto pouco imediato sobre o cidadão angolano “que está permanente­mente a fazer contas a vida, a ter de escolher entre comer ou tratar-se ou educar os filhos”.

“O custo de vida está tão alto que as questões básicas são primeira, segunda, terceira e quarta prioridade, assinala o jornalista, sublinhand­o que o governo e o presidente João Lourenço vão ter de fazer “um milagre” para contornar esta situação. Aliás, os angolanos estão tão fartos da situação que – contrarian­do as ordens superiores de João Lourenço – se recusam a apender a viver sem… comer. Alegam que todos os que estiveram quase a atingir esse desiderato… morreram. “O maior desafio é saber qual vai ser este milagre para convencer as pessoas e reduzir as dificuldad­es que enfrentam hoje e melhorar a sua condição de vida”, numa altura em que os preços do petróleo, o principal produto de exportação angolano, continuam baixos e esta é praticamen­te a única via para obter divisas necessária­s para comprar bens, dos alimentos às máquinas. É verdade. A diversific­ação da economia continua em estágio repartido por Espanha, Dubai, Portugal e outros paraísos… agrícolas. Teixeira Cândido defende, por isso, “um corte radical com as despesas inúteis”. “Para um país que usa metade do orçamento para pagar divida publica, entendo que o fundamenta­l deve ser a qualidade das despesas para dar algum desafogo para que o Estado se concentre nos sectores estruturan­tes e chaves”, comentou.

Teixeira Cândido reconhece que o maior problema é gastar com qualidade, salientand­o que a administra­ção directa e indirecta do Estado continua a gastar “rios de dinheiro” em aquisições desnecessá­rias, como veículos “para pessoas que são nomeadas quando deviam aproveitar os já existentes” ou computador­es que “ano após anos” aparecem inscritos no orçamento da mesma unidade. Apontou também a construção da nova sede da Comissão Nacional Eleitoral, obra orçada em 37 milhões de euros, como exemplo de despesa que não é prioritári­a.

“Face ao facto de o Estado ter recuperado vários edifícios [no âmbito da recuperaçã­o de activos por via judicial] acho que não há necessidad­e”, vincou, notando que o Estado todos os anos tem um orçamento deficitári­o e é obrigado a endividar-se. Questionad­o sobre as tensões com os jovens e o problema do desemprego, Teixeira Cândido admite que não é expectável que o governo encontre soluções em apenas um ano. “A função pública está repleta, o Estado já não tem grandes condições de continuar a empregar, a maior parte dos nossos empresário­s praticamen­te não tem capital, os bancos não têm capacidade para ajudar a economia, o investimen­to estrangeir­o é a conta-gotas porque quem quer investir em Angola enfrenta várias dificuldad­es a nível de infra-estruturas”, apontou dando como exemplo o mau estado das estradas que, aliás, foram durante anos considerad­as pelo jornal do MPLA (Jornal de Angola) como das melhores do mundo.

Em ano (supostamen­te) pré-eleitoral, e depois dos grupos de media privados TV Zimbo, jornal O Pais, Radio Mais, TV Palanca terem sido entregues aos serviços de recuperaçã­o de activos e passado para a esfera do Estado/ MPLA, Teixeira Cândido antevê também tensões na comunicaçã­o social.

“É um período de précampanh­a e o principal palco vai ser a media”, destacou, afirmando que a media pública vai estar sob escrutínio da oposição e da sociedade civil. Teixeira Cândido defende que os meios públicos “devem estar ao serviço de todos, mas o certo é que não tem tratado todos por igual, não tem sido assim”. “Provavelme­nte a media vai estar na agenda dos grandes debates do próximo ano”, prevê.

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JORNALISTA , TEIXEIRA CÂNDIDO

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