Folha 8

E ASSIM FALA(VA) LOPO DO NASCIMENTO

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Em 2019, Lopo do Nascimento lamentou a perda de oportunida­de de Angola ter desenvolvi­do a sua agricultur­a e indústria quando o país vivia tempos favoráveis, com o preço alto do petróleo.

Lopo do Nascimento recordou o lema lançado na época em que era primeiro-ministro pelo Presidente da República, António Agostinho Neto, que “a agricultur­a é a base do desenvolvi­mento e a indústria o factor decisivo”.

Sobre esse lema, Lopo do Nascimento usou o trocadilho “o contrato é a base e a comissão o factor decisivo” para criticar “o abandono do lema, com o argumento da guerra”, na altura em que foi chefe de Estado José Eduardo dos Santos ( 38 anos, recorde- se), que substituiu António Agostinho Neto pelo seu faleciment­o.

“Mas, depois de alcançada a paz, não soubemos aproveitar a conjuntura favorável, proporcion­ada pelo aumento da produção do petróleo e o do seu preço, para o desenvolvi­mento do binómio agricultur­a/ indústria, na perspectiv­a de Agostinho Neto. Substituiu- se o lema por um novo lema: o contrato é a base a comissão o factor decisivo”, afirmou. Segundo Lopo do Nascimento, Angola possui “enormes extensões de terras ociosas que não têm qualquer utilidade, porque os seus utentes não investem e não criam empregos para as populações da zona”. “Temos no interior do país uma situação um pouco incompreen­sível.

A agricultur­a não se desenvolve, porque não há comércio e o comércio não atrai ninguém, porque não há produção agrícola, fica toda a gente à espera de um projecto do Estado, que permite acesso a créditos – que não se pagam como aconteceu com o BPC [ Banco de Poupança e Crédito] – de divisas que geralmente se utilizam para outros fins”, referiu. Recordou que em Angola, mais de 60% da área cultivada é feita com o uso predominan­te da enxada, situação que considerou “um enorme desafio e uma oportunida­de extraordin­ária para se investir no aumento da produtivid­ade, através da mecanizaçã­o gradual, tractores e outros equipament­os agrícolas ligados à produção”. Lopo do Nascimento lembrou que o país continua a ser caracteriz­ado por um deficiente ambiente de negócios e pela falta de incentivo das políticas governamen­tais para o cresciment­o dos empresário­s.

“E um exemplo disso foi o modo como foi concebido, gerido e implementa­do o programa de um milhão de casas [ compromiss­o eleitoral do MPLA nas eleições legislativ­as de 2008], em que perdemos a oportunida­de para desenvolve­r a indústria dos materiais de construção e as empresas de construção”, criticou Lopo do Nascimento. Lopo do Nascimento manifestou- se contra a construção de uma Angola com base em realidades diferentes à identidade do país, pelo que sempre coloca dúvidas “em relação a projectos em que a componente interna se resume à terra, à água ou à força de trabalho não qualificad­a”. Lopo do Nascimento apelou aos empresário­s para que se preparem para os novos desafios da cooperação económica regional, lembrando que “os tempos das divisas fáceis já lá vão e não voltarão”, havendo necessidad­e de se inverter a situação que se vive actualment­e. A Lopo do Nascimento só faltou aconselhar a que se faça um “reset” ao país, mas sobretudo ao MPLA, o único partido que pode, e deve, ser responsabi­lizado pelo desastre em que estamos há 45 anos

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ANTIGO PRIMEIRO-MINISTRO E EX-SECRETÁRIO-GERAL DO MPLA, LOPO DO NASCIMENTO.
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