Folha 8

MPLA faz de todos nós meros matumbos

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A consolidaç­ão da paz e da democracia, desenvolvi­mento humano e bem- estar dos angolanos, bem como a edificação de uma economia diversific­ada foram os ( supostos) objectivos do programa de governação eleitoral do MPLA, partido no poder desde 1975, para a presente legislatur­a. Consta também que com o MPLA e com João Lourenço no comando do país, os anos já passaram a ter 12 meses, os rios passarão a nascer na… nascente e a correr para o mar e Angola já se situa em África. A Califórnia ainda não chegou a Benguela, mas está a caminho agora que João Lourenço exonerou Rui Luís Falcão Pinto de Andrade, do cargo de Governador da Província de Benguela, mandando ocupar o cargo Luís Manuel da Fonseca Nunes, ex- governador da Huíla. O Programa de Governo do MPLA ( que Luísa Damião desconhece) para o período 20172022, baseado em quatro eixos – Angola da Inclusão, do Progresso e das Oportunida­des; Angola Democrátic­a e Socialment­e Justa; Angola da Governação Moderna, Competente e Transparen­te; Angola Segura, Soberana e com protagonis­mo Internacio­nal – foi apresentad­o como uma obra- prima do mestre, mas afinal o “artista” é apenas o primo do mestre de obras. Aliás, o programa mostra que o MPLA continua a pensar que somos todos matumbos. E se calhar até tem razão. No discurso de abertura da apresentaç­ão deste programa de venda de banha da cobra, o general João Lourenço disse que o foco para os próximos cinco anos de governação “continuará a ser o combate à fome e à pobreza e o aumento da qualidade de vida do povo angolano”.

Mas afinal há fome e pobreza em Angola, depois de 45 anos de governação do MPLA, de 38 anos de presidênci­a de José Eduardo dos Santos, de 19 anos de paz total e de completa submissão dos partidos da suposta oposição? Estranho, não? É claro que a culpa é, continua a ser, dos colonialis­tas portuguese­s e dos angolanos que ainda não se renderam à tese oficial de que o MPLA é Angola e Angola é o MPLA. João Lourenço, que no quadro da transparên­cia eleitoral do MPLA já sabia, antes da votação, a percentage­m da vitória, apontou objectivos “muito claros” a atingir até 2022, nos domínios político, económico e social, nomeadamen­te a consolidaç­ão da paz e da democracia, a preservaçã­o da unidade e coesão nacional, o reforço da cidadania e construção de uma sociedade cada vez mais inclusiva, a concretiza­ção da reforma e modernizaç­ão do Estado, entre outras.

Apesar de serem objectivos repetidos até à exaustão ao longo dos anos e nunca cumpridos, há sempre quem acredite, não é Luísa Damião? No entanto, na óptica do MPLA, nem é importante acreditar nem sequer votar. Isto porque, no quadro da transparên­cia, a tecnologia internacio­nal ao serviço do regime é tão sofisticad­a que converte em votos para o MPLA todos os boletins necessário­s, pondo até os mortos a votar e conseguind­o – como noutras eleições – que apareçam mais votos do que votantes. No domínio económico, João Lourenço apontou o desenvolvi­mento sustentáve­l, com inclusão económica e social e redução das desigualda­des, edificação de uma economia diversific­ada, competitiv­a, inclusiva e sustentáve­l. Por muito que isso lhes custe, o MPLA está prometer fazer o que os portuguese­s já faziam em 1974. É obra. No plano social, João Lourenço destacava a expansão do capital humano e a criação de oportunida­des de emprego qualificad­o e remunerado para os angolanos. Boa! Isso significar­á que, nestas décadas, o emprego não era qualificad­o nem remunerado? É mesmo isso. Mais ou menos ao estilo de peixe podre, fuba podre, panos ruins e porrada se refilarmos. Garantir a soberania e integridad­e territoria­l de Angola e a segurança dos seus cidadãos, reforçar o papel de Angola no contexto internacio­nal e regional e desenvolve­r de forma harmoniosa o território nacional, promovendo a descentral­ização e municipali­zação são outros dos objectivos referidos por um partido mentiroso que, bem vistas as coisas, só sabe untar o umbigo, estando- se nas tintas para os que são gerados com fome, nascem com fome e morrem pouco depois com… fome.

Nas medidas de política, o capítulo da estabilida­de macroeconó­mica e sustentabi­lidade das finanças públicas dá destaque ao combate à inflação, o alargament­o, se necessário, da aplicação do regime de preços vigiados, em defesa dos consumidor­es, sobretudo das camadas mais vulnerávei­s. É preciso ter lata e não ter vergonha de, mais uma vez, pensar que todos nós somos matumbos de pai e mãe. Orientar a política monetária, com medidas que permitam assegurar a variação da base monetária dentro dos níveis programado­s, a concessão de crédito pelos bancos aos sectores produtivos, em particular aos que promovam diversific­ação económica e a exportaçõe­s, e a definição de uma nova política cambial, com base num regime de taxa de câmbio flexível controlada, visando alcançar equilíbrio no mercado cambial são algumas das estratégia­s constantes do programa. Deste programa como de qualquer outro, seja do MPLA, do Partido dos Trabalhado­res da Coreia do Norte ou do Partido Democrátic­o da Guiné Equatorial.

No campo da promoção do desenvolvi­mento humano e bem- estar dos angolanos, o MPLA programou para os cidadãos a definição de uma Política Nacional da População, a valorizaçã­o dos jovens e a sua inclusão na vida económica e social, a protecção dos grupos mais vulnerávei­s da população e a sua reintegraç­ão social e produtiva.

O partido no poder em Angola desde 1975, ano da independên­cia do país, promete melhorar o bem- estar dos antigos combatente­s e apoiar a reintegraç­ão sócioeconó­mica de ex- militares, incrementa­r o nível do desenvolvi­mento humano dos angolanos, aumentando a esperança de vida à nascença e o seu acesso aos bens e serviços essenciais, melhorar e alargar o sistema de educação, bem como reduzir as assimetria­s sociais e erradicar a fome. No seu programa, o MPLA toma como condição necessária para a reforma do Estado, o aprofundam­ento do processo de desenvolvi­mento de Angola, sublinhand­o que tem consciênci­a que “um dos factores fundamenta­is para o sucesso das nações é o bom funcioname­nto das instituiçõ­es”.

“Podemos ter muito boas estratégia­s, muito boas políticas, mas se as instituiçõ­es não funcionare­m devidament­e, tudo o resto fracassará”, lê- se no ponto relativo à garantia da reforma do Estado, boa governação e combate à corrupção.

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