Mandioca ao poder, já!
OGove rno ango lano escolheu o polo de Cacuso, na província de Malanje, para lançar o processo de industrialização da mandioca, com foco na produção de amido. A informação foi no 10.03 avançada pelo ministro da Indústria e Comércio de Angola, Victor Fernandes, à margem de um ‘ webinar’ sobre “As Oportunidades e desafios na Cadeia de Valor da Mandioca em Angola”, que contou com participação de especialistas nacionais, do Brasil, da Argentina e da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura ( FAO).
Victor Fernandes referiu que há cerca de um ano que começou a aposta na transformação industrial da mandioca e a realização do ‘ webinar’ tem por objectivo lançar as bases técnicas e científicas para que este desiderato se venha a concretizar. “Reunimos vários espec ia l istas , operadores do sector privado, dirigentes de várias organizações internacionais que tratam do tema da mandioca”, referiu o ministro, acrescentando que foram analisados todos aspectos, desde a produção, transformação e comercialização. O governante angolano frisou que o país tem polos industriais rurais, alguns dos quais localizados em centros de maior produção de mandioca, e, nesse sentido, para “adiantar trabalho e aproveitar aquilo que já está feito” será usado o polo de Cacuso, em Malanje, como projectopiloto.
“É a partir daí que vamos começar, de facto, o processo de industrialização da mandioca no sentido de, criando o projecto- piloto em Cacuso, partirmos daí para o resto do país, porque, felizmente, a mandioca produz- se no país inteiro”, frisou. O ministro salientou que este produto agrícola tem um conjunto de derivados, mas o país ainda não tem capacidade instalada industrial para fazer a sua produção, destacando que a aposta vai para o amido.
“É um subproduto que está também no milho, mas principalmente na mandioca, e que neste caso em particular, já tem inclusive quem pode ficar com essa produção. Porque nós inaugurámos há pouco tempo indústrias têxteis e os têxteis precisam de muito amido para fazerem as gomas dos tecidos. Temos aqui já quem compra, falta quem produz o amido”, salientou. Victor Fernandes vincou a necessidade do envolvimento de parceiros privados, tendo em conta que o objectivo é garantir que sejam eles os agentes de facto a participarem do processo produtivo.
Por sua vez, a representante da FAO em Angola, Gherda Barreto, lembrou que a organização das Nações Unidas está a promover a mandioca como alimento do século XXI, cultura que tem respondido às crises globais, nomeadamente a seca e os preços dos alimentos. “Angola é um dos dez países do mundo produtores de mandioca, que tem uma grande oportunidade de industrializar a mandioca, com a inclusão dos agricultores familiares”, referiu a responsável, frisando que os mesmos são apoiados pela FAO, através das escolas de campo, em cooperação como Ministério da Agricultura e Pescas de Angola.
“Esses agricultores nós apoiamos para que trabalhem modelos associados que estão a ser formados, capacitados, para passarem de agricultores familiares a agricultores comerciais”, indicou.
Angola é um dos dez países do mundo produtores de mandioca, que tem uma grande oportunidade de industrializar a mandioca
Através do Programa AGRO-PRODESI , prosseguiu Gherda Barreto, a FAO está a apoiar o desenvolvimento de cadeias de valor, entre os quais a cadeia de valor da mandioca, onde os diferentes atores, que vão desde os agricultores aos comerciantes, serão capacitados. Angola tem uma área cultivada de 1,1 milhão de hectares de mandioca, tendo na época agrícola passada sido colhidos 928.512 hectares, representando uma produção anual de 92%, com uma taxa de crescimento de 2,4% anual e uma produtividade média de 11,9 toneladas, liderando a produção a região norte com 66,2%, seguida do centro ( 29,1%) e o sul ( 4,7%).
À frente da produção estão as províncias do Uíje, com cerca de 20% da produção total, Malanje ( 14,6%), Cuanza Sul ( 9,1%), Moxico ( 8,7%) e Lunda Sul ( 6,8%). Na sua intervenção, o director- geral do Instituto de Desenvolvimento Agrário de Angola ( IDA), David Tunga, disse que o país continua muito aquém da sua capacidade de produção da mandioca, tendo em conta as suas potencialidades, sendo necessário encontrar estratégias e alguma visão para impulsionar este sector. Segundo David Tunga, o país enfrenta desafios na produção deste tubérculo, um dos quais a degeneração dos clones existentes, a presença de pragas, que causam baixos rendimentos, a variedade de longo ciclo vegetativo e com baixo teor de amido, bem como a necessidade de se disseminar e trazer variedades melhoradas para se alcançar a produtividade esperada. O responsável frisou a importância de se actualizar as atuais variedades cultivadas no país, que precisam ser melhoradas relativamente à pesquisa sobre a sua resistência a doenças e pragas.
“Nos cultivados presentes no país vamos observar com muita frequência muitas viroses, bacterioses e a mosca branca”, disse David Tunga, apontando perdas na produtividade à volta dos 14% a 24%, devido à presença de doenças e pragas, como por exemplo a podridão, doença muito disseminada no país, nas regiões do Bengo, Uíje, Malanje, Lundas Norte e Sul.
“A podridão muitas vezes resulta do excesso de tempo que as raízes permanecem no solo. Se nós pudermos encetar estratégias que viabilizem a sua extracção, transformação e comercialização vamos melhorar a renda das famílias e também contribuir para o aumento de divisas para o país, tendo em contra a possibilidade de exportação”, disse. O Governo angolano traçou como meta atingir até 25 milhões de toneladas de mandioca nos próximos cinco anos, mas para isso deverá introduzir novas variedades da mandioca, aumentando assim o rendimento por hectare para pelo menos 20 toneladas.
“A mandioca é uma cultura de segurança alimentar em Angola, pelo comportamento e pela cultura das nossas populações, [ porque] enquanto na produção de cereais a população faz a colheita de uma só vez, no caso da mandioca extrai do solo apenas as raízes para o seu consumo num determinado período, o que faz com que a sua conservação assegure a disponibilidade desse alimento durante muito tempo, entre um a dois anos”, explicou.