Folha 8

ATACAR OS MONSTROS COM ÓDIO TORNA-NOS PIOR

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Avida política é prenhe de maus exemplos, mas nela pontificam, também, os nobres, como os descritos por Nelson Mandela um homem que esteve preso, por 27 anos e, ao sair, afastoiu da sua mente a raiva, o ódio e o sentimento de vingança, na lógica de: “o passado não volta”! Eis o retrato de um episódio, contado por Mandela, que nos deve levar a não agirmos com raiva e ódio contra os nossos algozes, para não nos transforma­rmos em monstros como eles: Depois de me tornar presidente, pedi a alguns membros da minha escolta para ir passear pela cidade. Após o passeio, fomos almoçar num restaurant­e. Sentamo-nos em um dos mais centrais, e cada um de nós pediu o que lhe apetecia. Depois de um tempo de espera apareceu o garçom trazendo nossos menus. Foi logo aí que eu percebi que na mesa que estava bem na nossa frente, havia um homem sozinho, esperando por ser atendido. Quando foi servido, eu disse a um dos meus soldados: vai pedir a esse senhor que se junte a nós.

O soldado foi e transmitiu o meu convite para ele. O homem levantou-se, pegou no prato dele e sentou-se bem ao meu lado. Enquanto comia as suas mãos tremiam constantem­ente e não levantava a cabeça da sua comida. Quando terminamos, ele se despediu de mim sem apenas olhar para mim, apertei-lhe a mão e partiu. O soldado comentou:

Madiba, esse homem devia estar muito doente, já que as suas mãos não paravam de tremer enquanto comia. -Não, de jeito nenhum! A razão do seu tremor é outra. Então a minha equipa, olhou para mim estranhos e eu contei-lhes:

- Aquele homem era o guarda da prisão onde eu estive trancado, 27 anos. Muitas vezes, depois das torturas que me submetiam, eu gritava e chorava pedindo um pouco de água e ele vinha humilhava-me, ria de mim e em vez de me dar água, mijava na minha cabeça.

Ele não estava doente, o que estava era assustado e tremia talvez esperando que eu, agora que sou presidente da África do Sul, o mandasse prender e lhe fizesse o mesmo que ele me fez, torturando-o e humilhando-lhe. Mas eu não sou assim, essa conduta não faz parte do meu carácter, nem da minha ética. Mentes que procuram vingança destroem os Estados, enquanto as que procuram a reconcilia­ção constroem nações.”

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