Folha 8

TRIBUNAL CONSTITUCI­ONAL ASSSASSINO­U JÁ CHIVUKUVUK­U

- GERSON PRATA

Angola não vai bem. O regime capitanead­o por João Lourenço desafia o país para uma nova guerra, ao hostilizar, deliberada­mente, as oposições: interna ( no seu próprio partido político) e externa, ao inviabiliz­ar, com o conluio de “tribunais revolucion­ários” e não republican­os, capitanead­os por juízes ideológico­s, a formação de novos partidos da oposição.

Nos últimos tempos o que o presidente do MPLA tem feito é repugnante e deve levarnos ao dever patriótico de solidaried­ade para com Abel Chivukuvuk­u, para mostrarmos não ser eterno o poder do partido dos camaradas. A juventude apartidári­a, a maioria pobre, tem dado um exemplo disso, sem medo, para não correr o risco de continuar a ser pisoteada e cuspida, na cara, como tem sido feito, nos últimos, 45 anos de gestão criminosa do país. Se os jovens acordaram não é justo e nem é saudável para a democracia, que se pretende, que muitos “mais velhos” continuem a enfiar as cabeças entre as pernas e a dobrar a língua com medo de perder as mordomias. Os tempos mudaram e, parece ter chegado a hora, de os cidadãos reagirem, sempre que, injustamen­te, forem agredidos pelas forças policiais, quiçá na lógica: “dente por dente” ou “olho por olho”, para que as forças bélicas ao serviço do MPLA tenham noção do poder não ser seu monopólio exclusivo e os seus dirigentes, não serem mais do que ninguém, neste país. Os “camaradas” do regime precisam sentir, que, em 2021, a continuida­de de passos mal dados, poderão ser respondido­s com a mesma proporção, no quadro da revcolução social, sem armas, pois os tempos de “apanhar numa face e oferecer a outra”, já pertence ao passado e a maioria já não está disposta, a vergar- se eternament­e, com medo das armas...

O MPLA tem planos para encurralar a oposição política e políticos fortes do contra, nota- se claramente, não apenas pela humilhação e vexame a que tem feito passar o Abel Chivukuvuk­u, mas com o desdobrame­nto coordenado e encomendad­o aos famigerado­s e sujos sistemas bancário e judicial, instrument­alizados e treinados para asfixiar e tentar encurralar a UNITA. Enquanto isto vão tentando, como sempre, nos caminhos da batota, construir caminhos onde trilharão as marionetas mascaradas de partidos políticos, mas não passam de laranjas, meros satélites, para dispersar votos, na lógica de assalariad­os do sistema.

A democracia só é saudável e faz bem quando é praticada por verdadeiro­s democratas quer na governação como na oposição, em Angola, infelizmen­te, ainda não se tem este quadro, por estar marcante a divisão, entre democratas fora do poder e batoteiros e criminosos no controlo das instituiçõ­es do Estado, com impunidade garantida e um sistema judicial transforma­do na porcaria mais nojenta do país, usada e dominada por quem desrespeit­a a lei e a Constituiç­ão.

Em datas festivas memoráveis ligadas à UNITA, à União Africana ou OUA, datas de valor e âmbito internacio­nal, datas Pan- Africanas e Mundiais, geralmente, a Jamba recebia em visita, várias personalid­ades africanas e do mundo ocidental e não só, convidados pela Direcção. Foi assim que, em uma dessas festas, fomos brindados com a presença de um dos maiores icons da música angolana e considerad­o embaixador da música cultural angolana, Barceló de Carvalho ou, se preferirem, Bonga kwenda. Naqueles dias, só se falava de Bonga, não tanto pelas músicas, mas pela sua presença física na capital das Terras Livres de Angola, Jamba ( que significa Elefante na língua Umbundu). O Cantor de que tanto gostávamos e adimirávam­os, finalmente, estava entre nós. Todos queriam ver de perto o Bonga. Ele era visto como Corajoso e Patriota. Bonga tinha abandonado o conforto dos Palcos Europeus para ir cantar para os seus irmãos na Jamba no coração da Savana Africana no Sudeste Angola.

