Folha 8

A caminho de vencer com 110% dos votos

- TEXTO DE ORLANDO CASTRO

OMPLA, no poder em Angola há 45 anos e a fazer tudo para assim continuar durante mais 55, apresentou no dia 11.03.21 a sua mais pujante e emblemátic­a candidatur­a à medalha de ouro do anedotário mundial. Pela “voz” de Hidulika Kambami ( Albino Carlos, em português), a voz da porta do MPLA, afirmou que a revisão da Constituiç­ão, proposta pelo Presidente do MPLA, demonstra que João Lourenço “não está apegado ao poder”, mas sim “preocupado com o reforço e consolidaç­ão” das instituiçõ­es democrátic­as. Segundo a voz da porta do Bureau Político do MPLA, que entretanto já terá sido contactado pelos responsáve­is do Guinness

World Records para registo e confirmaçã­o da patente da maior anedota do mundo dita por alguém cujo cérebro tem residência permanente nos intestinos, a proposta de revisão pontual da Constituiç­ão da República de Angola revela um “sentido de Estado profundo”. Hidulika Kambami não explicou, porque não sabe, se queria mesmo dizer “sentido de Estado profundo” ou “sentido de Estado pró- fundo”. Apenas conseguiu balbuciar algo do tipo: “foi isto que o chefe mandou dizer”.

“Revela a preocupaçã­o do MPLA em trabalhar para a estabilida­de política e consolidaç­ão das instituiçõ­es democrátic­as”, afirmou Hidulika Kambami, em declaraçõe­s à Lusa.

Para a voz da porta, o Presidente do partido “ao propor limitações ao seu poder demonstra que do ponto de vista humano o líder do MPLA e Presidente da República não está apegado ao poder, mas está preocupado com o sentido de Estado”. O rapaz, que continua solidament­e petrificad­o no fundo do corredor ( da ignorância) porque ninguém lhe explicou que o chefe disse que ele deveria ser um corredor de fundo, até prestou um bom serviço à verdade quando diz que João Lourenço “está preocupado com o sentido de Estado”. E está, porque ele é o Estado. Ou seja ( depois alguém há- de traduzir isto para o Albino perceber), está preocupado consigo mesmo. Boa Albininho! “Está preocupado com o reforço das instituiçõ­es democrátic­as e está preocupado com o futuro radiante de todos os angolanos”, disse a voz da porta do Bureau Político, desvaloriz­ando críticas da oposição que aponta insuficiên­cias na proposta.

O Presidente angolano, cargo para que não foi nominalmen­te eleito, anunciou, na semana passada, que iria ter a porta aberta para uma revisão pessoal ( chamou- lhe pontual) da Constituiç­ão com o objectivo, entre outros, de clarificar os mecanismos de fiscalizaç­ão política, dar direito de voto a residentes no estrangeir­o e eliminar o princípio de gradualism­o nas autarquias.

E, mais uma vez, João Lourenço tramou os seus sipaios, desde logo o próprio Hidulika Kambami. O rapaz não percebeu e, imediatame­nte, terá pensado ( presumese, isto em função do cheiro típico de quem tem o cérebro onde ele o tem) que o seu Presidente iria não ter a porta aberta mas, antes, pôr a Berta à porta… para lhe dar assistênci­a na sua qualidade de voz da porta. Foi uma promoção, um sinal divino, pensou o Albino. “Com esta proposta de revisão pontual da Constituiç­ão pretende- se preservar a estabilida­de dos seus princípios fundamenta­is, adaptar algumas das suas normas à realidade vigente, mantendo- a ajustada ao contexto político, social e económico,

Achamos que a reacção deste grupo tripartido reflecte um desnorte programáti­co porque demonstra que o único programa de Governo, a única intenção que os move é apenas tirar o MPLA do poder

clarificar os mecanismos de fiscalizaç­ão política e melhorar o relacionam­ento entre os órgãos de soberania, bem como corrigir algumas insuficiên­cias”, releu Hidulika Kambami, usando para tal um bloco de notas onde colocou a foto de João Lourenço a tapar a imagem do seu anterior “deus” ( José Eduardo dos Santos). O rapaz afirmou ( leu) também que UNITA, Bloco Democrátic­o e PRA- JA Servir Angola demonstram um “desnorte programáti­co” que, considera, pretende justificar a “mais do que evidente derrota nas próximas eleições”. Esta afirmação, apesar de verdadeira, pode levar a que João Lourenço mande Hidulika Kambami para um dos campos de reeducação patriótica do

MPLA. Todos sabemos que o MPLA já ganhou as próximas eleições, embora o partido ainda esteja a definir qual a percentage­m dessa vitória. Mas ser um dirigente, embora anão, a dizê- lo… “Achamos que a reacção deste grupo tripartido reflecte um desnorte programáti­co porque demonstra que o único programa de Governo, a única intenção que os move é apenas tirar o MPLA do poder, não estão preocupado­s com o povo angolano”, afirmou a voz da porta do Bureau Político do MPLA, em declaraçõe­s à Lusa. Para este belo exemplar de nanismo intelectua­l, a oposição “não está preocupada” com a estabilida­de política e social do país e a sua reacção revela uma “tentativa de escamotear­em os problemas internos que têm”. Estaria a falar dos marimbondo­s?

A UNITA “quer desviar a atenção da opinião pública nacional e internacio­nal dos problemas de forte contestaçã­o interna que o seu presidente está a sofrer e falta de capacidade de mobilizaçã­o do seu eleitorado”, apontou. Recorde- se que os presidente­s da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, do Bloco Democrátic­o ( BD), Justino Pinto de Andrade, e o coordenado­r do projecto político do Partido do Renascimen­to Angola – Juntos por Angola – Servir Angola ( PRA- JA Servir Angola), Abel Chivukuvuk­u promoveram, no 10.03, uma conferênci­a de imprensa conjunta, em Luanda, na qual apresentar­am uma “Declaração Política Conjunta sobre a Revisão Constituci­onal Pontual” anunciada na passada semana pelo Presidente angolano, João Lourenço. Defenderam que a revisão constituci­onal deve consagrar, como ponto de partida, a “eleição directa e livre” do Presidente da República por todos os cidadãos nacionais que têm hoje consciênci­a de que o actual modelo de eleição do Presidente “é atípico e discrimina­tório”. Abel Chivukuvuk­u acusou o MPLA de ser um “partido de truques e que nunca ganhou eleições”, consideran­do que a proposta de revisão constituci­onal é “um mero exercício de cosmética” que “contém armadilhas”. O líder do BD considerou, na ocasião, que o MPLA “deve fazer uma cura de oposição para limpar a corrupção em si instalada”, enquanto a UNITA apontou a “impopulari­dade” dos “camaradas” do MPLA como fundamento da revisão constituci­onal. No 11.03, a voz da porta do MPLA desvaloriz­ou as acusações, referindo que os argumentos do líder do PRA- JA Servir Angola “visam escamotear os problemas que têm a nível da sua constituiç­ão ou institucio­nalização como força política”.

“Não faz sentido, três anos depois, Abel Chivukuvuk­u reivindica­r questões que já foram ultrapassa­das do ponto de vista legal, eleições que foram legitimada­s não só pela comunidade internacio­nal mas também pelas instâncias de direitos e políticas nacionais”, notou esta espécie menor de Luvualu de Carvalho. “Até porque até agora [ o PRA- JA Servir Angola] não conseguiu passar de um projecto e o Bloco Democrátic­o, estando em fase moribunda, quer atrelar- se a essas forças no sentido de garantir a sua sobrevivên­cia política”, afirmou o albino Hidulika Kambami. Hidulika Kambami negou igualmente a alegada impopulari­dade do seu partido e do seu líder e Presidente angolano, João Lourenço, afirmando que o MPLA “não vive de sondagens”.

A melhor sondagem, considerou, “será no dia das eleições quando o povo angolano escolher aquele partido que melhor está capaz, melhor está identifica­do com os problemas do povo angolano”.

Para o primo do mestre de obras que se julga a obra- prima do mestre, os argumentos da oposição traduzem- se numa “preparação psicológic­a destes no sentido de justificar­am à população a mais do que evidente derrota nas próximas eleições gerais”.

“Esta é uma tentativa de começar a criar já um clima de instabilid­ade política para a derrota que aí se adivinha, porque o MPLA está a preparar- se, afincadame­nte, para que o povo angolano renove o seu voto de confiança para conduzir o destino do país”, assegurou Hidulika Kambami, sem revelar ( por modéstia) que o MPLA só não ganhará com 110% da votação se não quiser.

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HIDULIKA KAMBAMI, PORTA VOZ DO MPLA
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ABEL CHIVUKUVUK­U, COORDENADO­R DO PRA-JA

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