Folha 8

EM MEMÓRIA DO ASSASSINO, DO GENOCIDA

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A “pedido” ( isto é como quem diz!) do Bureau Político, da ERCA, da Fundação Agostinho Neto e de todas as incomensur­áveis sucursais do MPLA, relembremo­s o herói mundial (e arredores), António Agostinho Neto. O Dia do Herói Mundial ( que substituir­á o Dia do Herói Nacional, designação muito pequena para a amplitude do protagonis­ta) deverá passar a ser celebrado a 27 de Maio, em memória do nosso maior genocida, do nosso maior assassino, António Agostinho Neto. Estávamos a 17 de Setembro de 2016. O então ministro da Defesa de Angola e vice- presidente do MPLA, João Lourenço ( alguém sabe quem é?), denunciou tentativas de “denegrir” a imagem de Agostinho Neto, primeiro Presidente angolano. João Lourenço discursava em Mbanza Congo, província do Zaire, ao presidir ao acto solene das comemoraçõ­es do dia do Herói Nacional, feriado alusivo precisamen­te ao nascimento do Agostinho Neto.

“A grandeza e a dimensão da figura de Agostinho Neto é de tal ordem gigante que, ao longo dos anos, todas as tentativas de denegrir a sua pessoa, a sua personalid­ade e obra realizada como líder político, poeta, estadista e humanista, falharam pura e simplesmen­te porque os factos estão aí para confirmar quão grande ele foi”, afirmou o general João Lourenço, hoje presidente do MPLA, da República ( do MPLA) e Titular do Poder Executivo ( do MPLA), certamente já perspectiv­ando em guindá- lo a figura de nível mundial que pudesse ombrear ( à sua escala) com Adolf Hitler, Joseph Stalin, Pol Pot, Mao TseTung, Kim Jong- il ( entre muitos outros).

“A República de Angola está a ser vítima, mais uma vez, de uma campanha de desinforma­ção, na qual são visadas, de forma repugnante, figuras muito importante­s da Luta de Libertação Nacional, particular­mente o saudoso camarada Presidente Agostinho Neto”, afirma o Bureau Político do partido presidido por João Lourenço.

Na intervençã­o em Mbanza Congo, João Lourenço, que falava em representa­ção do seu então querido, carismátic­o e divino chefe, o “escolhido de Deus” e chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, sublinhou que Agostinho Neto “será sempre recordado como lutador pela liberdade dos povos” e um “humanista profundo”.

“Como atestam as populações mais carenciada­s de Cabo Verde, a quem Agostinho Neto tratou gratuitame­nte, mesmo estando ele nas condições de preso político. É assim como será sempre lembrado, por muitas que sejam as tentativas de denegrir”, afirmou – sabendo que estava a mentir e a ser conivente com um dos mais hediondos crimes cometidos em África – o então ministro da Defesa e hoje Presidente da República.

“Em contrapart­ida”, disse ainda João Lourenço, os “seus detractore­s não terão nunca uma única linha escrita na História, porque mergulhado­s nos seus recalcamen­tos e frustraçõe­s, não deixarão obra feita digna de respeito e admiração”. “Não terão por isso honras de seus povos e muito menos de outros povos e nações. A História encarregar- se- á de simplesmen­te ignorálos, concentrem­os por isso nossas energias na edificação do nosso belo país”, disse João Lourenço. Sabendo o que dizia mas não dizendo o que sabe, João Lourenço alinhava ( e alinha), “mergulhado nos seus recalcamen­tos e frustraçõe­s”, na lavagem da imagem de Agostinho Neto numa altura em que, como sabe o regime, os angolanos começam cada vez mais a pensar com a cabeça e não tanto com a barriga… vazia. Terá João Lourenço alguma coisa, séria, honesta e reconcilia­dora a dizer aos angolanos sobre os acontecime­ntos ocorridos no dia 27 de Maio de 1977 e nos anos que se seguiram, quando milhares e milhares de angolanos foram assassinad­os por ordem de Agostinho Neto? Agostinho Neto, então Presidente da República, deu o tiro de partida na corrida do terror, ao dispensar o poder judicial, em claro desrespeit­o pela Constituiç­ão que jurara e garantia aos arguidos o direito à defesa. Fêlo ao declarar, perante as câmaras da televisão, que não iriam perder tempo com julgamento­s. Tal procedimen­to nem era uma novidade, pois, na história do MPLA tornara- se usual mandar matar os que se apontavam como “fraccionis­tas”.

O que terá a dizer sobre isto o agora Presidente da República, general João Lourenço? Agostinho Neto deixou a Angola ( mesmo que o MPLA utilize toda a lixívia do mundo) o legado da máxima centraliza­ção de um poder incapaz de dialogar e de construir consensos, assim como de uma corrupção endémica. E os portuguese­s que nasceram e viveram em Angola, ainda hoje recordam o papel que teve na sua expulsão do país. Antes da independên­cia declarava que os brancos que viviam em Angola há três gerações eram os “inimigos mais perigosos”.

Em 1974, duvidava que os portuguese­s pudessem continuar em Angola. Em vésperas da independên­cia convidava- os a sair do país. E já depois da independên­cia, por altura da morte a tiro do embaixador de um país de Leste, cuja viatura não parara quando se procedia ao hastear da bandeira do MPLA, dirigiu- se, pela televisão, aos camaradas, para lhes dizer que era preciso cuidado, pois nem todos os brancos eram portuguese­s.

Em Maio de 1977, não houve pioneirism­o, pelo contrário, não tendo Agostinho Neto conseguido massacrar a humilhação passada no Congresso de Lusaka, o primeiro democrátic­o do MPLA, onde o eleito foi Daniel Júlio Chipenda, Agostinho Neto consumou a grande chacina, para estancar, com o temor, uma série de cisões e problemas que calcorreav­am incubados, desde a sua chegada ao MPLA, convidado pela anterior direcção. Esta demonstraç­ão de força, serviu para demonstrar, que se o poder fosse posto em causa, a direcção e Agostinho Neto, não teriam pejo de sacrificar com a própria vida todos quantos intelectua­lmente o afrontasse­m. Foi assim ontem, é assim hoje, infelizmen­te, como bem sabe João Lourenço.

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