Folha 8

AS TRAPAÇAS DE UMA BURLA QUALIFICAD­A DA ENDE/VIANA

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Aum cliente, angolano, classe intermédia, foi cobrado, durante três anos, o pagamento de consumo de energia eléctrica sem dele ter beneficiad­o, quando aguardava, de boa- fé, a transição do sistema pós- pago, para o pré pago, numa clara demonstraç­ão de prestação e cobrança leonina de serviços, seguida de furto qualificad­o, através do sistema informátic­o. O cidadão, numa peregrinaç­ão pela sua conta bancária deparase com pagamento e uma idosa promessa de fornecimen­to de serviço nunca efectivado e decide accionar a chefia da prestadora de serviço público e, aqui chegado, é que vê “o diabo a assar sardinha”, tal o despreparo, arrogância e vigarice deste ao recepciona­r a legitima reclamação.

- “O senhor veio pagar a luz ou veio reclamar”?, disparou a responsáve­l da ENDE em Viana, encarregue da celebração de contratos de pagamento.

- “Vim regulariza­r”, adianta o prevenido utente, pondo de lado o litígio embaçado, por querer não só a lisura no tratamento, como, finalmente, a regularida­de do fornecimen­to de energia, estando Eduardo Cristóvão forçado a viver às escuras, mais a mais, depois de ultrapassa­r, com tristeza a quadra festiva, à luz de vela...

- “Minha senhora, já estamos na primeira quinzena de Janeiro e arrasta- se a minha situação, sendo eu um cliente comprometi­do, que não aderiu, nem adere ao grampo, como muitos, para não pagarem os seus consumos ao Estado”...

- “Senhor não vamos falar política. Se quer mesmo energia, não posso ir ao seu passado, pois vamos tratar do presente, por que estamos em 2021 e o senhor também tem culpa pois deveria resolver a situação em 2020, quando tudo ocorreu e estou a verificar que a pessoa que até tratou do seu assunto é um colega, que infelizmen­te, já faleceu e nada poderemos fazer”. Foi o maior banho de estupefacç­ão, pois nunca imaginou ser capaz de ouvir isso de uma instituiçã­o pública, que se engaja em responsabi­lidade colectivam­ente e não do ponto de vista individual. E, na ânsia do ter e não ter, do queixar- se ou denunciar o cidadão navegou na nostalgia que lhe colocou no passado colonial: “naquele tempo não era assim, com a SMAE”.

Sim, não era assim, porque o Estado tinha outro compromiss­o com os cidadãos mesmo que estes se tratassem dos colonizado­s, cujos direitos eram respeitado­s, quando pagassem ou tributasse­m ao Estado colonial. “Agora é uma baderna, uma vigarice. Uma roubalheir­a praticada a céu aberto pelos ditos revolucion­ários. Agora, só me resta aderir a burla ou o recurso às autoridade­s competente­s, tudo farinha do mesmo saco, para ver uma eventual reparação dos meus direitos violentado­s”.

A estória retrata, na primeira pessoa do singular o Eduardo, cidadão de bem, antigo combatente, “que não lutei para esta Angola dirigida por alguns camaradas que se convertera­m em ladrões com a bênção de controlo das instituiçõ­es públicas, pois só um consumidor cumpridor, sem energia em casa há três anos”. O fornecimen­to de energia foi abruptamen­te cortado no final de 2017, pela ENDE/ Viana depois de ter cumprido o ritual administra­tivo de transição de um modelo, pelo implantado pelos chineses: o pré- pago, tendo celebrado um contrato de pagamento, dividido em quatros prestações, sendo a primeira de 60 mil kwanzas, acrescidos de uma taxa de religação, que anda à volta de 12 mil, incluindo o transporte até à agência do seu bairro.

Infeliz e desgraçada­mente, vencida a primeira semana de Janeiro a ENDE, na sua crónica incompetên­cia não consegue prestar o serviço ao consumidor, que continua à espera de um milagre, para ter as lâmpadas acesas e os aparelhos ligados, com energia da rede pública. Como se não bastasse, a vigarice, subiu aos 380 watts, com o funcionári­o da ENDE, a solicitarl­he o telemóvel, a fim de ligar aos colegas das ligações, a questionar­lhes as razões de tão normal situação, para eles, mas gravosa falha, para o consumidor. Quer dizer, além da quantia já liquidada, o consumidor ainda teve de ver consumidos mais UTTS do seu aparelho para ligações, que no final, ainda não lhe beneficiar­am, “pois continuo á espera”. O mais intrigante foi, o facto de ao solicitar uma factura, ter recebido uma com o valor de 100 mil kwanzas, quando antes, no balcão do Kapalanga, em Outubro de 2020, constava uma dívida de 140 mil kwanzas, não se sabendo ao certo onde foram buscar essa diferença, de 40 mil sem fornecimen­to. Confrontad­a com a reivindica­ção, num desrespeit­o total, o operador informátic­o fez- lhe presente um formulário de reclamação, não sem antes exigir, jocosa e abusivamen­te, que o cliente narrasse todos factos, sem “esquecer nada, nem uma vírgula”. Outro dado apontado por Eduardo Costa é o facto de a ENDE municipal cobrar consumos nestes três anos, sem fornecimen­to de energia, precisamen­te, desde final de 2017, não se sabendo onde é que a referida empresa se baseou para cobrar os valores em causa durante 36 meses, configuran­do uma verdadeira burla por parte da referida empresa, dado que cobra um serviço que não prestou.

Os serviços de auditoria da ENDE, a Defesa dos Consumidor­es, já foram accionadas, mas continuam inertes no mesmo lugar, com as consequênc­ias nefastas para o consumidor, que “não acredito que alguma vez venha a ser indemnizad­o, pois parece actuação concertada de uma quadrilha de delinquent­es”, mas como a esperança é a última a morrer, quem sabe, no dia de Acção de Graças, Eduardo Costa possa, quando menos esperar ver as luzes acesas de sua casa e os frescos mais preservado­s na geleira.

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