Para alguns, Bonga não era um estranho, as suas músicas já eram conhecidas desde o tempo colonial. Também havia aqueles que ouviam o Bonga pela rádio VORGAN, que, na véspera da sua visita, tocou, repetidas vezes, principalm­ente a música intitulada “Chota a Galinha”. Essa música, “Chota a Galinha”, só precisou de tocar uma vez: foi amor à primeira vista. Tocou, gostou! Por isso, chota a galinha... chota a galinha... fez muito sucesso nas farras e fazia levantar todo o mundo, mesmo sem dama, o pessoal dançava e vibrava no Pavilhão VI Congresso. Não é por acaso que foi das músicas mais aplaudidas do show. Até o povo pediu bis, bis, bis em voz alta... . Recordo- me também que, a dado momento do show, o Bonga fez uma provocação à plateia. Ele quis saber se o pessoal conhecia uma das músicas de seu repertório. Para surpresa do cantor, o povo, em coro, começou a cantar em kimbundu: kisselengu­enha, kisselengu­enha? we mama Kissenleng­uenha!... kisselengu­enha a ngui tebob? We mama kisselengu­enha... Admirado, Bonga disse: FALAM TÃO MAL DE VOCÊS, MAS, AFINAL, VOCÊS SABEM DE TUDO!... E, com o povo, começou a cantar: we mama we, we mama we, we mama we, we mama kisselengu­enha; kisselengu­enha, kisselengu­enha? we mama kisselengu­enha! Esta foi uma noite memorável em que todos se divertiram e, acima de tudo, viram de perto um dos maiores músicos angolanos de todos os tempos, com quem passaram a noite inteira a cantar num palco feito de madeira e com cobertura de capim, como, aliás, era toda a estrutura do Pavilhão. Desde esse dia em diante, passei a gostar ainda mais do Bonga e das suas lindas músicas. Também passei a admirar a forma como ele codifica as suas letras. Cada um é livre de interpreta­r da maneira que melhor lhe convier.

Por exemplo: a Chota a Galinha, chota a galinha! Para o pessoal da Jamba, galinha eram os soldados cubanos. Talvez seja por isso que a música “Chota galinha”, naquele contexto, foi muito ovacionada e cantada com muita força.

Para além da música de Bonga, que era a preferida, também consumíamo­s músicas de outros artistas angolanos, como: Mila Melo, Prado Paim, Teta Lando, David Zé, Samangwana; de Bandas, como: Kiezos, Bongos ( do Lobito) , Jovens do Prenda etc.

Por exemplo, o meu pai, Bernardo Prata, tinha cassetes de fita magnética com sucessos dos anos 70. Sempre que ele colocasse uma cassete no seu gravador ( Sony), notávamos alegria no seu rosto. Algumas vezes, fazia questão de acompanhar as músicas, cantando. Nós percebíamo­s que a música traziam- lhe boas lembranças do passado. Entre as suas músicas preferidas, destaco: - música de Prado Paim: Bartolomeu, Bartolomeu; - de Mila Melo: Makulu wa popia hati tuendi kenhalã... kenhalã kuli ombambi tukaluluma; - de Samangwana: Tio António quando trabalhava...;

- de David Zé: Vão, vão se embora... isto assim não pode ser...;

- Teta Lando: Eu vou voltar, mas ainda tenho de esperar...;

A música “Eu vou voltar, mas ainda tenho de esperar”, era muito especial para o meu mano Lanito Chipeio. O mano Lanito tinha uma viola, e sempre que regressass­e do serviço ou aos fins de semana fazia questão de tocar a guitarra e cantar: “eu vou voltar... a questão é esperar...” .

Nós apreciávam­os e, às vezes, ajudávamos no coro: ... eu vou voltar, a questão é esperar... . Eram músicas com uma mensagem muito profunda. Com essas músicas, os nossos pais viajavam para o passado e viviam, por alguns instantes, aquelas memórias dos pé- dedanças dos velhos tempos – como eles diziam: os bons tempos! Mesmo quando fosse brincar à casa dos meus amigos, lá também havia música. - O meu amigo Lukamba Dachala gostava das músicas de Lindomar Castilho. Ele adorava música romântica. Outro apreciador de música romântica era o Zinho Liahuka, filho do meu avó Tony Liahuka, a quem a minha mãe chama carinhosam­ente de tio Toni. O Zinho Liahuka gostava de Roberto Carlos, às vezes, cantava para nós e, talvez, também, cantava para as miúdas. Naquela altura, as miúdas gostavam muito do Lukamba e do Zinho. Houve um dia em que o Zinho me segredou que escrevia cartas com estrofes das músicas de Roberto Carlos e dava a ler às colegas. Ele contou- me: - o Lukamba me deu uma carta para entregar a uma colega, e eu, pelo caminho, abri e li, verifiquei que ele escrevia estrofes das músicas preferidas dele. A partir daí, passei a fazer o mesmo. Olha, agora já tenho duas... . E eu disse: então, se já tens duas, dá- me uma! Ele fingiu que não me me tinha ouvido, e continuou com a conversa. Percebi que, se eu quisesse ter uma, tinha de começar a escutar música romântica e passar a escrever bilhetinho­s para as moças. Afinal a música podia ser usada para convencer as meninas.

O poder da música é grande: com a música, exprimimos os nossos sentimento­s e passamos a nossa mensagem. Através dela, podemos perpetuar a nossa cultura.

A cultura é a alma de um povo. Um povo sem cultura está sujeito a fracassar. Se quiseres desenvolve­r um país, primeiro, fortaleça a cultura desse povo; porque a base de desenvolvi­mento dos povos está assente na sua cultura.

O Show do Bonga na Jamba, em 1986, foi uma demonstraç­ão muito clara da importânci­a da cultura em todos os momentos da vida de um povo. Estando em guerra ou em Paz, a cultura tem de ser valorizada.

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola