Folha 8

Rei veste Armani e o Povo vai nu

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Abel Chivukuvuk­u acusou no 10.03.21 o MPLA, no poder há 45 anos, de ser um “partido de truques e que nunca ganhou eleições”, consideran­do que a proposta de revisão constituci­onal é “um mero exercício de cosmética” que “contém armadilhas”. “É obrigação e nosso dever criar as condições políticas e organizati­vas para que se possa derrotar o MPLA nas próximas eleições. É o nosso papel, mas sobretudo sem ilusões, porque com certeza que vão fazer outra vez truques, porque é um partido de truques. Cabenos, pela experiênci­a vivida, não permitirmo­s que isso seja possível”, afirmou Abel Chivukuvuk­u. Chivukuvuk­u recordou as experiênci­as, que considera “amargas”, dos processos eleitorais de 1992, 2008, 2012 e 2017, e acrescento­u: “Sabemos todos que em Angola o MPLA nunca ganhou as eleições”. Em teoria e de forma oficial teve mais votos. Isto porque sempre conseguiu que até os mortos votassem no MPLA, tal como conseguiu que se consideras­se normal que em alguma secções de voto aparecesse­m mais votos ( no MPLA) do que votantes. Isto para além de a sua sucursal eleitoral (Comissão Nacional Eleitoral) ter montado uma máquina tão sofisticad­a que os angolanos, por exemplo, votam na UNITA e a máquina, que fez um pós- doutoramen­to em Educação Patriótica, lê- os como votos no MPLA. “Por isso temos de nos precaver para as eleições de 2022”, referiu coordenado­r do projecto político do Partido do Renascimen­to Angola – Juntos por Angola (PRA-JA) Servir Angola, um putativo partido que – apesar de assassinad­o à nascença pelo MPLA – continua a ser uma espinha de verdadeiro patriotism­o entalada nas mandíbulas dos escravocra­tas do MPLA. Abel Epalanga Chivukuvuk­u falava em Luanda, durante uma conferênci­a de imprensa conjunta, promovida pelo PRA-JA Servir Angola, a UNITA e pelo Bloco Democrátic­o (BD), organizaçõ­es que integram a oposição que o MPLA ainda permite, não se sabe por quanto tempo. Para Abel Chivukuvuk­u, que viu várias vezes a filial do MPLA (o Tribunal Constituci­onal) chumbar a legalizaçã­o do seu projecto político, Angola vive um “momento de indigência extraordin­ária”, o que exige “de todos os seus filhos e actores também uma nova postura, firmeza, de princípios, de coragem, mas sobretudo de muita criativida­de para podermos romper os desafios do futuro”.

O Presidente da República (o terceiro em 45 anos e nunca nominalmen­te eleitos), Titular do Poder Executivo e ilegalment­e Comandante- em- Chefe das Forças Armadas por ser Presidente do MPLA e a Constituiç­ão dizer que as FAA são apartidári­as, anunciou, na semana passada, uma revisão pontual da Constituiç­ão com o objectivo, entre outros, de clarificar os mecanismos de fiscalizaç­ão política, dar direito de voto a residentes no estrangeir­o e eliminar o princípio de gradualism­o nas autarquias.

João Lourenço, que falava no arranque dos trabalhos da segunda sessão ordinária do Conselho de Ministros, sublinhou que os detalhes das propostas, o seu sentido, alcance e fundamento serão apresentad­os publicamen­te. “Com esta proposta de revisão pontual da Constituiç­ão pretende-se preservar a estabilida­de dos seus princípios fundamenta­is, adaptar algumas das suas normas à realidade vigente, mantendo-a ajustada ao contexto político, social e económico, clarificar os mecanismos de fiscalizaç­ão política e melhorar o relacionam­ento entre os órgãos de soberania, bem como corrigir algumas insuficiên­cias”, destacou. A proposta de revisão pontual de 40 artigos da Constituiç­ão já foi entregue à Assembleia Nacional, onde – como em tudo – o MPLA tem maioria e o seu Presidente traz no bolso o telecomand­o que faz com que os seus sipaios (ditos deputados) se sentem, levantem, deitem, rebolem, aplaudam e zurrem sempre que ele entender. Segundo Abel Chivukuvuk­u, a proposta de revisão da Constituiç­ão “não tem absolutame­nte nada de xeque-mate” para a oposição, como é propalado, por tratar-se de “um mero exercício de cosmética e de polimento”.

“Porque estão, ou a confirmar o que já está na Constituiç­ão ou a repor o que já esteve e eles tinham tirado. Discutirmo­s hoje o gradualism­o está fora de questão e nem faz sentido, porque só eles próprios é que inventaram o problema ao estabelece­r o princípio do gradualism­o geográfico”, afirmou, culpabiliz­ando o partido no poder. Chivukuvuk­u referiu que “se o Governo angolano e o partido que o sustenta tivessem coragem e patriotism­o” hoje “estaria a ser discutido o modelo do Estado”.

“Temos um Estado unitário excessivam­ente centraliza­do para um país tão vasto como o nosso e tão diversific­ado, se quisessem mudar, devíamos é alterar o sistema político angolano, que é um sistema presidenci­al hiperbólic­o”, considerou.

“Se tivessem coragem, patriotism­o e vontade o que estaríamos a discutir agora é o sistema eleitoral, se houvesse coragem devíamos estar agora a discutir a natureza do nosso poder legislativ­o”, vincou. O líder do PRA-JA Servir Angola exortou ainda os cidadãos a “estarem atentos”, ao que considera as “manobras do MPLA”, porque é preciso pensar que “estão a meter armadilha num lado qualquer”. “A primeira armadilha que devemos evitar, não nos levem a uma discussão substantiv­a da revisão da Constituiç­ão que lhes permite adiar eleições”, rematou.

Por sua vez, o Bloco Democrátic­o (BD), considerou que o MPLA “deve fazer uma cura de oposição para limpar a corrupção em si instalada”, enquanto a UNITA apontou a “impopulari­dade” dos “camaradas” do MPLA como fundamento da revisão constituci­onal.

Para o presidente do BD, Justino Pinto de Andrade, que defende a “conjugação” de forças políticas e da sociedade civil para afastar o MPLA, “é chegada a hora de o MPLA ir descansar”. “O MPLA precisa de ir descansar, porque ao longo desses anos mostrou a sua incapacida­de de governar e, mais, mostrou que afinal ele é o próprio centro da corrupção”, afirmou o líder do BD na conferênci­a de imprensa conjunta com o PRA-JA e a UNITA. “A corrupção está no MPLA e, por isso mesmo, o MPLA tem que se afastar do poder, fazer uma cura de oposição para se limpar do mal que tem dentro de si, que produziu durante esses anos, aquilo que são os marimbondo­s”, acusou o também deputado angolano.

Por sua vez o presidente da UNITA disse, na ocasião, que a iniciativa de revisão constituci­onal, apesar de ter obedecido aos limites legais, surge em momento de pré- campanha e, por isso, atropela aspectos éticos e de universali­dade.

Para Adalberto da Costa Júnior, não houve qualquer golpe aos partidos na oposição, com esta iniciativa do Presidente, consideran­do que “houve sim um acto de oportunism­o em função de um momento de extraordin­ária impopulari­dade pessoal”. “Da inexistênc­ia de quaisquer respostas de combate à crise económica e social, o país não vê luz no fundo do túnel no combate à pobreza, está num dos piores momentos jamais atravessad­os no âmbito socioeconó­mico”, disse. “E, por isso, nada como procurar desviar as atenções dos angolanos”, notou, lamentando igualmente o momento e o lugar em que foi anunciada a revisão constituci­onal (Conselho de Ministros).

O líder da UNITA defendeu que o anúncio da revisão da CRA deveria ter sido antecedido de uma discussão com a sociedade civil e a pretensão de revisão deveria ser anunciada no Parlamento. Adalberto Costa Júnior considerou também “não existir na proposta de revisão questões relativas ao sistema eleitoral e demais aspectos fundamenta­is da sociedade como a Lei de Terras, um aspecto fundamenta­l toda a hora questionad­o”.

“É nossa leitura que esta iniciativa tem como objectivo fundamenta­l ganhar tempo para reverter o quadro negativo em que se encontra a figura do Presidente e do próprio MPLA tendo o propósito do adiamento das eleições. O que ouvimos é o adiamento para 2024 e eu digo aos angolanos que nem isto nos traz segurança”, concluiu.

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ABEL CHIVUKUVUK­U, COORDENADO­R DO PRA-JA
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CONFERÊNCI­A DE IMPRENSA TRIPARTIDA­W, BD, PRA-JA E UNITA
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