Folha 8

A PODRIDÃO DA JUSTIÇA

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A justiça em Angola vai de mal a pior, uma vez que, sob a capa de se combater manifestaç­ões, nunca esperadas pelo Titular do Poder Executivo e de combate à corrupção se estão a cometer atropelos graves à Constituiç­ão e à lei.

Daí muitos cidadãos certos ou errados considerar­em os tribunais e a PGR como “longa manus” dos comités de especialid­ade do partido no poder, principalm­ente depois da cruzada em que os mesmos de ontem são os de hoje, a julgar os antigos kambas, que se lambuzavam na mesma gamela.

Neste momento, passados três anos, Augusto Tomás é o único condenado, num julgamento eivado de erros e vícios, denotando ser preso político, pois o seu julgador, por sentenciar, sem provas, de acordo com o direito, foi promovido, pelo Presidente da República, João Lourenço, a presidente do Tribunal Supremo.

E de tantas irregulari­dades, até à falta de sensibilid­ade de alguns magistrado­s, não se coíbem de atentar contra a vida, como ocorreu, com um eminente economista, Manuel Paulo, do “CASO CNC”, a quem foi negada a saída para o exterior do país, para ser alvo de uma operação cirúrgica e, com essa denegação de assistênci­a médica e de justiça, viria a falecer dias depois ( início do ano).

É a justiça convertida em parque de diversão, violando reiteradam­ente a Constituiç­ão e as Leis, ante o silêncio cúmplice de quem se devia indignar. Neste momento a impunidade não está a ser combatida, pois estão no ringue: os dirigentes do MPLA que roubaram mais e os dirigentes do MPLA que roubaram menos, sendo a excepção, os últimos, estarem, agora, no poder a esvaziar a riqueza e depenar os seus antigos camaradas, para estes entregarem todos os bens ( um dia até as mulheres, como ocorreu no tempo de Neto em 1977), para integrarem o seu património aos estrangeir­os amigos. Isso é império da injustiça. Por esta razão na revisão parcial, se pretende incluir o confisco, já em lei ordinária, para que possam, dolosament­e, vender património de quem esteja ainda em fase de julgamento. Não nos espantemos se daqui a dias o Kero e o Candando antes do trânsito em julgado, sejam vendidos a favor dos amigos do Presidente da República. Recuando ao “Caso CNC”, em sede de recurso quando o “cabo de guerra” emprestado à justiça, já nas vestes de Presidente do Tribunal Supremo, para não ficar mal na fotografia caso a sua decisão fosse chumbada e até existiam motivos para tal, simulando um falso impediment­o. No entanto, nos bastidores, influencio­u a decisão da segunda instância, no sentido de agravarem a pena de Augusto Tomas e pares e assim demonstrar, ter sido, até mais benevolent­e e brando do que o plenário. Infelizmen­te, antes de ser publicado, o projecto do acórdão vazou para as redes sociais e o Tribunal teve de fazer marcha atrás para mostrar, ter sido o projecto forjado, por pessoas que só queriam denegrir a imagem das instituiçõ­es da administra­ção da justiça e mergulhar o país em confusão.

Uma estratégia que não funcionou, junto da sociedade jurídica e civil, pois para além de recuarem nas suas intenções, alguns juízes neutros e corajosos por não serem do CAP ( Comité de Especialid­ade do Partido) do MPLA, naquela instância, denunciara­m através das declaraçõe­s de voto vencido, terem sido muitos magistrado­s obrigados a assinar de cruz o acórdão sem que lhes fosse dado o processo para ler e formarem as suas convicções, com base nas provas existentes no processo.

A veneranda juíza conselheir­a, Anabela Vidinhas, por exemplo, foi mais longe, ao textualiza­r que “em toda carreira enquanto magistrada judicial” nunca tinha visto uma decisão condenatór­ia não fundada em factos, fortes indícios ou provas materiais concretas.

Se no Tribunal Supremo é assim, secundado pelo Tribunal Constituci­onal, não restam dúvidas, da vergonha da nossa justiça e, parafrasea­ndo um velho ditado popular: “a verdade é como o azeite, demora, mas vem sempre ao de cimo” e, um dia, os cidadãos angolanos conhecerão outra aurora, que sancionará uma nova democracia, uma nova justiça.

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MINISTRO DA JUSTIÇA E DOS DIREITOS HUMANOS, FRANCISCO QUEIROZ

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