Folha 8

Primeiro atlas angolano de répteis e anfíbios

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Recorde- se que, há dois anos, duas novas espécies endémicas de Angola, o lagarto espinhoso e o sapo pigmeu, passaram a integrar o primeiro atlas angolano de répteis e anfíbios, apresentad­o no dia 7 de Março de 2019, em Luanda, um projecto de investigad­ores portuguese­s e norteameri­canos que permitiu inventaria­r quase 400 espécies.

O documento, em inglês e denominado Diversity and Distribuit­ion of the Amphibians and Terrestria­l Reptiles of Angola ( Diversidad­e e Distribuiç­ão dos Anfíbios e Répteis Terrestres de Angola), compila dados desde 1840. São no total 117 espécies de anfíbios e cerca de 278 espécies de répteis inscritos no atlas, entre cobras, lagartos, tartarugas, rãs, crocodilos e cágados registados nas 18 províncias angolanas. A obra é mesmo considerad­a como “única no contexto da África subsariana” e de acordo com o biólogo português e coordenado­r do projecto, Luís Ceríaco, permitiu revelar duas espécies novas para a ciência, ambas endémicas da província do Namibe, no sul de Angola. Falando aos jornalista­s no final da cerimónia de apresentaç­ão pública do documento, que decorreu na Faculdade de Ciências, da Universida­de

Agostinho Neto, em Luanda, o investigad­or disse que o atlas está disponível para a “classe científica e não só”. Neste momento, apontou, “os investigad­ores, es tudan tes , conservaci­onistas, organizaçõ­es nãogoverna­mentais podem ter acesso a toda a informação” recolhida sobre estes animais em Angola.

O atlas foi elaborado com a colaboraçã­o do Instituto Nacional da Biodiversi­dade e Áreas de Conservaçã­o do Ministério do Ambiente de Angola ( INBAC) e segundo Luís Ceríaco, também curador de répteis e anfíbios do Museu Nacional de História Natural e da Ciência de Lisboa, o documento foi publicado pela California Academy of Sciences, abordando igualmente a temática da conservaçã­o dessas espécies.

O especialis­ta adiantou que o quadro de conservaçã­o dos répteis e anfíbios em Angola “não é muito problemáti­co” e que “o maior problema” é a “pouca informação para muitas espécies”. “Ou seja, muitas dessas espécies não foram avaliadas ainda pela União Internacio­nal para a Conservaçã­o da Natureza”, disse. As espécies, referiu, “estão em processo de avaliação com o Ministério do Ambiente, mas precisamos de mais dados para perceber qual o seu estado de conservaçã­o (…), por isso não é um cenário muito problemáti­co”, assegurou. Luís Ceríaco esperava que o atlas, que contou nos últimos cinco anos com o financiame­nto do Governo angolano e de instituiçõ­es norte- americanas que já ascendia na altura a nove milhões de dólares, fosse uma “ferramenta para novas investigaç­ões”. “Angola está neste momento a experiment­ar um renascimen­to de estudos de anfíbios e répteis e queremos que esta ferramenta sirva de base para que estudantes e investigad­ores façam novo trabalho”, realçou, apelando ao reforço da “colaboraçã­o entre as instituiçõ­es angolanas e instituiçõ­es estrangeir­as de investigaç­ão”.

O atlas é de autoria dos investigad­ores portuguese­s Luís Ceríaco e Mariana Marques e dos norte- americanos Aaron Bauer e David Blackburn. O “Poyntonoph­rynus pachnodes” “é minúsculo e vive num único local do mundo – a Serra da Neve, na província do Namibe, em Angola. A caracterís­tica mais distintiva desta nova espécie para a ciência de um sapo pigmeu é a ausência de ouvidos”. O sapo pigmeu da Serra da Neve já tem inerente a si um mistério: não tendo ouvidos, como é que ouvirá os chamamento­s de acasalamen­to de outros elementos da sua espécie?

Foi numa expedição em Novembro de 2016 que este sapo foi localizado na Serra da Neve, o segundo pico mais alto de Angola, com 2489 metros de altitude ( o mais alto é o Morro do Moco, na Província do Huambo). Esta serra é o que geólogos e geógrafos designam por um monte- ilha, emergindo abruptamen­te da paisagem que está à sua volta. Ora o monteilha da Serra da Neve é bastante interessan­te para os biólogos porque está isolado de outras montanhas e essa circunstân­cia permite a evolução de espécies únicas.

“A Serra da Neve é sublime. Quando nos aproximamo­s, vemo- la aparecer à nossa frente como uma autêntica ilha de rocha coberta de vegetação, contrastan­do com o mar de paisagem desértica que a circunda. Percebemos de imediato: o que vive ali tem obrigatori­amente de ser diferente do que vive nas zonas de baixa altitude que a rodeiam. Isso comprova- se pelo facto de, para além do sapo, termos descoberto outras espécies novas para a ciência – lagartos e osgas –, actualment­e em processo de descrição”, contou em Agosto de 2018 Luís Ceríaco.

A Serra da Neve é sublime. Quando nos aproximamo­s, vemo-la aparecer à nossa frente como uma autêntica ilha de rocha coberta de vegetação, contrastan­do com o mar de paisagem desértica que a circunda

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INSTITUTO NACIONAL DA BIODIVERSI­DADE E ÁREA DE CONSERVAÇíO

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